Ora aqui está a farmácia reaberta. Gerente e pessoal, mailos paroquianos que aqui se alongam em conversas, pelo fim da manhã e pelo fim da tarde, fazendo deste amável espaço de manipulados, elixires, tisanas e outros remédios mais fabricados, uma pequena enfermaria pronta a acolher os que sofrem de males indefinidos, da alma, tristeza, melancolia, saudades do futuro e outras bizarrias. É para isso que a farmácia abre as suas portas e tem três cadeiras e um banco corrido para os seus habitués. Para os habitués, já se disse, e repete-se em voz alta, que aqui não se vendem produtos de beleza e derivados, isso fica para os que querem enricar (como diria a distinta D. Sílvia, médica de pesares, ausências, almas entrecortadas e outras divagações). Aqui pratica-se a pharmacia, com saudades do ph e a boa conversata. Quem quiser botox vá ali ao lado. Ou pergunte aos cavalheiros do Marco de Canavezes que parecem saber tudo sobre tal ingrediente.
E por onde andaram o boticário e ajudantes, perguntaram as leitoras e freguesas mimosas que nos vão lendo e aturando com paciência e meio sorriso (espera-se...). Pois por Espanha, ó gentis, por essa Espanha daqui perto, entre fogos florestais e aflição, à beira mar e à beira-alma, a molhar o pé e recordar outros tempos.
E por isso a ninguém estranhará que hoje a botica mande para o éter uma meia dúzia de títulos espanhóis.
Comecemos desde já pelo Arturo Perez Reverte. É que consta que terão começado a aparecer em português as aventuras do Capitão Alatriste. E se assim for atirem-se a esse mesmo título, o primeiro duma séria que já vai em cinco volumes, prevendo-se ainda mais dois.
A quem não embezerrar o espanhol, recomenda-se a leitura das crónicas magnificas, da escrita poderosa, de APR no xlsemanal (suplemento revista de fim semana do jornal ABC): um regalo. APV arreia forte e feio em tudo o que mexe e que ele não suporta.
E continuemos por um tema fascinante e que aos desta casa toca muito e de perto: a guerra de Espanha. Como todos sabem, esta guerra durou 4 dolorosos anos (36 a 39) teve um gigantesco saldo de vítimas e foi para desgraça dos espanhóis, primeiro e do mundo depois, o campo de treino, a mesa de experiencia de nazis e fascistas. Foi talvez a última guerra ideológica, a que não teve indiferentes, a que mobilizou o melhor e o pior da Europa.
Esta guerra que começou pelo levantamento de meia dúzia de generais traidores contra um governo saído de eleições livres e legítimas, tem no seu activo algumas façanhas infames.
Em primeiro lugar os defensores da republica foram no fim da guerra considerados “rebeldes militares”, julgados por expeditos tribunais militares pelo crime de rebelião (!!!) e condenados à morte ou a longas penas de prisão.
Em segundo lugar, no fim da guerra, as vítimas de direita tiveram honras de sepultura pública e reparação material atribuída às famílias. Ao mesmo tempo os noventa mil fuzilados republicanos no decurso da guerra (sobretudo no primeiro ano) continuaram em fossas comuns anónimas que só agora começam a ser abertas para entregar às famílias os ossos dos seus mortos para enfim serem enterrados novamente nos cemitérios comuns.
Por último, estão a ser analisados e reparados dezenas de milhares de processos posteriores à vitória de Franco para reparar as mais gritantes injustiças então cometidas. Tudo isto ao abrigo de uma lei votada no parlamento espanhol. São cerca de trezentos mil os processos que poderão ser analisados e que terão dado origem a dezenas de milhares de execuções. É que uma boa parte das sentenças foram pura e simplesmente aplicadas sem sequer um julgamento.
A direita espanhola clama agora que a revisâo de processos vem abrir uma dolorosa cicatriz que se teria dado por fechada durante o período de passagem do franquismo à monarquia. Ou seja que havia de continuar a ocultar-se a barbárie e a infâmia que foram apanágio da campanha de 36, sobretudo do avanço das colunas franquistas pela Andaluzia e pela Estremadura.
A este título saíram este ano dezenas senão centenas de livros. Dessa massa gigantesca de publicações seleccionou-se uma meia dúzia de livros:
Na “Biblioteca 70 años”: La Última batalla (derrota de la republica en el Ebro) de Kim Amor; Los barcos del exílio” de Ada Simon e Emílio Calle; “Vitimas de la victoria” de Rafael Torres; “El Canto del Buho” de Alfonso Domingo (sobre a vida dos guerrilheiros antifranquistas que batalharam até 1949).
Na booklet: a terrível historia “Las trece rosas rojas” de Carlos Fonseca sobre as 13 raparigas (sete delas menores) que foram executada a 13 de Agosto de 39: finalmente “La batalla del Ebro” de Jorge Reverte.
