17 setembro 2006

Estes dias que passam 36

Jornais velhos, desculpas esfarrapadas ou
a vingança do dinamarquês despudorado


Comecemos pelo caso do dia: apareceu um novo jornal: o Sol. Apareceu mais para quarto minguante do que outra coisa. Eu explico: este jornal, feito por boa parte dos ex-colaboradores do Expresso, prometia, dizia-se, mundos e fundos: O Expresso estava acabado, gasto, chato, ronceiro, muito nove horas, sem chama nem cama, enfim um emplastro com o prazo de validade já acabado. Por isso urgia um novo jornal semanário atrevido, inteligente, moderno, mangas arregaçadas, suficientemente audacioso para conquistar o público jovem, suficientemente equilibrado para seduzir o publico mais velho. Ora visto e respigado o primeiro número, nada disto aconteceu. Aquilo é o Expresso para pior, o que é dizer muito. Mudar para aquilo é saltar da sertã para o fogareiro.
Também não admira: estes alvoroçados “novos” já têm barbas e já mostraram a sua incapacidade quando mandavam no Expresso. O Dr Balsemão que, consta, é um unhas de fome, já deve estar a arrancar os poucos cabelos que lhe restam pela despesa que faz publicando o seu jornal e oferecendo uns filmes ao pagode. Não precisava: mudar para esta concorrência é perder tempo.
Eu ainda me recordo (isto de ser “antigo” tem algumas vantagens) da saída do Expresso. Foi um acontecimento, era diferente, era arrojado, era moderno, driblava a censura e a malta corria a comprá-lo. Depois, foi o que se viu: não cresceu, inchou. Perdeu muito com a primeira sangria que acabou por formar o Público. Perdeu em qualidade, digo, não em cacau, porque uma coisa é ser semanário, outra diário. Também é verdade que no segmento semanários só terá tido um concorrente interessante que todavia não resistiu. Falo de “O Jornal” que se resolveu transformar em revista. Os restantes, Semanário e Independente fizeram um grande estardalhaço mas nunca conseguiram usar calças compridas. O êxito vinha-lhes do cheiro a enxofre dos escândalos com que enfeitavam a primeira página mas isso de per si não faz um jornal, nem cria leitores assíduos. Pior, cria muitos inimigos, por vezes carregados de razão. Também já entregaram as duvidosas almas ao criador, e, ao que vou vendo, sem choro público. Os únicos a verter uma lágrima foram os da casa, que coitados, disseram deles o que mais ninguém disse, babados com a sua coragem inicial, que não passava de atrevimento, com a sua irreverência, que era apenas toleima, com a sua criação de público específico que os abandonou em pouco tempo.
Pareceria que com tudo isto, a rapaziada que faz o Sol deveria ter pensado muito antes de arriscar o passo que deram. Eu que os não conheço de lado nenhum, descria um pouco da “novidade”. Então eles andaram este tempo todo a fabricar um jornal chato e convencido, e de repente, iam fazer coisa nova, boa e diferente? Poder-lhes-á ter passado na cabecinha ingénua mas só na deles. E o resultado está à vista. Claro que virá alguém dizer-me que este número esgotou. Pudera! Também o Expresso, pelos vistos. Um porque dá filmes e o outro porque é o primeiro número. Lá para Novembro ou Dezembro já se verá como a espuma assenta.

2 como se costume isto vai longo mas não posso deixar de referir, com um sorriso maroto, a história do discurso de Bento XVI. Das duas uma: ou é inépcia ou uma jogada arriscadíssima. Citar o pobre Paleólogo, que coitado, perdeu em todos os tabuleiros, não lembra ao mafarrico. Também é verdade que por definição o Papa é inimigo do mafarrico, mas...
Se bem me recordo, quando um jornal desconhecido e dinamarquês publicou umas caricaturas (rapidamente transformadas em ofensas a Maomé) toda a bem pensância lhe caiu em cima. Tenho mesmo uma vaga recordação de um vago porta voz da Igreja lamentar a graçola contra símbolos sagrados. Mais lhe valera estar caladinho, já que seria estulto pedir-lhe que defendesse o direito à liberdade de expressão. Agora, a citação, dentro ou fora do contexto, pouco me importa, deu no que deu: a habitual gentuça manifestante, as efígies do Papa a arder por tudo quanto é sítio muçulmano e uns comunicados patéticos a dizer o que dizem, que é exactamente nada e não vai servir para nada. Eu no caso dos dinamarqueses senti-me dinamarquês. Neste, pedindo muita desculpa, tenho de estar de fora porque não me apetece sentir-me católico. Todavia, e para que não restem dúvidas, entendo que o Papa pode achar que quem recorre à espada para expandir a fé não é de confiança. Eu acho o mesmo. Hoje e há quinhentos, setecentos e novecentos anos... A espada, a condenação, o relegar o incréu ao poder secular são armas do diabo nunca de Deus. E já agora: deixem os manifestantes manifestar-se lá nos lúgubres locais onde se manifestam. Deve ser a única oportunidade que têm de exprimir uma opinião. Aquilo passa-lhes.

3 Já agora falemos da terceira religião monoteísta. Não por motivos religiosos que são o menos. Mas por este mais comezinho: quando há um mês, os israelitas bombardearam um posto da ONU matando quatro capacetes azuis, a verdade oficial é que à sombra desse posto havia hezbollahs a disparar. Agora vêm dizer que a culpa foi dos mapas militares onde não constava o posto da ONU. Foi um engano aborrecido, desculpem lá, enganámo-nos... Convenhamos que esta é querer fazer de nós parvos.

10 comentários:

o sibilo da serpente disse...

