PQP a guerra
Há quarenta e dois anos, dois meses e treze dias (estas coisas assim ganham outro efeito; dá ar mais sério mesmo quando é isso mesmo o que pretendemos.) quarenta rapazolas todos estudantes em Coimbra, foram passar uma curta vilegiatura a Caxias sur mer, ou se quiserem, ao Reduto norte da Cadeia de Caxias.
Deixando de lado os porquês e os por conseguinte, a rapaziada coimbrã sob a chefia, amável e divertida, de Carlos Mac Mahon, “o mais velho”, mulato e angolano e clandestino do MPLA, lá se organizou para passar, com o possível conforto, aquela pequena provação.
Também não é esta a ocasião para narrar esses dias mas tão somente para contar que uma das coisas que diariamente se gritavam nas duas celas, unidas por um pequeno átrio, era um grito em honra dos carcereiros: E pelos guardas não vai nada?, bradava o gordo Mac e o povo sereno uivava em resposta: Piu, piu, piu, Puta que os pariu! Isto normalmente ocorria pela hora em que um par de guardas fazia uma ronda pelo corredor exterior e batia com um pau nas grades das celas para ver se a malta não as tinha serrado (!!!). Chamávamos a isto a “visita pascal” e havia mesmo um par de camafeus que cantavam partes do Tantum ergo…
Tudo isto para explicar o inicial PQP do título. E para dizer, uma vez mais do meu desamor às guerras. E para responder, de certa maneira, a uma pergunta que tem muita razão de ser e que foi feita pelo Carteiro sobre esta guerra, Israel e árabes, razões e des-razões, direita e esquerda.
Convém, antes de mais, relativizar a ideia de que a esquerda é pró-arabe e anti Israel, enquanto a direita vice versa. Era simples mas felizmente não é verdadeiro. Há direita anti israelita e pró árabe e esquerda pró israelita e anti-árabe. Isto sem sequer se falar do chamado anti-semitismo, do anti sionismo e do velho mas sempre reacendido fascismo. De facto uma boa parte, provavelmente maioritária, até, da esquerda tem uma simpatia acentuada por um Israel de kibutz, trabalhista, pleno de vítimas do holocausto, com Rabin e Shimon Peres como emblemas. Outra há que é claramente anti-sionista (isto é anti ideal do Eretz Israel, do Grande Israel , do Israel anexionista, do Israel de Sharon). Todavia, mesmo esta segunda esquerda, reconhece o direito à existência de Israel e até já vai aceitando o direito de Israel a parte de Jerusalém… De resto, basta conhecer a história das diferentes esquerdas ocidentais no século XX para ver que muitos dos líderes da esquerda europeia foram judeus, desde Léon Blum a Trotsky, para já não invocar Marx. A esquerda francesa foi pró Dreyfus enquanto a direita, aí unida foi contra o capitão condenado e finalmente inocentado graças, entre outros, a Zola e aos socialistas e republicanos franceses. Tudo isto tem de ser lido e examinado com algum critério na medida em que a opinião dos ocidentais (europeus) sobre os judeus variou de país para país. Onde os pogroms eram regra, obviamente a esquerda era menos militante na defesa dos judeus. Onde um catolicismo integrista era a regra, os judeus eram mal vistos (caso da Polónia, por exemplo). E convém não esquecer, que isto da história é terreno minado, que os países que mais sanhudamente perseguiram os judeus (Alemanha e Áustria) foram precisamente os países onde no fim do sec XIX e nas primeiras décadas do sec XX os judeus estavam mais bem integrados politica e socialmente.
E já agora, que estamos com a mão na massa, convém lembrar que os países muçulmanos deram guarida durante séculos aos judeus (aos famosos sefarades). Marrocos, Yemen, Tunísia foram até ao aparecimento do Estado de Israel modelares quanto ao tratamento dispensado às suas importantes comunidades judias. E a Turquia então foi sob certos aspectos uma verdadeira pátria para muitos dos expulsos da península ibérica.
E a direita? Por definição a direita é anti-judaica, o que também pouco quer dizer. A África do Sul racista e pró apartheid foi declaradamente amiga de Israel e por este apoiado intransigentemente. Como se vê o Estado hebraico na altura de escolher amigos também não olhava a meios e muito menos ao estatuto dos perseguidos por esses mesmos amigos. A direita americana (veja-se Bush e a sua actual posição neste conflito) adora, apoia e defende a outrance Israel. Mesmo sabendo que um só gesto deles pararia a escalada contra um Líbano, este Líbano, pró-americano e pró-ocidente! E a ironia não para aqui: É um a senhora negra quem vem, dia sim dia sim, apoiar a insensata destruição do Líbano. Ora aqui está um exemplo de solidariedade entre perseguidos! Condoleeza Rice tem, como alguém dizia, uma alma branca. Branca e do Sul dos Estados Unidos acrescentaria eu. “glory, glory Hallelujah… etc…
O jornal ABC (aqui da vizinha Espanha) bolsa ódios antigos e novos contra Zapatero só porque este deixou que lhe pusessem um keffieh nos ombros! Portanto a direita só será contra Israe4l quando este for contra os seus interesses o que não é, de todo em todo, o caso.
A questão judaica, como a questão chinesa, noutros tempos, atravessou por igual esquerda e direita, deixando nestas um rasto de adeptos e de adversários. Ou por outras palavras: a escalada actual de Israel contra um país, mais pequeno, desarmado e já com 20% da população transformada em bandos informes e desgraçadíssimos de refugiados não me suscita qualquer ira ideológica. Só indignação. E nojo! E cólera!
