02 maio 2006

porque e por que

A prima Maria Manuel nas horas vagas é professora de português. Vai daí viu a dúvida do Carteiro e com a indolente rapidez que caracteriza a família respondeu para a minha caixa de correio. Diz ela que POR QUE é sempre interrogativo pelo que o porque da mesinha redonda era asneira grossa. E pronto! Ah, esquecia-me: parece que alguém citaria Lindley cintra (na nossa discussão) coisa que ela aplaude. Não fui eu, juro! Portanto ficamos assim Querem perguntar? Escrevem o por e depois o que deixando um elegante espaço no meio. Estão a responder? Aí vai disto: tudo junto, porque. Viram?
Ora aqui está um postal bem curto, É para que saibam que também consigo fazê-los assim, maneirinhos.

13 comentários:

C.M. disse...

Realmente! Quem tem primas assim, tem tudo...

o sibilo da serpente disse...

Obrigado MCR e também à prima Maria Manuel.
Eu confesso que escrevia assim por intuição. Achava que era "por que"... porque sim. Mas (já) não sei o bastante de gramática para sustentar a tese. Valeu o camarada Anto quando, citando a (desconhecida, para mim) Lena, falou nos advérbios de modo. Seguindo a pista, fui encontrar a tal gramática breve de Lindley Cintra e achei que estava certo.
Outra vez: obrigado. É que é uma palavra que escrevemos todos os dias e não custa nada perguntar quando temos dúvidas para não escrever mal.

C.M. disse...

Em tempo: creio que foi o José que citou o Prof. Lindley Cintra. Mas, já agora, e “para que conste nos autos”, na mesinha onde tenho o "pc" (salvo seja) poisa um exemplar da "breve Gramática Do Português Contemporâneo", da autoria de Celso Cunha e Lindley Cintra - edição Sá da Costa, 1991.

Avisa-se que o simples facto da sua posse, não implica o perfeito conhecimento da mesma…

Já agora (é o que faz ler o Incursões!) fui desencantar uma gramática velhinha, dos tempos do meu Liceu – Título (ameaçador): Compêndio de Gramática Portuguesa; Autores: José Nunes de Figueiredo (Professor-Metodólogo do Liceu Normal de Coimbra) e António Gomes Ferreira [Professor-Metodólogo do Liceu Normal de Lisboa (não sei se seria familiar do poeta José Gomes Ferreira…)]. Edição de 1968 (estávamos na Primavera de Praga, que me lembro muito bem das respectivas notícias na TV a preto e branco…). Preço: Esc. 20$00 (felizmente o teclado do pc ainda tem o símbolo do escudo, não vá ainda fazer falta…). Bem, vamos ao que interessa. Então, a fls.262, temos que “porque” é uma proposição subordinada causal. Exemplo: “As estrelas parecem pequenas, porque estão muito distantes” (estes exemplos inocentes…).

Um exemplo “mariola”: Marcello Caetano foi um grande administrativista porque foi ele que reinventou todo o Direito Administrativo Português.

E esta? Bem chamem a Prima do MCR que ela é que tem juízo...

C.M. disse...

Peço desculpa ao nosso carteiro. É o que faz confiar na memória. Fopi ele, então, que citou o Prof. Lindley...as minhas desculpas.

o sibilo da serpente disse...

Pois fui, caríssimo Delfim, no postal "Dúvidas", um pouco mais lá para baixo. Reproduzo aqui para que se perceba melhor o raciocínio:

«(...)A propósito: "porque deambulam os homens..." é um advérbio de causa, que inicia uma pergunta, e deve estar escrita assim! Lena "dixit", e eu acredito! (...)»

O nosso camarada ANTO, em comentário a postal abaixo, deixa o seu contributo sobre a questáo que aqui lancei.

A reboque, fui procurar uma «Breve gramática do Português Contemporâneo - Celso Cunha e Lindley Cintra», que anda por aí. E li:
«Advérbios interrogativos. Por se empregarem nas interrogações directas e indirectas, os seguintes advérbios de causa, de lugar, de modo e de tempo são chamados INTERROGATIVOS:
a) DE CAUSA: por que?
Por que não vieste à festa?
Não sei por que não vieste à festa.
(...)»

