04 junho 2006

Hábitos

Foi sempre assim, ou, pelo menos, já não me lembro que tenha sido de outra forma: aos domingos, a partir de meio da tarde, entristeço. Começo a pensar com mais intensidade no dia de amanhã, com os problemas de todos os dias para resolver, os prazos, as consultas, os telefonemas, as incertezas sobre alguns caminhos a seguir.

Dizem-me que não sou caso único. Acredito. Só que as outras pessoas que são assim, costumam desligar durante o fim de semana. Eu não. Lamentavelmente. E ainda lamento mais porque, cada vez mais concluo que nem durante as noites consigo desligar, no meu sono intermitente.

3 comentários:

C.M. disse...

Pois, caro Amigo, eu creio bem que, nos dias de hoje, o problema é mesmo "as incertezas sobre alguns caminhos a seguir"...e não há poesia que nos salve!

M.C.R. disse...

Caro Carteiro

V. escreve (e muito bem, mas isto até era escusado dizê-lo) sobre um tema que abre um dos melhores livros de poemas que conheço (Paroles de Jacques Prévert) É um poema longuíssimo (11 páginas) onde o autor inventaria umas centenas de tipos humanos (só por ele vale a pena ter o livro) e que termina assim
os que nunca viram o mar
os que cheiram a linho porque tabalham o linho
os que não têm água corrente
os que se dedicaram ao azul do horizonte
os que deitam sal sobre a neve por um salário absolutamente derisório
os que envelhecem mais depressa que os outros
os que se não abaixaram para apanhar o alfinete
os que rebentam de aborrecimento num domingo à tarde
porque vêem vir a segunda feira
e a terça, e a quarta, e a quinta e a sexta
e o sábado
e o domingo à tarde.

desculpe a tradução às três pancadas mas o seu texto reflecte tanto isto (isto e o que está para trás no poema que não é possível reproduzir) que não resisti à tentação de fazer este comentário.
E depois Prévert não é desonra nenhuma como comparação !!

o sibilo da serpente disse...

Na mouche. Ambos. Abraços.