(São Hermenegildo, o mártir)
Eu tenho muitos traumas. Mas há um que me perturba sobremaneira: o nome. Melhor: o facto de não ter nome. Ou melhor ainda: a dificuldade com que os outros enfrentam o facto de eu não ter nome.
Se eu me chamasse Miguel, era Miguel e pronto. Ou Pedro. Ou João. Ou Ernesto. Mas não. Os meus pais, imbuídos do mais são dos sentimentos, olharam para mim quando eu nasci e acharam que eu tinha cara de vagamente Joaquim e de vagamente Manuel. Por não terem tempo para escolher, há que registar-me como Joaquim Manuel. Eles nunca me falaram sobre o assunto, mas eu acho que foi assim. Imagine-se: Joaquim Manuel!
Nos primeiros anos, a coisa resolveu-se com alguma facilidade. Eu era o Quim Manel. Nem só Quim, nem só Manel. E ainda hoje, para os amigos que vêm de então, eu sou o Quim Manel. Para a família também, descontando as minhas tias mais novas que resolveram o trauma com um Manolo.
Quando saí do Marco, achei que não devia ser mais Quim Manel. O Manolo também não me parecia. Mas não fui capaz de optar entre o Joaquim e o Manuel. Usar os dois nomes estava fora de questão, sobretudo porque comecei a escrever nos jornais e assinar com Joaquim Manuel Coutinho Ribeiro ocupava duas linhas. Na dúvida, apontei para Coutinho Ribeiro. Achei que era suficientemente exclusivo para não criar confusões, até porque o meu irmão (que se chama João Célio, mas é o Célio) não estava no segmento.
A partir daí, institucionalizou-se o Coutinho. Passou a ser uma espécie de primeiro nome (com alguma variantes: pequeno Couto, dizia o Fiel; petit Coutain, dizia o Kiki). Fica mal, eu sei, mas foi assim que aconteceu com uma enorme naturalidade. Em Coimbra, eu era o Coutinho. No Porto, também. Para os colegas mais próximos, sou o Coutinho; para os outros, o Coutinho Ribeiro.
Claro que o problema ressurge quando a intimidade se aperta. Os homens não ligam muito a isso, mas as mulheres são mais dadas a esses preciosismos. E quando a intimidade é muita, realmente não fica muito bem um amo-te Coutinho. É pouco poético. Demasiado comercial, eu acho. A minha ex-mulher resolveu o assunto tratando-me por Ni - tal como eu a tratava -, mas isso foi antes de eu ter todos os defeitos do mundo. Agora, para alguma amigas, sou o Joaquim. Para outras o Manuel. Ou só Manel. E há ainda quem queira dar um tom mais íntimo e me trate por Mané. Grrrrr.
O trauma cresce todos os dias. O que é legítimo. E sugere-me uma dúvida: devo mudar de nome? Que tal Hermenegildo? É um nome forte, inconfundível, é nome de comandante. E de santo. E de mártir. Vá, mas deixem-se de coisas: é Hermenegildo e ponto final. Não se lembrem depois de começarem a tratar-me por diminutivos, tipo Gil ou coisas do género, que eu não alinho em palhaçadas.
Se eu me chamasse Miguel, era Miguel e pronto. Ou Pedro. Ou João. Ou Ernesto. Mas não. Os meus pais, imbuídos do mais são dos sentimentos, olharam para mim quando eu nasci e acharam que eu tinha cara de vagamente Joaquim e de vagamente Manuel. Por não terem tempo para escolher, há que registar-me como Joaquim Manuel. Eles nunca me falaram sobre o assunto, mas eu acho que foi assim. Imagine-se: Joaquim Manuel!
Nos primeiros anos, a coisa resolveu-se com alguma facilidade. Eu era o Quim Manel. Nem só Quim, nem só Manel. E ainda hoje, para os amigos que vêm de então, eu sou o Quim Manel. Para a família também, descontando as minhas tias mais novas que resolveram o trauma com um Manolo.