Eu não desgostei do Sol. Vi-o com os olhos de ex-jornalista e nos temas que tratou conjuntamente com o Expresso tratou-os melhor. Parece-me, contudo, que tem demasiada côr, demasiado destaques, etc. Pensei que iriam avançar neste primeiro número com um bom trabalho de investigação. Não houve. A manchete é fraquita. Por outro lado, tem muito noticiário. Muitas páginas, embora muitas delas irrelevantes. O artigo de Marcelo fraquinho. O destaque dado a Filomena Mónica é excessivo parta o que disse a senhora.
Mas o Expresso também não entusiasmou. Esperei uma boa cacha neste número. Nada. E está um jornal muito pardo, sem vida, com pouco ritmo.
Retive algum provincianismo por parte do Sol (como muitas vezes se nota no Expresso). Aquela "boca" no cabeçalho a dizer qualquer coisa comoo Sol não precisa de promoções para vender era desnecessária em jornais que querem ser insituições nacionais. Aquela história da rotura com o Expresso também só interessa a pessoas do meio.
De qulquer modo, o primeiro número do Sol não basta para avaliar. Durante todo esta tempo, tiveram tempo para tratar muitos temas e certamente ter trabalhos preparados para as próximas edições. O confronto só será a sério quando tiverem uma semana para fazer o jornal.

Caro MCR: O Semanário nunca foi um jornal de escândalos. Eu trabalhei lá com o saudoso Victor da Cunha Rego. E com João Amaral-Luís Ramos Pinheiro, nos tempos do Raúl Vaze José Mendonça da Cruz. Um jornal político, admito. Mas nada de sensacionalismos. Agoras não sei: não o leio.

o sibilo da serpente disse...

Ah, ainda em relação ao Expresso. Olhe-se a primeira página. Uma grande foto de Maria Elisa. Haveria razão?

M.C.R. disse...

Vale a pena escrever para ter comentários seus, caro Carteiro. Mas v. há-de permitir que eu estabelça este "distinguo": o meu caro Amigo lê com olhos de ex-jornalista (legítimos, claro) eu leio com olhos de paisano, de pagante, de leitor. Por força os nossos olhares serão diferentes.
v. entende que o Semanário era só político mas terá de concordar que nem sempre. Ainda recordo porque me tocava de perto algumas manchetes já da época desgraçadinha... E aí garanto que não havia política mas só um favoe gordo e a destempo a um governante que conseguiu o impossível, cair sozinho sem empurrões.
O expresso não precias de nada. Basta-lhe continuar a ser o que é. Por isso esgotou 200.000 exemplares (se calhar é do dvd... mas). É o concorrente que tem o ónus da prova. E se foi isso o que ocorreu, bem pode Balsemão dormir descansado.
Eu se quer lhe diga leio o Expresso depressa, muito depressa mesmo que aquilo não dá para mais.
finalmente: de acrdo com a M Elisa e tudo o resto mas também concordará que a revista do Expresso bate a do Sol por um porradão de comprimentos. E era este quem teria de mostrar serviço, não acha?
É por estas e por outras que ao fim de semana me encho de imprensa internacional: um dinheirão mas que diferença!
Um abraço

pedrinha disse...

Eu sou das que não comprou o Sol, não comprei.. pronto, sou forreta! Mas amanhã estará online e aí poderei avaliar esta primeira edição que, como parte integrante de um conjunto, não me permitirá fazer uma avaliação digna.
Quanto ao Expresso, tirando a foto da S.D. Elisa, muito bonita por sinal, achei que se esforçou, que tenta melhorar e enfrentar a concorrência.
Como diz uma colega minha... guerras «intestinas» é o que é!
Perdoem-me este comentário tão.. tão.. escabroso (diria a doce J).

M.C.R. disse...

Escabroso Mar(cia)?

pedrinha disse...

Escabroso, pois... como dizia a Ti Felismina...«é só a gente a falar»

M.C.R. disse...

Ah!

jcp (José Carlos Pereira) disse...

Comprei o "Expresso" como sempre - só que agora é preciso ter o trabalho de reservar por causa dos DVD's. Não reservei o "Sol", perguntei em dois sítios e não havia, por isso passei à frente, até porque não sou muito de embarcar nos modismos apressados.
Vi depois o jornal em casa de uns amigos e subscrevo o que disse MCR - muita parra e pouca uva. Nem mais leve, nem mais substantivo, nem mais interessante, nem melhores peças, nem melhores revistas.
Contudo, foi curioso verificar a expectativa de muitos que consideravam o "Expresso" um jornal chato e agora esperavam um "Sol" radioso. Mas não foi J.A.Saraiva o arquitecto do tal jornal chato durante vinte anos?

o sibilo da serpente disse...

(Sobre isto acho que posso falar :-)
O facto de José António Saraiva ter feito o Expresso como fez, não significa que não saiba fazer outro tipo de jornais. Os jornalistas podem hoje estar a fazer um jornal de referência e amanhã um tablóide, ou o contrário. Não há jornalistas que só sabem fazer um jornal e outros que só sabem fazer um jornal totalmente diferente.
Há por aí muito bons jornalistas, que já passaram por jornais de referência e hoje estão a trabalhar em jornais mais populares. O contrário também é verdade. O que não significa nem promoção, nem despromoção profissional.
Esperemos para ver o "Sol" quando estiver em velocidade de cruzeiro. Um número é pouco para juízos definitivos.
(Ainda que eu torça pelo Expresso)

M.C.R. disse...

Certíssimo caro Carteiro: um número é pouco. eu também só quis falar na impressão geral. De todo o modo acrecento que é sempre bom aparecer concorrencia ao Expresso a que só me ligam o Zé Quitério , o Xico Belard e mais três ou quatro colaboradores...