13 outubro 2006

Portugal vale a pena

No meio de tanto negativismo sobre Portugal sabe bem ler uma abordagem positiva. Partilho convosco um texto que recebi por e-mail:

Portugal vale a pena

Eu conheço um país que tem uma das mais baixas taxas de mortalidade de recém-nascidos do mundo, melhor que a média da União Europeia.

Eu conheço um país que tem a sede de uma empresa que é líder mundial de tecnologia de transformadores. Mas onde outra é líder mundial na produção de feltros para chapéus.
Eu conheço um país que tem uma empresa que inventa jogos para telemóveis e que os vende para mais de meia centena de mercados. E que tem também outra empresa que concebeu um sistema através do qual você pode escolher, pelo seu telemóvel, a sala de cinema onde quer ir, o filme que quer ver e a cadeira onde se quer sentar.

Eu conheço um país que inventou um sistema biométrico de pagamentos nas bombas de gasolina e uma bilha de gás muito leve que já ganhou vários prémios internacionais. E que tem um dos melhores sistemas de Multibanco a nível mundial, onde se fazem operações que não é possível fazer na Alemanha, Inglaterra ou Estados Unidos. Que fez mesmo uma revolução no sistema financeiro e tem as melhores agências bancárias da Europa (três bancos nos cinco primeiros). Eu conheço um país que está avançadíssimo na investigação da produção de energia através das ondas do mar. E que tem uma empresa que analisa o ADN de plantas e animais e envia os resultados para os clientes de toda a Europa por via informática. Eu conheço um país que tem um conjunto de empresas que desenvolveram sistemas de gestão inovadores de clientes e de stocks, dirigidos a pequenas e médias empresas.

Eu conheço um país que conta com várias empresas a trabalhar para a NASA ou para outros clientes internacionais com o mesmo grau de exigência. Ou que desenvolveu um sistema muito cómodo de passar nas portagens das auto-estradas. Ou que vai lançar um medicamento anti-epiléptico no mercado mundial. Ou que é líder mundial na produção de rolhas de cortiça. Ou que produz um vinho que "bateu" em duas provas, vários dos melhores vinhos espanhóis. E que conta já com um núcleo de várias empresas a trabalhar para a Agência Espacial Europeia. Ou que inventou e desenvolveu o melhor sistema mundial de pagamentos de cartões pré-pagos para telemóveis. E que está a construir ou já construiu um conjunto de projectos hoteleiros de excelente qualidade um pouco por todo o mundo.

O leitor, possivelmente, não reconhece neste País aquele em que vive - Portugal. Mas é verdade. Tudo o que leu acima foi feito por empresas fundadas por portugueses, desenvolvidas por portugueses, dirigidas por portugueses, com sede em Portugal, que funcionam com técnicos e trabalhadores portugueses. Chamam-se, por ordem, Efacec, Fepsa, Ydreams, Mobycomp, GALP, SIBS, BPI, BCP, Totta, BES, CGD, Stab Vida, Altitude Software, Primavera Software, Critical Software, Out Systems, WeDo, Brisa, Bial, Grupo Amorim, Quinta do Monte d'Oiro, Activespace Technologies, Deimos Engenharia, Lusospace, Skysoft, Space Services. E, obviamente, Portugal Telecom Inovação. Mas também dos grupos Pestana, Vila Galé, Porto Bay, BES Turismo e Amorim Turismo.

E depois há ainda grandes empresas multinacionais instaladas no País, mas dirigidas por portugueses, trabalhando com técnicos portugueses, que há anos e anos obtêm grande sucesso junto das casas-mãe, como a Siemens Portugal, Bosch, Vulcano, Alcatel, BP Portugal, McDonalds (que desenvolveu em Portugal um sistema em tempo real que permite saber quantas refeições e de que tipo são vendidas em cada estabelecimento da cadeia norte-americana).

É este o País em que também vivemos.
É este o País de sucesso que convive com o País estatisticamente sempre na cauda da Europa, sempre com péssimos índices na educação, e com problemas na saúde, no ambiente, etc.
Mas nós só falamos do País que está mal. Daquele que não acompanhou o progresso. Do que se atrasou em relação à média europeia.
Está na altura de olharmos para o que de muito bom temos feito. De nos orgulharmos disso. De mostrarmos ao mundo os nossos sucessos - e não invariavelmente o que não corre bem, acompanhado por uma fotografia de uma velhinha vestida de preto, puxando pela arreata um burro que, por sua vez, puxa uma carroça cheia de palha. E ao mostrarmos ao mundo os nossos sucessos, não só futebolísticos, colocamo-nos também na situação de levar muitos outros portugueses a tentarem replicar o que de bom se tem feito.

Porque, na verdade, se os maus exemplos são imitados, porque não hão-de os bons serem também seguidos?