Quando saí do Marco, achei que não devia ser mais Quim Manel. O Manolo também não me parecia. Mas não fui capaz de optar entre o Joaquim e o Manuel. Usar os dois nomes estava fora de questão, sobretudo porque comecei a escrever nos jornais e assinar com Joaquim Manuel Coutinho Ribeiro ocupava duas linhas. Na dúvida, apontei para Coutinho Ribeiro. Achei que era suficientemente exclusivo para não criar confusões, até porque o meu irmão (que se chama João Célio, mas é o Célio) não estava no segmento.
A partir daí, institucionalizou-se o Coutinho. Passou a ser uma espécie de primeiro nome (com alguma variantes: pequeno Couto, dizia o Fiel; petit Coutain, dizia o Kiki). Fica mal, eu sei, mas foi assim que aconteceu com uma enorme naturalidade. Em Coimbra, eu era o Coutinho. No Porto, também. Para os colegas mais próximos, sou o Coutinho; para os outros, o Coutinho Ribeiro.
Claro que o problema ressurge quando a intimidade se aperta. Os homens não ligam muito a isso, mas as mulheres são mais dadas a esses preciosismos. E quando a intimidade é muita, realmente não fica muito bem um amo-te Coutinho. É pouco poético. Demasiado comercial, eu acho. A minha ex-mulher resolveu o assunto tratando-me por Ni - tal como eu a tratava -, mas isso foi antes de eu ter todos os defeitos do mundo. Agora, para alguma amigas, sou o Joaquim. Para outras o Manuel. Ou só Manel. E há ainda quem queira dar um tom mais íntimo e me trate por Mané. Grrrrr.
O trauma cresce todos os dias. O que é legítimo. E sugere-me uma dúvida: devo mudar de nome? Que tal Hermenegildo? É um nome forte, inconfundível, é nome de comandante. E de santo. E de mártir. Vá, mas deixem-se de coisas: é Hermenegildo e ponto final. Não se lembrem depois de começarem a tratar-me por diminutivos, tipo Gil ou coisas do género, que eu não alinho em palhaçadas.
4 comentários:
Hermenegildo, nem me fale em nomes. O que tenho sofrido com o meu!
Houve uma época em que me perguntavam se era alguma coisa ao Caetano. Até o almirante Rosa Coutinho, na única vez em que nos cruzamos, me fez essa graça. Também já recebi cartas para dr Marcelo Ribeiro de Sousa.
Na escola à falta de melhor alguém achou engraçadissimo chamar-me morcela.
Uma vez uma capitosa jovem lembrou-se do Mastroianni para acabar fazendo comparações muito pouco abonatórias para mim...
Chega isto ou quer mais?
Marcelo até é um nome bonito, meu caro. Fosse eu Marcelo! Era Marcelo e pronto.
ASNA: Hermenegildo é porque sou homem. Se fosse mulher, talvez optasse por Clarisse Vanessa :-)
caro Herm.
1. Permito-me discordar isto de sert Marcelo além de ser um pedantismo meio italiano, meio brailieiro, é horrível. Imagime que passo a vida a encontrar criaturas qque muito vagamente se cruzaram comigo mas que se lembram de mim por causa do maldito nome. fosse eu Luís, João, Manuel ou António que eles não se lembravam. Ou diriam conheço aquela tromba de alguma parte, mas, pronto, ficavam por aí. Claro que com este nome ainda tão incomum é um ver se te avias. E eu, pasmado, sei lá quem é o gajo que de súbito guiincha Marcelo pá há quantos anos!...
ah se eu pudesse mudar de nome mesmo retroactivamente...
E ainda por cima não acho bonito o nome, está a ver?
Eu sei, caro Hóspede, que Todos os Nomes é o título de um livro de Saramago que li e até gostei. Não sabia é que é muito apreciado em Israel. Quem diria! Agradeço a informação. Se o Saramago sabe, ainda manda retirar o livro do marcado israelita...
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