23 maio 2006

Os lápis Viarco e as memórias (algumas) da infância...


Hoje, ao almoço – uma saladinha…alface, tomate, e umas folhas verdes chamadas rútulas (que esta história do colesterol tem de ser combatida…) leio, como de costume, o “DN” e eis que me dá um “baque”: ali, a cores, revisitados, os lápis “Viarco” num artigo invocativo dos 70 anos da respectiva fábrica a qual, afinal, ajudou uma geração inteira a escrever…timidamente dei os meus primeiros passos na escrita com um lápis bonito, às cores, com uma cabecinha vermelha…vejam lá o que nós guardamos na nossa memória!

Lembro-me da minha primeira ida para a Escola Primária, um edifício lindo, uma moradia – Estado Novo já se vê… - vestido com uma linda bata branca, acho que se chamava "bibe"... e um grande "D" azul nela bordado como só as mães sabem fazer... e dos cuidados que coloquei nos meus “pertences”: a minha mala era de um cinzento claro, rígida, com um fecho que fazia um especial “clique” quando fechava, e uma pequena pega castanha, albergando o dito lápis, a caneta tinta permanente (obrigatória!), uns cadernos todos bonitos, alguns com aquelas linhas azuis, duplas, para nós aprendermos a desenhar a letra de forma uniforme (creio que isso hoje é peça de museu…).

Há que séculos não via tais lápis! Habituado à caneta, “esqueci” este imaginário, que sempre sobrevive, afinal, no subconsciente de cada um de nós.

A acompanhar o texto, vem uma fotografia, na qual ainda distingo umas caixinhas, com uma gravura de dois rapazinhos, à janela, um até sentado no parapeito da dita, e um outro, mais recolhido, a fazer bolas de sabão – uma brincadeira muito inocente dos anos 60…e ainda uma outra com uma menina, creio que no campo e a brincar com os seus lápis de cor…quantas destas caixinhas não terei usado!...


Também diviso uma caixinha com um rapazinho fardado a preceito da Mocidade Portuguesa….mas isso são outros contos…

Paradoxalmente, parecia um mundo mais gentil do que aquele que hoje nos é dado viver, pese embora a minha infância atribulada…

Mas nós, pequeninos, o que podemos modificar? Nada! Somos impotentes perante o mundo dos adultos…Resta-nos, enquanto crianças, esperar que nos amem!

7 comentários:

valmoster disse...

Sortudo. A mim, em meados de 60, calhou-me uma pedra de lousa e um riscão. Apagava-se com cuspo!!!!

C.M. disse...

Pois...a sorte é relativa...tive outros azares, bem piores...

C.M. disse...

Perdão, não terminei a frase...então, lá vai:

Pois...a sorte é relativa...tive outros azares, bem piores... bem piores do que ter de escrever numa pedra de lousa e apagar com cuspo...como perder os meus pais cedo demais, numa idade em que precisava desesperadamente deles; como ter ficado totalmente desamparado, à deriva, sem ninguém que me pudesse orientar e valer nesta selva que, dizem, é a vida... sem esperança, sem "cheta" para nada, que os poucos bens de família esfumaram-se...nem sei como pude renascer das cinzas...da catástrofe que me atingiu...isto é ser sortudo?...

M.C.R. disse...

Eu andei na escola entre 47 e 51. Na escola de Buarcos. entre cem crianças não havia dez calçadas. E lousas toda a gente tinha. E lápiz claro. Suponho que eram Viarco. É que era obrigatório o desenho.
As cvanetas eram de aparo. Acho que as de tinta permanente só no liceu. Era como os relógios. Só no davam um relógio quando achavam que érams responsáveis e isso era sempre depois dos 10/12 anos.
De resto país era pobre e esses bens a que hoje não damos importancia eram caros. Refiro-me às canetas de tinta permanente e aos relógios.
às vezes penso que as pessoas não acreditam nestas histórias que vou por aqui contando. Acham que dramatizo, que me armo em neo-realista.
O Portugal de 40/50 era um país pobre, profundamente pobre e triatonho. Até os ricos pareciam pobres! Aliás a exibição da riqueza era considerada muito mal. De mau gosto, mesmo.

C.M. disse...

Plenamente de acordo, MCR. Eu compreendo-o...hoje então abunda para aí o mau gosto...mas eu lembro-me que havia muita pobreza, mas digna...e aqueles mais "remediados" como então se dizia, viviam sem "loucuras" como hoje se praticam, dando valor precisamente àquilo que o merecia: havia valores, temperança, e muito trabalho. As mais das vezes também não se via o fruto desse trabalho...mas voltando à infância, dávamos valor - eu dei! - às pequenas coisas, como uns simples lápis, coloridos, nas suas caixinhas alegres...às prendas mais simples...hoje, eu vejo pelos filhos de amigos meus, que nada satisfaz os miúdos…são mais infelizes, por tudo terem e …tudo quererem, sem darem valor a ..nada!

MCR: como Vexa, eu também, se for preciso, faço-lhe companhia, e também me armo em neo-realista, e posso testemunhar muita coisa do dia-a-dia desse Portugal que, efectivamente, tendo feito coisas fantásticas, não passou, contudo, de um País cinzento...e eu, miúdo, senti na pele esse mesmo cinzentismo...

M.C.R. disse...

DLM
Se V. me volta a chamar Vexa vou aí e dou-lhe com um tocheiro dos grandes, desses dessas igejas imponentes que V frequentará assiduamente.
Nem Vexa nem Sexa nem apodo que mecha (com o meu nervoso miudinho)

C.M. disse...

Mas ó MCR, eu aqui utilizo o termo Vexa em tom carinhoso...nada tipo oficial...um abraço!