Luzes da ribalta
Alguma leitora mais curiosa (que os leitores estão-se marimbando para estas coisas de números de uma botica mais ou menos demodée) virá dizer que em boa verdade esta edição deveria ser a 29ª. Entretanto há três “f s” sem número por razões que não importa pelo que, na expectativa de muito brevemente actualizar (sob a severa tutela de Madame Kamikaze) o ficheiro, entendi desde já aplicar ao escrito aqui perpetrado o número que de facto lhe deve corresponder, o 32º.
E agora, “à barca, à barca que temos gentil maré” como refere o augusto pai do nosso teatro, esse imortal Gil Vicente a quem também querem atribuir a fábrica da grande custódia de Belém. E querem porquê? Porque esta coisa do teatro foi durante séculos muito mal vista. Refiro-me obviamente à época dita cristã, que antes entre gregos e romanos o teatro fazia parte dos usos da cidade e assistir a uma peça era quase um dever sagrado na medida em que ou se referiam os mitos fundadores da polis ou se zurzia sem dó nem piedade nos costumes. Entre Esquilo e Aristófanes é toda uma luminosa civilização que nos é dada conhecer.
Portanto, esta teoria é só minha, claro, de tão deslavada e inconsequente, a Gil Vicente o dramaturgo atribuiu-se também uma função mais nobre qual seja a de ourives para o poder meter sem dano no panteão dos ilustres.
Note-se bem que a mim esta mistura não afecta, antes pelo contrário. Até acho graça que, eventualmente, sem querer, tenham juntado na mesma pessoa duas funções de relevância extraordinária entre os povos primitivos: o artesão de palavras e o que maneja o fogo e os produtos da terra para criar uma obra extraordinária. Em África, para não ir mais longe estas duas profissões, o griot e o ferreiro são alvo de tabus importantes e concedem-se-lhes poderes especiais.
Mas deixemos Mestre Gil em paz, referindo todavia, de passagem, que há dele na Imprensa Nacional Casa da Moeda uma nova e excelente edição completa que fica bem em qualquer estante. E que, em querendo, se lê com grande gozo e contentamento.
Vamos entretanto falar de outros dramaturgos que por uma ou outra razão andam por aí quase clandestinamente. Comecemos por Harold Pinter, flamante Nobel e voz corajosa e critica: a editora Relógio de Água tem um par de peças dele editadas, a bom preço. Alguém se me queixava há dias por não encontrar Pinter em português: aqui fica a dica. E a R-d-A é uma casa simpática.
Também me parece que ninguém tem dado relevância à publicação integral de Brecht em português. Havia as velhas edições da “Portugália editora”, anos sessenta e setenta, seis ou sete volumes, mas esgotadíssimos. E daí para cá era o deserto ou quase. Pois bem, o pequeno e simpático oásis editorial que se chama “cotovia” meteu mãos à obra e tem publicado com notável regularidade a obra. Se tudo correr bem, deve estar já nas bancas o 4º volume.
Gostava, olá se gostava, de referir edições de Beckett mas por mais que espreite nas livrarias não me parece que algo a que deitar o dente. De todo o modo suponho (isto de viver no Porto tem custos) que no D Maria se terá estreado há bem pouco um trabalho de João Lagarto sobre um texto de Beckett (beggining to end). Ao que sei, e sei muito pouco, tratar-se-á de um texto beckettiano elaborado a partir de três narrativas (Molloy, Malone está a morrer e O inominável)- Apenas conheço as duas primeiras e sou, se isso fosse preciso!!!, fiador delas até morrer.
Finalmente – e sempre o simpático passaroco! – a Cotovia lançou-se a publicar Ibsen! Ora toma lá que já almoçaste! Anunciam-se mais de uma dúzia de peças (Lindoooo!!!) e o primeiro volume entretanto saído traz entre outras as famosas João Gabriel Borkmnn e Quando nós os mortos despertarmos. A leitora avisada inscrever-se-á para os três cartapácios porque este cavalheiro, mais norueguês que o bacalhau de saudosa memória é um génio. Simplesmente! E se sobrar cacau, força, força a comprar de Grieg as suites Peer Gynt. Aconselha-se a edição da brilliant classics ( a menos de 9 €) ou ainda a da Naxos.
E já que se fala de discos: já cá canta a Bach edition (brilliant classics). Se a memória me não falha exportulei 90 € mais portes (pedido feito a alapage.com): são 155 cd ou seja sessenta e tal cêntimos por disco! Vem tudo, são belas gravações há um cd com todas as indicações. Relembra-se que na mesma pasmosa editora saiu um Mozart integral (170) discos pelo mesmo preço. Depois queixem-se que os discos estão caros!
Os leitores já terão percebido que esta farmácia tão teatral sai na semana em que se iniciaram as comemorações do cinquentenário do CITAC (circulo de iniciação teatral da academia de Coimbra). Fica muito bem, o velho grupo, ao lado destes rapazes acima citados. Muito bem, mesmo!
