27 setembro 2006

Estes dias que passam 38

Idomeneo no Iraque ou em Portugal, tanto faz
Sejamos gratos aquele
Que apagou o archote da guerra.
A partir de agora, é certo,
A terra conhecerá repouso
Idomeneo, 1º acto, nº 3 coro, fala de dois cretenses.

O dr. Noronha do Nascimento entende que o presidente do Supremo Tribunal deve passar a fazer parte, como membro nato, do Conselho de Estado! Ora aqui está uma valiosa contribuição para a resolução dos vários problemas da Justiça e mais particularmente da desastrada situação dos senhores juízes. Parece que o dr. Noronha do Nascimento vai ser o próximo presidente do STJ, visto ser candidato único. Ganha de certeza!

Na minha cidade de Berlin, na cidade onde por duas vezes vivi tempos inesquecíveis, a opera de Mozart “Idomeneo” foi desprogramada pela Opera de Berlin. Vi, com estes que a terra há-de comer, uma senhora chamada Kirsten Arms defender o religiosamente correcto. Porque a certa altura, na ópera, se fala contra todas (insisto: todas) as religiões. Ou de como uma intelectual se demite de tudo o que deveria caracterizar a cultura. Mozart deve revolver-se na sua ignorada tumba. Até a chanceler Angela Merkel está espantada. E a grande maioria das organizações muçulmanas idem. Esperemos que o Conselho de Estado alemão passe a poder contar com a Frau Arms.

Em França um filme consegue finalmente mudar a lei. Trocando por miúdos: durante a 2ª Guerra Mundial, o exército francês contou com 350.000 soldados das colónias, desde a Argélia até Madagáscar. Os veteranos, sobreviventes, tinham pensões dez, vinte ou trinta vezes inferiores aos seus camaradas metropolitanos. O filme conseguiu relembrar ao Presidente Chirac esta pequena infâmia racista. Para o ano, antes tarde do que nunca, as pensões dos bicots e dos nègres serão igualadas às dos franceses brancos.
O comentador, que em seu tempo, entendeu que as guerras coloniais eram infames, afirmação que mantém, pergunta-se, entretanto, como português e cidadão, se os soldados africanos que se bateram por Portugal, salvando acaso algumas vidas mais brancas, recebem as pensões de guerra que lhes correspondem.
Antes que me esqueça: o filme em questão chama-se Indigénes e é realizado por Rachid Bouchareb.

Uma agencia oficial americana, do mais respeitável e establishment que há, veio, mais vale tarde do que nunca, reconhecer que a invasão do Iraque, onde não havia Al Qaeda, nem terrorismo de Estado, desatou uma autentica orgia de atentados, de constituição de grupos terroristas, enfim abriu a famigerada caixinha de Pandora. O Presidente Bush, aproveitou o ensejo para dizer: a) que não conhece essa Pandora mas que já encarregou a CIA de a identificar; b) que não sai do Iraque nem a tiro e que se está nas tintas para os relatórios e que enquanto os mortos forem maioritariamente iraquianos tudo irá bem.
Não é possível infelizmente propor Bush para algum State’s Council porque lá não há. Que pena, que pena...

Algumas leitoras e as colegas bloguistas comoveram-se com a edição anterior de “estes dias... “, a que tinha o nº 39, datada da quarta feira passada. Para regozijo delas aqui se informa que a dieta do escriba prossegue com grande coragem, determinação, sentido de Estado – mas não de conselho! – e que uma barreira psicológica foi ultrapassada. O peso desceu, abaixo de um certo número que, por pudor, não se refere. Menos 7 décimas e entrarei no sobre-peso grau 1. Ora toma!

nota final que nada tem a ver... O Conselho de Estado é segundo a Constituição Política da República Portuguesa um órgão eminentemente político, com funções políticas. Perceberm ou é preciso um desenho?

6 comentários:

jcp (José Carlos Pereira) disse...

Noronha do Nascimento, a crer no que diz hoje o JN, quer, além do tal lugar no Conselho de Estado, melhores instalações e salários e um sistema médico alternativo. A coisa promete e agora é que os problemas da justiça se vão resolver num ápice.
Quanto à ópera "Idomeneo", parece-me que se está a perder o sentido das proporções e dos limites. Nesta linha, onde é que vamos parar?

Silvia Chueire disse...

