29 julho 2006

Em resposta a quem nunca tem dúvidas, chamo os reforços

Quando, Sábado passado, abri o Expresso e li a crónica do primo João (Pereira Coutinho), sorri e achei que aquele era o registo, eu que ando farto de lhe dizer que ele tem de voltar ao estilo inicial - corrosivo! Ele costuma olhar-me de soslaio quando lhe digo estas coisas. Mas ouve-me, que eu sou mais velho e, aqui para nós que ninguém nos ouve, talvez tenha sido um dos principais culpados por ele andar ligado aos jornais em vez de ser um desgraçado advogado.

Soube há pouco, por interposta pessoa, que é mesmo assim, e que, por ser corrosivo, foi o mais comentado da edição passada do Expresso. Liguei-lhe há minutos: desce ele, a pé, uma avenida de Lisboa e acrescenta que a semana foi dura. Não deixou a coisa pelo recatângulo e, na sua coluna na Folha de São Paulo, andou a escrever cartas aos terroristas. Milhares de comentários. Também me contou que escreveu sobre a guerra civil de Espanha e comprou uma guerra com o Embaixador. Boa, João! Por aqui, as pessoas não têm dúvidas de que os sionistas são uns bandalhos assassinos. Na minha suprema ignorância, eu tento ser equilibrado e suscitar as minhas dúvidas.
Mas, para os que aqui andam e não têm dúvidas, eu aproveito-me de ti, que também não tens dúvidas. Temos que ser uns para os outros, pá.

Por isso, deixo ficar aqui as palavras iniciais do teu texto na Folha (Ah, e diz ao Alberto Gonçalves que li a crónica dele esta semana na Sábado e que ele está em grande forma. Ainda começo a comprar a revista por causa dele...).

Caros senhores terroristas

Começou a época das manifestações. Leio agora que, só em Londres, milhares de pacifistas saíram à rua para marchar contra a guerra no Oriente Médio. Nada a opôr. Marchar contra a guerra é simpático. Mais ainda: é cómodo. Você pode não saber nada sobre o conflito, nada sobre as razões do conflito, nada sobre as consequências do conflito. Mas é contra. Ser contra é a absolvição do pensamento: uma forma tranquila de colocar a flor na lapela do casaco e mostrar a sua vaidade moral ao mundo. Hitler invadiu a Polônia, exterminou milhões de judeus e procurou subjugar um continente inteiro? O pacifista é contra. Contra quê? Contra tudo: contra Hitler, contra Churchill, contra Roosevelt. Contra Aliados, contra nazistas. E quando os nazistas entram lá em casa e se preparam para matar o pacifista, ele dispara, em tom poético: "Não me mate! Você não vê que eu sou contra?" É provável que o nazista se assuste com a irracionalidade do pacifista e desapareça, correndo.

Capitão: "Eu não mandei você matar o inimigo?
"Soldado: "Sim, meu capitão. Mas ele era contra. Fiquei com medo."

(O resto está na Folha Online)

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