12 setembro 2006

Os Aliados

O lazer e o dever fizeram com que, nestes últimos dias, passasse mais vezes do que é habitual pela baixa do Porto e concretamente pela vetusta Avenida dos Aliados. Não gosto e acho que nunca irei gostar da intervenção que ali foi feita.

Eu sei que Siza Vieira riscou a praça e que o desenho mereceu a aprovação geral da prestigiada escola de arquitectura portuense, mas, para quem vive a cidade, a nova avenida apresenta-se como um sítio nada acolhedor, avesso ao convívio e à fruição citadina. Como bem escreveu esta semana João Pereira Coutinho, no Expresso, a nova Avenida dos Aliados é um “deserto de cimento por onde se passa mas não se fica”.

4 comentários:

M.C.R. disse...

O arq Sisa é um excelente profisional... a fazer casas. Paara isto bem poderia ter guardado os lápis as réguas e demais utensílios.
que a tal "prestigiada" escola de arquitectura portuense bata muito as mãozinhas é mau sinal: não sabem distinguir a boa moeda da má e já só o nome os move a dar às mãozinhas.
conviria dizer-lhes que "às vezes Homero dormita" se é que conseguirão perceber isto.
A Avenida não seria grande coisa, Agora está pior.

o sibilo da serpente disse...

Já discuti isso contigo e com o primo que citas: eu gosto muito mais da avenida, agora. Mas parece que sou o único. Também já é habitual.

O meu olhar disse...

Não está sozinho caro Carteiro, também eu gosto mais da Avenida agora. Só lamento que a zona de árvores não se estenda até à CGD. E mais cadeira, das longas, do tipo das do Jardim de Versailles que dão para nos sentirmos em casa em plena praça pública. Gosto da ideia de tornar a Avenida dos Aliados uma zona de eventos, de convívio, de passeio. E eu, que adoro flores, não lamento as que saíram de lá porque a praça ganhou em dimensão e em luz o que perdeu em cor.

o sibilo da serpente disse...

«Longe de mim sugerir aos portuenses que saiam à rua e, confrontados com uma paisagem lunar, desatem no cultivo de uma horta. Relembro apenas que os sítios que habitamos devem expressar a forma como vivemos. E nem sempre espaços perfeitos, estética ou funcionalmente, são uma promessa de felicidade. Se dúvidas houvesse, bastaria olhar para as nossas próprias casas: espaços imperfeitos que se vão moldando ao nosso corpo, e ao corpo das nossas rotinas, como se fossem peças de vestuário que habitamos por dentro. E que não trocamos por nada.»

Ao contrário do que nos diz o primo João, que o JCP cita no seu post, as cidades não podem ser comparadas com as nossas casas. A nossa casa é nossa; a cidade é de todos. A cidade tem de ser suficientemente aberta para que cada um crie nela o seu espaço imperfeito. Não pode ser feita à medida de cada um.
Creio que, no caso concreto, que o arquitecto Sisa cumpriu bem. É esse o seu papel de arquitecto, aliás, saber interpretar a cidade de todos.
Os canteirinhos tinham o seu romantismo, claro. Mas o Porto não é uma aldeia - pretende ser uma metrópole. E, como em todas as grandes cidades, as praças e avenidas querem-se com luz e funcionais. Vejam-se as plazas, por exemplo.