27 agosto 2006

estes dias que passam 34

Pequenas infâmias e grandes (enormes)

1 Às vezes penso que escrevo demais, depressa, sobre o momento dos factos, sem recuo nem rede. E há um pequeno pedaço de mim, às tantas o anjo da guarda dos descrentes, a consciência, a quem o grande Drummond (o poeta brasileiro, claro) chamou o seu anjo torto, que volta e meia, me recomenda calma, e canja de galinha. Mas eu não tenho emenda: com tantos anos e ainda armar-me em cavalo louco (o Crazy Horse índio da minha infância, hoje herói americano, tardio, claro mas mais vale tarde do que nunca). Ora comecemos por aí, pela America:

2 Um grupo de palestinianos (?) anormais, fanaticamente anormais, fanaticamente cretinos, fanaticamente religiosos (???) resolveu raptar há uns dias dois jornalistas de uma televisão americana. Depois deste brilhante feito de armas, entenderam propor a troca dos dois reféns pela libertação de todos os muçulmanos presos nos Estados Unidos. (todos os muçulmanos ou apenas os presos por alegado terrorismo em Guantanamo?). Os americanos nem se deram ao trabalho de responder. O governo palestiniano a contas com uma invasão israelita e com a ruína absoluta do território, sem dinheiro, sem autoridade, sem futuro, fez o que pode ou seja nada. Finalmente os raptores, isolados internacional e nacionalmente, mostraram toda a sua nulidade moral, política e religiosa: libertaram os jornalistas depois destes terem aceitado converter-se ao Islão. Eu até me converteria à Igreja dos últimos dias de Jesus Cristo perante essa escolha entre a vida e a morte.

3 Continuando pela América: choremos uma agradecida lágrima por Maynard Ferguson, trompetista interessante que tocou com alguns dos melhores, fez a consabida volta pela Europa onde deu alento a muito jovem e insatisfeito músico de jazz. Quase oitenta anos de vida e muitas histórias para contar.

4 Mais America, pior América: há um ano o Katrina devastava o berço do jazz. New Orleans, cidade mítica para todos quantos alguma vez vibraram ao som sincopado dum trompete (o de Satchmo, por exemplo). Um ano depois aquilo continua um destroço sobretudo, claro, nos bairros de maioria negra e pobre. Metade da população ainda não voltou. Os que voltaram encomendam as almas e os parcos bens à Guarda Nacional que ainda se vê obrigada a patrulhar a cidade. Isto, meus senhores, passa-se no mais rico e mais poderoso país do mundo!

5 Outra América, desculpem o engano, Israel: no sul do Líbano não é o Katrina mas as bombas de fragmentação que foram usadas contra civis. Continuam a explodir diariamente. Há uma lei internacional contra o uso destas armas. Parece que se forem israelitas a lançá-las e uns árabes miseráveis a apanharem com elas em cima, não há problema. Não?

6 E aqui ao nosso lado? É só incêndios e infanta Leonor? Infelizmente não. A época de caça à mulher, abre todos os anos em 1 de Janeiro e vai até 31 de Dezembro. Sobretudo se esta, a mulher, tiver sido namorada, noiva ou esposa do criminoso. Este ano já lá vão 56. Diz quem sabe que se corre o risco de em 2006 se bater um recorde. A violência de género, aqui radical e definitiva, prospera na Europa civilizada com mais rapidez que no Médio Oriente. E os seus cultores são católicos de lei, ou quase. A moda agora é liquidar a relapsa, as filhas e filhos menores e depois dar um tiro na cabeça. Se me fosse permitida uma sugestão, puramente inocente, não valeria mais começar pelo tiro nos cornos? Vá lá, sejam homens...

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