22 junho 2006

O fio vermelho

Preciso de ir ao médico. Melhor: preciso de ir a vários médicos. Vejo mal ao perto, ando atacado de uma alergia quase permanente que se acentua por este tempo, já ouvi melhor, preciso de fazer análises para medir o colesterol, os pulmões não devem estar muito rosados, as tensões andam um bocado altas. Em suma: não tenho muito por onde se pegue.

Mas há qualquer coisa mais que me preocupa. Num qualquer momento da vida, algo circuitou dentro de mim, assim, como se me tivessem arrancado um fio, o fio por onde circulam os afectos. Não, não são os afectos da amizade, nem do amor que há entre pais e filhos e filhos e pais. Esses continuam por aqui, eu sinto-os, porque continuo a ter uma enorme capacidade de amar os outros e sobretudo uma enorme capacidade para ter compaixão. Acho que o fio arrancado é um fio vermelho, o fio das paixões que duram mais do que o tempo que dura um fósforo aceso.

Ando à procura desse fio, que é vermelho, eu sei que é, embora não saiba por quê, para tentar ligá-lo outra vez, porque só assim se atinge a plenitude.

5 comentários:

M.C.R. disse...

Meu caro Amigo
Eu não sei se foi de propósito ou por um desses raros e felizes acasos de que V é useiro e costumeiro mas citou algo que me toca tão profundamente quanto o seu belo texto: The Thin Red Line um romance de James Jones que deu um film de Terrence Malick. O romance é muito interessante, o filme não sei que nunca o vi...
bom regresso, Carteiro, V fazia uma falta dos diabos.

C.M. disse...

Meu Amigo: isso que diz, que tem "uma enorme capacidade de amar os outros e sobretudo uma enorme capacidade para ter compaixão" são os requisitos para a Bondade e para a prática do Bem! Vale dizer, para a santidade!

Ficamos, aqui no blog, para além do pobre frei das cinco chagas ( o MCR é que tem destas coisas...e depois queixa-se...),com o são Coutinho...

M.C.R. disse...

DLM V. podia ao menos por São, com letra grande. E já agora São Quim Manuel de Soalhães, protector de estagiárias novas e de bom andar...

jcp (José Carlos Pereira) disse...

Não li o romance, mas vi o extraordinário filme de Terrence Malick.

o sibilo da serpente disse...

Pois, MCR, foi mesmo um raro e feliz acaso. De facto, nem vi o filme nem li o livro. Confesso, até, que não conheço nem um nem o outro. Mas, já agora, tenciono ler. Ou ver.

Quanto ao mais: eu sinto em mim uma certa santidade, mas, seja, por que motivo for, acho que ninguém acredita nela. Mas não desisto.