Nicolau Santos, Director - adjunto do Jornal Expresso
in Revista Exportar

9 comentários:

Carlos Afonso disse...

Porra! Finalmente um artigo de opinião positivo. (Pode eliminar a primeira palavra deste comentário não o considerarei censura mas mero cumprimento de regras de educação).

É todas as moedas têm duas faces.

Pedro disse...

O que interessa é trabalhar sempre mais e melhor para que o nosso país se desenvolva! Entretanto, fazer do nosso país um sítio ainda melhor para viver e trabalhar só depende de nós! Portanto, todos a trabalhar ainda mais...

cheiroajasmim disse...

Gostei! Num País onde a maioria necessita de tratamento psiquiátrico devido a complexos de inferioridade é fundamental alguém dizer que afinal o cartãozinho multibanco (e não só) foi inventado por portugueses e eu até conheço alguns dos que participaram no projecto.

M.C.R. disse...

Mal estaríamos se em algumas coisas não tivéssemos bolhas de excelencia. Poderia acrescentar ainda mais um par delas. Desde escolas superiores das mais antigas universidades públicas (sabiam por exemplo que um professor de coimbra é chamado em vários, repito: vários, paises "o professor" E que os seus manuais são tidos como do melhor que há na especialidade; sabiam que há alguns autores literários portugueses (e não falo do Nobel) ridos na grande crítica internacional como incontornáveis (e não falo só de Herberto Helder); sabiam que até há bem pouco tempo uma revista cultural portuguesa estava entre as cinco melhores da Europa? E por aí fora...
Todavia - e aqui vou exercer de advogado do diabo - tudo isto e muito mais não chega para nos colocar já não digo no pelotão da frente mas apenas naquele bem simpático do meio!
O caminho a percorrer é longo, tende a alongar-se cada vez mais e corremos sérios riscos de perder a corrida. E perder devido não aos bodes espiatórios do costume mas a todos, todos, nós enquanto país, povo e nação. E por isso, renovando os meus protestos de respeito e entusiasmo pelo que se fez, receio ter de dizer que o nosso tempo está a acabar e que corremos sérios riscos de continuar mais e mais na cauda da europa
A Tempo: Algum dos confrades e leitores já ouviu falar se Abi Feijó? E de Regina Pessoa?
Não? Pois qfiquem sabendo que raro é o prémio de cinema de animação que lhes escapa! Raríssimo, mesmo! E no entanto que apoios têm? quem os conhece? Alguém saberá que são do Porto?
Estão a ver o que tento dizer?

O meu olhar disse...

Caro MCR, penso que não se trata só de bolhas de excelência. São mais testemunhos fortes que retratam muitas outras empresas e/ou pessoas individuais que trabalham com excelência, procurando fazer, no seu dia a dia, o melhor possível e, muitas vezes, inovando. Aliás, deu alguns bons exemplos disso mesmo.

Todos dizemos quando falamos mal, por exemplo, da Administração Pública: não são todos maus. Há excelentes profissionais que promovem excelentes iniciativas, que desenvolvem projectos notáveis!
É verdade. E é verdade para todos os outros sectores.

A questão é: porque havemos de falar só no que está mal? Porque não acrescentar também o que merece ser conhecido pelo que representa de positivo e incentivador?

Não está tudo mal no nosso país. Estão muitas coisas bem. Realcemos as segundas e corrijamos as primeiras. E, como dizia acima o Pedro “fazer do nosso país um sítio ainda melhor para viver e trabalhar só depende de nós”. Plenamente de acordo.

Só uma nota final: já repararam da tendência que todos temos para considerarmos que fazemos o nosso melhor, os outros é que não.
Assim sendo... talvez haja falhas, algures, no auto-diagnóstico.

M.C.R. disse...

Cara Amiga: longe de mim querer dizer mal por dizer mal. Não quero, não costumo e já é tarde para aprender. Só que, quando se analisa o país que somos (todos) e que temos, parece cristalino que as coisas não vão bem. Podiam ir pior? Claro, mas não vão bem. E para se chegar a tal conclusão parece que não é preciso ser uma Cassandra mas tão só ler os jornais, as declarações dos senhores governantes, da elite empresarial e económica, dos dirigentes partidários ou de boa parte da inteligentsia universitária.
Veja que não falo de sindicatos, de ordens profissionais, de movimentos contestários...