Ora, se se diz: Por que não viste à festa?, não será que se deve dizer: Por que deambulam os homens...?

Desculpem lá se estou a ser chato com a questão. Mas esta é uma situação que nos surge todos os dias e eu gostava mesmo de saber...

27/4/06

M.C.R. disse...

Nunes de figueiredo foi meu professor de Latim no sexto ano do liceu D João III, em Coimbra. antes de eu ser condenado ás galés de colégios internos. Era um excelente professor. O Anto ao citar uma Lena, citava a mulher que também é professora e também deve saber da poda.

o sibilo da serpente disse...

Ehehehe. Siga o debate, agora entre Lena e Maria Manuel.

o sibilo da serpente disse...

Ah. Eu andei anos a escrever ilacção, quando queria escrever ilação...

C.M. disse...

Ora muito bem: ainda vou ter mais cuidado com esta minha velhinha gramática...uma preciosidade!Grandes Professores que havia, não é verdade, MCR? (sem desprimor para os de hoje, que os deve haver bons).Bem, também havia muitos bons alunos...(gaba-te cesto!).

M.C.R. disse...

Ai lá vou ter que comprar uma gramática... aos sessenta e quatro dá-me mais vergonha do que ir por preservativos quando se era novo...


a propósito: no quadrado "word verification há agora ao lado um sinal de cadeira de rodas com com pessoa dentro. É para todos ou só para os que como eu são trengos nisto de computadores e estão quase a passar à 3ª idade?

josé disse...

"por que" é um advérbio?!!

Agora não tenho tempo, mas prometo que vou estudar melhor a questão que não me parece resolvida.

josé disse...

Mais um contributo para a polémica:

No caso concreto, o “Porque” subentende a palavra “motivo”, logo, quanto a mim, está bem escrito…
Não faz sentido substituir o “que” de “por que”, por um eventual, “por qual”, pois não se diz “Por qual é que os homens se movem…?”
Mas já faria sentido se se perguntasse: “Por que motivo é que os homens se movem…?”

O “Porque” pode ser um advérbio, exprimindo circunstâncias de causa em frase interrogativa; por que motivo, por que razão. Assim, escreve-se “Porque não respondes?”
Pode também ser uma conjunção coordenativa, ligando duas orações coordenadas- “entre, porque já é tarde”.
Ou ser uma conjunção subordinativa adverbial, introduzindo orações que exprimem circunstância adverbial da oração principal- “A juventude ás vezes erra, porque é muito ansiosa”
Ou ser ainda uma conjunção final, pouco usada- “fez tal coisa, porque o inimigo o visse e se assustasse”.

Como conjunção causal e como conjunção final, o “Porque” deve escrever-se junto. O POR e o Que devem escrever-se separados, quando este tem função de pronome relativo- “ percebi logo por que rias” . Também deve escrever-se separado quando introduz orações interrogativas, do tipo “Por que motivo”, “por que razão”.

Sendo assim…por mim, vou pelo Houaiss que foi de onde tirei todo este arrazoado( algumas vezes ipsis verbis) e é uma fonte limpa de esclarecimento.
Porque( por que razão) não vão ler também?! Porque( por que motivo) é que não o fazem?
Ora, no HOuaiss, vem uma explicação para a diferença de uso entre o porque e o por que.
Escreve-se por lá que o por e o que escrevem-se separados , sendo interpretados com função de pronome interrogativo e não com função de advérbio interrogativo como em Portugal ( “por que você não voltou logo?”)

Ora aqui estará a razão para a discussão: Portugal e Brasil fizeram um acordo ortográfico em 1990. O Houaiss dá conta disso e lamenta que esse acordo ainda não esteja implantado ( note-se que se escreve implantação e não implementação, para minha satisfação).

josé disse...

"Escreve-se por lá que o por e o que escrevem-se separados , sendo interpretados com função de pronome interrogativo e não com função de advérbio interrogativo como em Portugal ( “por que você não voltou logo?”)

Queria dizer que se escreve lá que no Brasil o por e o que escrevem-se separados, sendo interpretados(...)