Parabéns pela pertinência do post e pelos quilos perdidos! :)

Abraços,
Silvia

O meu olhar disse...

Caro MCR,
Eu não escrevi nada na altura,mas não posso deixar de lhe dizer que me deliciei com aquele seu brilhante texto sobre as aventuras e desventuras inerentes ao seu processo de perda de peso! Uma pérola esse seu texto!De humor e não só,,,
Quanto à perda de peso propriamente dita tem a minha sincera e sentida solidariedade. Eu que nunca tive coragem de encetar por essa via admiro vivamente quem o faz. Parabéns pois pelo que já conseguiu.

Quanto ao mais:

Quando ouvi as prioridades no novo Presidente do Supremo Tribunal de Justiça pensei exactamente como o JCP. Quem assume um novo cargo deveria pensar muito bem nas mensagens que quer passar, quer para dentro do sistema em que está inserido, quer para fora do sistema. A mim parece-me que o novo Presidente do STJ só se preocupou com a mensagem interna e pela via mais fácil, a dos “direitos”. A ver vamos…

Relativamente ao que se passou com a opera “Idomeneo” só gostaria de acrescentar que o mundo está muito confuso. Melhor dizendo, a cabeça das pessoas está muito confusa. Verifica-se que existe alguma dificuldade em se ter um quadro de referência base que não permita esses disparates. Atira-se em todas as direcções e o mais certo é que dita senhora tenha acertado no seu próprio pé.

jcp (José Carlos Pereira) disse...

O editorial do "Público" de hoje, sexta-feira, é de uma violência inaudita sobre o novo presidente do STJ. Eu, que nem simpatizo com a maioria das posições de José Manuel Fernandes, não posso deixar de me interrogar perante o que ali leio. O senhor é tudo aquilo? E mesmo assim foi eleito para o topo da hirarquia judicial? Como pode melhorar a nossa justiça?

josé disse...

O editorial de JMF do Público é do mais caceteiro que tenho lido na imprensa e em blogs, sobre alguém.

Nem na Loja, nos bons tempos, se escreveu assim, fosse contra quem fosse- mesmo contra o JMF!
Ahahahah!

Porém, o JMF encontra uma resposta à altura do seu estatuto de caceteiro,no próprio número do jornal:
na pág 55, os dados da APCT- Associação Portuguesa para o COntrolo de Tiragem e Circulação de imprensa, indicam que o Público, nos últimos seis meses perdeu 6,1 % de leitores, quase 3000 leitores num total de umas quatro dezenas de milhar de leitores.
E mais uma boa notícia: o 24 Horas perdeu mais de 11 mil leitores diários, no mesmo período!

O público sabe sempre o que quer e neste caso, não quer JMF a dirigir o Pùblico.
Se fosse noutras circunstãncias, já estava a pedir a demissão de não sei quem...

M.C.R. disse...

Meu olhar: grato, gratissimo!
Meu caro José: o Fernandes é de facto caceteiro, disso não tenho qualquer dúvida. É ainda mais coisas, mas para já são irrelevantes (ou não: tenho-o por patarata...).
Claro que o dr Noronha se põe a jeito . E de que maneira!!! Põe-se em bicos de pés, o que se justifica porque de facto é relativamente baixo. alanzoa coisas sobre uma modificação da Constituição só para ficar na fotografia. era o que faltava andar a fazer acrescentos tontos a um documento que já não é nenhuma especialidade para satisfazer a ambição do senhor presidente do STJ.
Eu ando cá com destas vontades para escrever algo sobre a teoria da separação de poderes onde, por acaso, o judicial só entrou tardiamente... mas teria que ir estudar demasiadas coisas para fazer um pos decente. em todo o caso creio que o presidente do Tribunal constitucional (que a meu ver deveria vir antes do STJ na hierarquia do Estado) tem assento no C, de Estado. E chega de representação nata jurídica...
Vivemos tempos dificeis em que as instituições são alvo do escrutínio do público. Conviria pois que os seus principais responsáveis usassem de menos aparecimento público e de mais contenção verbal. Se não for assim há sempre um rafeiro a ladrar-lhe às canelas e o pagode a dizer que se o cão ladra é por alguma razão...
Mas que o fernandes é ... é, sem dúvida. Aliás sobre ele já aqui me pronunciei o número suficiente de vezes.