26 agosto 2006

matisse - mulher em frente à janela

a espera

havia apenas o mar nos olhos, uma vaga aflição e a espera amorosamente tecida nas canções, quando a lâmina tirou-lhe a voz da garganta e o oceano do peito. em um só golpe decepou-lhe a realidade e o sonho.

todas as justificativas para a dor são injustificadas quando o amor é óbvio e olha com olhos de esperança.

recapitulados os dias perfeitos, impecáveis, indescrití­veis dias de fascínio, nada mudou. como se um furacão de acontecimentos não a tivesse surpreendido.
"entre as quatro paredes do meu peito, só eu sei. só eu sei o que espero e o que desespero", foi a única pista rara vez sussurrada a alguém.

no mais, permanece sentada à mesma janela de sempre. diz coisas incompreensíveis vez em quando. lê um livro. ouve música. olha em torno como se acordasse do sono. entoa alguma canção qualquer, vai e volta, sorri, diz às pessoas coisas gentis, prováveis. mas permanece lá, nas noites inquietas, a conversar com ele que já não está .
a espera, o desespero, raramente visíveis.
na sala, no quarto , no corpo, em todo lado os sinais do sonho desfeito, que só ela sabe.


silvia chueire

2 comentários:

M.C.R. disse...

A equipa da farmácia de serviço, os empregados de Au bonheur des Dames, o leitor (im)penitente e outros admiradores ( e são muitos ...) gostaram de ler este texto.

Silvia Chueire disse...

Caro MCR,

Diga a todos que eu agradeço toda contente. : )

Abraços,
Silvia