05 julho 2006

Títulos

Estou a fazer mudança de casa. Coisa que para qualquer um é obra, para mim é obra dupla. Isto porque gosto de despachar trabalho e não arrastar eternamente o que tem que ser feito. Esta característica, que à vista desarmada parece uma coisa boa, representa em algumas ocasiões um tremendo defeito, quer para mim quer para os que me rodeiam. E porquê? Simplesmente porque arrasta, a mim e a quem apanho à mão, numa sofreguidão de terminar tarefa o que, no que respeita a mudanças de casa, é muita obra! Qualquer simples mortal que já tenha passado por isso sabe do que falo.

Mas porque venho aqui falar de mudanças de casa? Simplesmente porque para embrulhar tudo o que se possa partir eu utilizo folhas de jornal. E? Dirão. Pois bem, eu tenho um método para esta tarefa (todos temos um método ou mais que um para tudo, até para embrulhar peças delicadas) e o meu método consiste em abrir o jornal na parte central e ir retirando, folha após folha, ao ritmo das peças que embrulho. Tenho o cuidado de ter o jornal aberto na direcção certa. Resultado: faço uma leitura no tempo, lendo ou relendo os grandes títulos de todo um jornal, a que se segue um outro e mais outro e mais outro. Bem, claro que a leitura que faço é só dos títulos, mas isso basta para entrar no grupo dos que o fazem no dia a dia e que depois despejam opinião fundamentada sobre todos os assuntos. Conheço algumas pessoas desse grupo e eu entrei no clube por força da minha mudança de casa. Destas leituras algumas ideias sobressaíram:
A crise económica, os despedimentos e os baixos índices macro económicos;
O forte aumento dos lucros de empresas multinacionais e nacionais, destacando-se o aumento de 60% dos lucros das empresas do PSI-20;
As reestruturações, as fusões, as aquisições;
A Administração Pública, a AP, a Função Pública, em todas as suas reencarnações;
Os anúncios sucessivos de iniciativas do governo e respectivas disseminações em notícias paralelas;
As quezílias politiqueiras de entretenimento nacional;
As notícias da notícia da notícia;
A opinião da notícia e a opinião da notícia da notícia;
A opinião da opinião.

As minhas primeiras reflexões sobre esta leitura em massa de títulos, todos deste ano, foram:
Nos jornais têm certamente um problema acentuado de memória;
Têm também alguma dificuldade em fazer associações de factos;
A mesma notícia serve para muita coisa;
Faz-se muita opinião paga neste país;
Há muitos especialistas generalistas;
Há muitos jornais mas poucas cabeças a construir a agenda noticiosa.

E mais diria, mas como só li os títulos…

1 comentário:

o sibilo da serpente disse...

Já mudei tantas vezes de casa, que o meu irmão - sempre o tramado com a coisa - já me avisou que não volta. E, de facto, não há coisa pior. Daí que quando os meus amigos me dizem que vão mudar de casa em determinado dia, eu, nem que seja num domingo, digo logo que tenho um julgamento :-)