Os leitores já têm material que chegue pelo que perdoarão que não se fale de livros portugueses. Na silly season até os editores descansam...
A equipa "farmaceutica" manda muitos cumprimentos ao antigo e distinto frequentador LC rogando-lhe que dê notícias.
E por onde andaram o boticário e ajudantes, perguntaram as leitoras e freguesas mimosas que nos vão lendo e aturando com paciência e meio sorriso (espera-se...). Pois por Espanha, ó gentis, por essa Espanha daqui perto, entre fogos florestais e aflição, à beira mar e à beira-alma, a molhar o pé e recordar outros tempos.
E por isso a ninguém estranhará que hoje a botica mande para o éter uma meia dúzia de títulos espanhóis.
Comecemos desde já pelo Arturo Perez Reverte. É que consta que terão começado a aparecer em português as aventuras do Capitão Alatriste. E se assim for atirem-se a esse mesmo título, o primeiro duma séria que já vai em cinco volumes, prevendo-se ainda mais dois.
A quem não embezerrar o espanhol, recomenda-se a leitura das crónicas magnificas, da escrita poderosa, de APR no xlsemanal (suplemento revista de fim semana do jornal ABC): um regalo. APV arreia forte e feio em tudo o que mexe e que ele não suporta.
E continuemos por um tema fascinante e que aos desta casa toca muito e de perto: a guerra de Espanha. Como todos sabem, esta guerra durou 4 dolorosos anos (36 a 39) teve um gigantesco saldo de vítimas e foi para desgraça dos espanhóis, primeiro e do mundo depois, o campo de treino, a mesa de experiencia de nazis e fascistas. Foi talvez a última guerra ideológica, a que não teve indiferentes, a que mobilizou o melhor e o pior da Europa.
Esta guerra que começou pelo levantamento de meia dúzia de generais traidores contra um governo saído de eleições livres e legítimas, tem no seu activo algumas façanhas infames.
Em primeiro lugar os defensores da republica foram no fim da guerra considerados “rebeldes militares”, julgados por expeditos tribunais militares pelo crime de rebelião (!!!) e condenados à morte ou a longas penas de prisão.
Em segundo lugar, no fim da guerra, as vítimas de direita tiveram honras de sepultura pública e reparação material atribuída às famílias. Ao mesmo tempo os noventa mil fuzilados republicanos no decurso da guerra (sobretudo no primeiro ano) continuaram em fossas comuns anónimas que só agora começam a ser abertas para entregar às famílias os ossos dos seus mortos para enfim serem enterrados novamente nos cemitérios comuns.
Por último, estão a ser analisados e reparados dezenas de milhares de processos posteriores à vitória de Franco para reparar as mais gritantes injustiças então cometidas. Tudo isto ao abrigo de uma lei votada no parlamento espanhol. São cerca de trezentos mil os processos que poderão ser analisados e que terão dado origem a dezenas de milhares de execuções. É que uma boa parte das sentenças foram pura e simplesmente aplicadas sem sequer um julgamento.
A direita espanhola clama agora que a revisâo de processos vem abrir uma dolorosa cicatriz que se teria dado por fechada durante o período de passagem do franquismo à monarquia. Ou seja que havia de continuar a ocultar-se a barbárie e a infâmia que foram apanágio da campanha de 36, sobretudo do avanço das colunas franquistas pela Andaluzia e pela Estremadura.
A este título saíram este ano dezenas senão centenas de livros. Dessa massa gigantesca de publicações seleccionou-se uma meia dúzia de livros:
Na “Biblioteca 70 años”: La Última batalla (derrota de la republica en el Ebro) de Kim Amor; Los barcos del exílio” de Ada Simon e Emílio Calle; “Vitimas de la victoria” de Rafael Torres; “El Canto del Buho” de Alfonso Domingo (sobre a vida dos guerrilheiros antifranquistas que batalharam até 1949).
Na booklet: a terrível historia “Las trece rosas rojas” de Carlos Fonseca sobre as 13 raparigas (sete delas menores) que foram executada a 13 de Agosto de 39: finalmente “La batalla del Ebro” de Jorge Reverte.
Os leitores já têm material que chegue pelo que perdoarão que não se fale de livros portugueses. Na silly season até os editores descansam...
A equipa "farmaceutica" manda muitos cumprimentos ao antigo e distinto frequentador LC rogando-lhe que dê notícias.
2 comentários:
Nem só pesares, ausências e almas entrecortadas, MCR. : )
Prometo em breve algo em outro tom. : )
Abraços,
Silvia
esqueceu "outras divagações"... que dá pano para mangas.
Não mude o tom que é bom.
Enviar um comentário