E agora, “à barca, à barca que temos gentil maré” como refere o augusto pai do nosso teatro, esse imortal Gil Vicente a quem também querem atribuir a fábrica da grande custódia de Belém. E querem porquê? Porque esta coisa do teatro foi durante séculos muito mal vista. Refiro-me obviamente à época dita cristã, que antes entre gregos e romanos o teatro fazia parte dos usos da cidade e assistir a uma peça era quase um dever sagrado na medida em que ou se referiam os mitos fundadores da polis ou se zurzia sem dó nem piedade nos costumes. Entre Esquilo e Aristófanes é toda uma luminosa civilização que nos é dada conhecer.
Portanto, esta teoria é só minha, claro, de tão deslavada e inconsequente, a Gil Vicente o dramaturgo atribuiu-se também uma função mais nobre qual seja a de ourives para o poder meter sem dano no panteão dos ilustres.
Note-se bem que a mim esta mistura não afecta, antes pelo contrário. Até acho graça que, eventualmente, sem querer, tenham juntado na mesma pessoa duas funções de relevância extraordinária entre os povos primitivos: o artesão de palavras e o que maneja o fogo e os produtos da terra para criar uma obra extraordinária. Em África, para não ir mais longe estas duas profissões, o griot e o ferreiro são alvo de tabus importantes e concedem-se-lhes poderes especiais.
Mas deixemos Mestre Gil em paz, referindo todavia, de passagem, que há dele na Imprensa Nacional Casa da Moeda uma nova e excelente edição completa que fica bem em qualquer estante. E que, em querendo, se lê com grande gozo e contentamento.
Vamos entretanto falar de outros dramaturgos que por uma ou outra razão andam por aí quase clandestinamente. Comecemos por Harold Pinter, flamante Nobel e voz corajosa e critica: a editora Relógio de Água tem um par de peças dele editadas, a bom preço. Alguém se me queixava há dias por não encontrar Pinter em português: aqui fica a dica. E a R-d-A é uma casa simpática.
Também me parece que ninguém tem dado relevância à publicação integral de Brecht em português. Havia as velhas edições da “Portugália editora”, anos sessenta e setenta, seis ou sete volumes, mas esgotadíssimos. E daí para cá era o deserto ou quase. Pois bem, o pequeno e simpático oásis editorial que se chama “cotovia” meteu mãos à obra e tem publicado com notável regularidade a obra. Se tudo correr bem, deve estar já nas bancas o 4º volume.
Gostava, olá se gostava, de referir edições de Beckett mas por mais que espreite nas livrarias não me parece que algo a que deitar o dente. De todo o modo suponho (isto de viver no Porto tem custos) que no D Maria se terá estreado há bem pouco um trabalho de João Lagarto sobre um texto de Beckett (beggining to end). Ao que sei, e sei muito pouco, tratar-se-á de um texto beckettiano elaborado a partir de três narrativas (Molloy, Malone está a morrer e O inominável)- Apenas conheço as duas primeiras e sou, se isso fosse preciso!!!, fiador delas até morrer.
Finalmente – e sempre o simpático passaroco! – a Cotovia lançou-se a publicar Ibsen! Ora toma lá que já almoçaste! Anunciam-se mais de uma dúzia de peças (Lindoooo!!!) e o primeiro volume entretanto saído traz entre outras as famosas João Gabriel Borkmnn e Quando nós os mortos despertarmos. A leitora avisada inscrever-se-á para os três cartapácios porque este cavalheiro, mais norueguês que o bacalhau de saudosa memória é um génio. Simplesmente! E se sobrar cacau, força, força a comprar de Grieg as suites Peer Gynt. Aconselha-se a edição da brilliant classics ( a menos de 9 €) ou ainda a da Naxos.
E já que se fala de discos: já cá canta a Bach edition (brilliant classics). Se a memória me não falha exportulei 90 € mais portes (pedido feito a alapage.com): são 155 cd ou seja sessenta e tal cêntimos por disco! Vem tudo, são belas gravações há um cd com todas as indicações. Relembra-se que na mesma pasmosa editora saiu um Mozart integral (170) discos pelo mesmo preço. Depois queixem-se que os discos estão caros!
Os leitores já terão percebido que esta farmácia tão teatral sai na semana em que se iniciaram as comemorações do cinquentenário do CITAC (circulo de iniciação teatral da academia de Coimbra). Fica muito bem, o velho grupo, ao lado destes rapazes acima citados. Muito bem, mesmo!
1 comentário:
Obrigadinho, caro Lemoncourt, obrigadinho duas vezes. Eu, o Idomeneo, tinha-o dixado para outras guerras, mais acima. Mas registe-se o meu completo acordo Consigo.
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