Há já uns anitos, estava a minha filha a frequentar talvez o 2º ou 3ª ano do ensino básico num conhecido colégio do Porto. Numa noite qualquer, vi-a com dificuldades para resolver um qualquer problema dos trabalhos de casa e decidi ajudar. Já não me recordo o que era. Só que eu também não consegui resolver e fiquei com dúvidas que alguém conseguisse. Para sossegar a criança e para tentar chamar a atenção da professora, decidi incluir no caderno uma nota que dizia: «Srª Professora: com o devido respeito de quem não percebe nada de ensino, creio que este exercício não tem solução. Com os melhores cumprimentos».
Dias depois, a professora interpelou a mãe da minha filha para lhe dizer: «Não gostei nada que o seu marido me tenha mandado um recado a dizer que eu não percebo nada de ensino!». A mãe ficou, obviamente, perplexa. Porque tinha lido o bilhete sabia que eu não tinha dito o que a professora percebeu. E explicou-lhe o sentido. E a professora percebeu.
Tenho dúvidas que um professor que não percebeu o sentido de uma tão clara mensagem, possa ter muito que ensinar. Mas, ainda assim, para mim os professores têm (quase)sempre razão. Daí que quando vou àquelas intermináveis reuniões de pais, fique calado, a tentar aprender alguma coisa, enquanto outro pais fazem longas dissertações de ciência sobre a teoria geral do ensino e outras coisas mais básicas, mas sempre intermináveis. Numa quase disputa para quererem demonstrar que eu sei mais do que tu sobre este assunto.
Tudo isto vem a propósito da anunciada medida governamental que pretende colocar os pais e encarregados de educação a fazer avaliações dos professores. Com o devido respeito de quem não percebe nada de ensino, parece-me uma ideia estapafúrdia. Duvido que a generalidade dos pais tenha, a não ser em casos extremos - que os responsáveis escolares serão os primeiros a levar em linha de conta - capacidade ou distanciamento para a tarefa.
Aceitar a ideia como boa, será o mesmo que defender que, no fim de cada julgamento, se dê aos sujeitos processuais um formulário onde, através de cruzinhas, se pronunciem sobre o desempenho dos advogados e dos magistrados. Ou será que esta era uma boa ideia?
3 comentários:
Sermos governados por idiotas é duro!!
Carteiro: um abraço. A minha solidariedade vai em post acima.
Gostei do postal e sobretudo da comparação final: o sentido da avaliação dos pais de alunos chumbados não deveria ser muito diferente do dos defensores de arguidos condenados...
O pior é que estas propostas se calhar são mesmo feitas a sério, como aquela dos magistrados sem o curso de direito! Mas se do ministro ABC já pouco nos espanta, da Senhora Ministra da Educação esperava mais bom senso, até porque a ele já nos habituou!
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