Deixando de lado os porquês e os por conseguinte, a rapaziada coimbrã sob a chefia, amável e divertida, de Carlos Mac Mahon, “o mais velho”, mulato e angolano e clandestino do MPLA, lá se organizou para passar, com o possível conforto, aquela pequena provação.
Também não é esta a ocasião para narrar esses dias mas tão somente para contar que uma das coisas que diariamente se gritavam nas duas celas, unidas por um pequeno átrio, era um grito em honra dos carcereiros: E pelos guardas não vai nada?, bradava o gordo Mac e o povo sereno uivava em resposta: Piu, piu, piu, Puta que os pariu! Isto normalmente ocorria pela hora em que um par de guardas fazia uma ronda pelo corredor exterior e batia com um pau nas grades das celas para ver se a malta não as tinha serrado (!!!). Chamávamos a isto a “visita pascal” e havia mesmo um par de camafeus que cantavam partes do Tantum ergo…
Tudo isto para explicar o inicial PQP do título. E para dizer, uma vez mais do meu desamor às guerras. E para responder, de certa maneira, a uma pergunta que tem muita razão de ser e que foi feita pelo Carteiro sobre esta guerra, Israel e árabes, razões e des-razões, direita e esquerda.
Convém, antes de mais, relativizar a ideia de que a esquerda é pró-arabe e anti Israel, enquanto a direita vice versa. Era simples mas felizmente não é verdadeiro. Há direita anti israelita e pró árabe e esquerda pró israelita e anti-árabe. Isto sem sequer se falar do chamado anti-semitismo, do anti sionismo e do velho mas sempre reacendido fascismo. De facto uma boa parte, provavelmente maioritária, até, da esquerda tem uma simpatia acentuada por um Israel de kibutz, trabalhista, pleno de vítimas do holocausto, com Rabin e Shimon Peres como emblemas. Outra há que é claramente anti-sionista (isto é anti ideal do Eretz Israel, do Grande Israel , do Israel anexionista, do Israel de Sharon). Todavia, mesmo esta segunda esquerda, reconhece o direito à existência de Israel e até já vai aceitando o direito de Israel a parte de Jerusalém… De resto, basta conhecer a história das diferentes esquerdas ocidentais no século XX para ver que muitos dos líderes da esquerda europeia foram judeus, desde Léon Blum a Trotsky, para já não invocar Marx. A esquerda francesa foi pró Dreyfus enquanto a direita, aí unida foi contra o capitão condenado e finalmente inocentado graças, entre outros, a Zola e aos socialistas e republicanos franceses. Tudo isto tem de ser lido e examinado com algum critério na medida em que a opinião dos ocidentais (europeus) sobre os judeus variou de país para país. Onde os pogroms eram regra, obviamente a esquerda era menos militante na defesa dos judeus. Onde um catolicismo integrista era a regra, os judeus eram mal vistos (caso da Polónia, por exemplo). E convém não esquecer, que isto da história é terreno minado, que os países que mais sanhudamente perseguiram os judeus (Alemanha e Áustria) foram precisamente os países onde no fim do sec XIX e nas primeiras décadas do sec XX os judeus estavam mais bem integrados politica e socialmente.
E já agora, que estamos com a mão na massa, convém lembrar que os países muçulmanos deram guarida durante séculos aos judeus (aos famosos sefarades). Marrocos, Yemen, Tunísia foram até ao aparecimento do Estado de Israel modelares quanto ao tratamento dispensado às suas importantes comunidades judias. E a Turquia então foi sob certos aspectos uma verdadeira pátria para muitos dos expulsos da península ibérica.
E a direita? Por definição a direita é anti-judaica, o que também pouco quer dizer. A África do Sul racista e pró apartheid foi declaradamente amiga de Israel e por este apoiado intransigentemente. Como se vê o Estado hebraico na altura de escolher amigos também não olhava a meios e muito menos ao estatuto dos perseguidos por esses mesmos amigos. A direita americana (veja-se Bush e a sua actual posição neste conflito) adora, apoia e defende a outrance Israel. Mesmo sabendo que um só gesto deles pararia a escalada contra um Líbano, este Líbano, pró-americano e pró-ocidente! E a ironia não para aqui: É um a senhora negra quem vem, dia sim dia sim, apoiar a insensata destruição do Líbano. Ora aqui está um exemplo de solidariedade entre perseguidos! Condoleeza Rice tem, como alguém dizia, uma alma branca. Branca e do Sul dos Estados Unidos acrescentaria eu. “glory, glory Hallelujah… etc…
O jornal ABC (aqui da vizinha Espanha) bolsa ódios antigos e novos contra Zapatero só porque este deixou que lhe pusessem um keffieh nos ombros! Portanto a direita só será contra Israe4l quando este for contra os seus interesses o que não é, de todo em todo, o caso.
A questão judaica, como a questão chinesa, noutros tempos, atravessou por igual esquerda e direita, deixando nestas um rasto de adeptos e de adversários. Ou por outras palavras: a escalada actual de Israel contra um país, mais pequeno, desarmado e já com 20% da população transformada em bandos informes e desgraçadíssimos de refugiados não me suscita qualquer ira ideológica. Só indignação. E nojo! E cólera!
4 comentários:
Uma boa causa para apoiar em:
www.juntosnorivoli.com
sim, essa certeza eu tenho: PQP a guerra!
É isso, MCR !
Abraço grande,
Silvia
MCR, estou sempre a aprender consigo.
Um abraço
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