(um diário de bordo)
Então vocês leitorinhas gentis, que desprevenidamente foram a banhos, pensando que finalmente estavam livres deste escriba desbocado que aturam com essa gentileza paciente de quem sabe que se “os vellos non deben namorarse” sempre há que ter com eles a indulgencia que se tem com os nenos.Está-se mesmo a ver que escrevo da Galiza, da Galiza galega, da Galiza que fala (xá falamos, diziam há uns anos) esse idioma de “labregos e mariñeiros” como dizia o meu amigo Xesus Alonso Monteiro há muitos, muitíssimos, anos em Coimbra, quando no CITAC ensaiávamos uma peça sobre a vida de Castelao. E com ele tinha também vindo desta Galiza, terra de “meigas” o Luis Seoane, pintor, escritor, intelectual, tudo, para connosco, jovens estudantes de Coimbra, nos idos de 68/69. e com o Ricardo Salvat, catalão de Girona, fazermos um teatro que fosse épico, à maneira de Brecht, interventivo como os tempos exigiam e verdadeiro como era a nossa esperança nesses anos de vinho e rosas, de cólera e chumbo, anos da nossa juventude, anos intensos como o cheiro do pão acabado de cozer a fazer figas à nossa fome de paz, de liberdade de democracia como dizia o slogan.
E agora que já atirei à esquerda, como convém, que querem que vos diga? Pois que saímos do Porto com chuviscos, bem dizia a dona Rosa que me vende diariamente o jornal, “primeiro de Agosto, primeiro dia de Inverno”. Raios e diabos, logo hoje que começam as férias lamentava-se a Crazy Grazy que trazia debaixo da roupa viajeira o biquíni posto! Isto só a mim!
Mas mal o mar espreitou no fim da ria de Pontevedra e já o sol se anunciava, macio e quente, como se deve no Verão. O apartamento, á beira ondas, estou a escrever isto a quatro metros da água!, estava apetrechado com tudo o que necessitam duas criaturas em paz consigo, e entre si.
O mar estava excelente pelo que me permiti uns breves mergulhos a fazer boca para uma caña e azeitonas (não apareceu ninguém, apesar do convite, aqui mesmo feito. É o que perdem!).
Os confrades bloguistas quererão saber se eu cumpri o menu anunciado. Claro que cumpri. Almoçamos uns mexilhões ao natural, os pimentos do Padron (uns pican otros non) e uma travessa de gambas grelhadas. E por hoje é tudo. Tudo não, porque temos agora tempo para uma vez mais gozarmos a paisagem.
...Beberei a paisaxe
num amencer de lírios
As campanas do mar
nos ventos fuxidios.
Cada intre un paxaro,
cada pulso un latexo.
Unha espada de chuvia
Cortando a frol do vento ...
(excerto de um poema de Celso Emílio Ferreiro[1912-1979] com o título spiritual, in “Longa noite de pedra” , El Bardo, Madrid, 1968
Se alguém não perceber o galega que diga para eu fornecer a tradução!
2 comentários:
Vejo que as férias não lhe tiraram a boa disposição e a inspiração. Pelo contrário. Ainda bem. Afinal, é para isso que as férias servem. não é?
Um abraço
Férias deliciosas, estas. Gastronomica, estética e sentimentalmente falando.
Deram-me inveja e fome. ; )
O texto está para lá de bom!
Abraços,
Silvia
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