Por acaso estou até ligado por uma longuíssima amizade a um dos obreiros da saude materno-infantil e responsvel com mais gente, claro, do excelente indice que cita (falo de Octávio Ribeiro da Cunha).
Identicamente suponho que terá valorado os meus pequenos acrescentos á sua lista: desde a animação de Feijó e Pessdoa até ao H.Helder que acaba de ser traduzido mais uma vez em Espanha no meio de uma critica o mais elogiosa que é possível.
Todavia não deixo de ler diariamente as listagens que nos chegam (a todos) quanto á posição do nosso país em relação a outros (iguais ou até mais pequenos...e aparentemente com menos passado e menos possibilidades) e não lhe oculto o desgosto que me dá por ver as nossas desastrosas performances. Isto não me esconde o bom que também há, mas exacerba ainda mais a indignação pelo que não se fez, não se faz, não se projecta nem planeia. Claro que de um ponto de vista estratégico não deveremos ser sempre pessimistas mas, ao não evidenciarmos essa realidade, não melhoramos as nossas hipoteses.
Tenho acompanhado com estupor este simples facto: Se de um lado recebemos emigrantes (e já aqui disse quanto agrado isso me causa) a verdade é que estamos a perder novos imigrtantes para a Inglaterra, Holanda e Alemanha. E já não o campones desesperado, o pedreido inculto o pescador da borda de água que se vai . São profissionais, gente absolutamente essencial; marceneiros, desenhadores industriais, gente com escolaridade completa que não vê por cá futuro de qualquer espécie.
O que mais me doi, cara amiga, é que há pontos em que igualamos os países vizinhos: no consumo de droga, no desenvolvimento exponencial da corrupção, na incapacidade da escola e em mais um par de pontos pouco lisongeiros.
V diz (ou comenta): Portugal vale a pena. Eu digo mesmo contra o politicamente correcto: Não chega!
E vai chegar cada vez menos. A menos que se arrepie caminho. Pessoalmente começo a recear seriamente que isso não seja para o tempo que ainda tenho por cá. E veja: não há pior sensação que esta sobretudo se durante uma boa parte da nossa vida andamos a tentar mudar o mundo, o país e nós próprios. Não que me arrependa. Nada disso. Apenas pernso que de pouco serviu . Que de pouco servi. Não é, como calcula, um bom bilan de vie, helás, como dizia Camus.
sobretudo o que me aflige nesta vaga discussão que se lê por jornais ou televisão interposta, é que já ninguém fala sequer naquilo que define um país: o seu pensamento, a sua história e a sua cultura. Dir-se-ia que o primeiro é passado, a segunda não interessa e a terceira nãi faz viver ninguém...

Silvia Chueire disse...

É mesmo bom ler um artigo que valoriza o país. Escapar da coisa maniqueísta em que só se é bom ou mau.
Há que haver nos jornais as manchetes que falam das conquistas e as que criticam e/ou se preocupam com o rumo das coisas.
Vinda do país que venho e que reconheço nas suas qualidades ( que não são poucas) e que apesar delas não está no pelotão do meio , sei o valor que isto tem.

É preciso que o discurso da " o meu olhar" e do MCR convivam lado a lado, como aqui.

Abraços,
Silvia

O meu olhar disse...

Caro MCR, antes de mais folgo em sabê-lo amigo do Octávio Cunha, pessoa que admiro muito.

Quanto ao que referiu, eu não considero que fale mal por falar. Longe disso. E percebo também o seu desgosto, que acho, em certa medida natural, tanto mais que batalhou em sentido contrário de muitas das coisas que ocorrem actualmente.

O que quero reforçar é que é possível termos um discurso realista e positivo. Além disso, como sabe, eu não considero que as coisas estejam assim tão mal. Ainda hoje tive a oportunidade de estar junto de um conjunto de técnicos e de dirigentes em duas instituições diferentes e pude apreciar a vontade de fazer coisas, de avançar, de fazer melhor. Dá gosto. E posso dizer-lhe que esta não foi uma situação invulgar. No meu dia a dia tenho a sorte de poder trabalhar com muita gente que me transmite essa confiança no futuro. Claro que há também muita gente que não é assim, muito pelo contrário. Mas porque diabo eu deveria dar-lhes mais importância que aos outros? Além disso estão em minoria, daí a esperança.
É por todas estas razão que vale a pena insistir que “Portugal vale a pena”.

M.C.R. disse...

Como já conhece os meus sentimentos religiosos, só uso um "Deus a oiça" porque a tarefa me parece mais necessitada de um milagre que de outra coisa.
nos anos em quue me rebentasva todo por dirigir uma instituição en nome de Abril, por um ordenado que não refiro pelo barato que era, fui por duas vezes convidado a expatriarme para trabalhar em organismos internacionais. Recusei as duas vezes oorque achava que o meu lugar era aqui, ou seja ue Portugal valia a pena.
Passados vinte ou trinta anos começo a pensar que teria feito bem em aceitar qualquer desses convites. Teria trabalhado à mesma ao serviço das populações, portuguesa incluida, e não teria esta sensação de derrota nacional e pessoal . Subsidiariamente estaria bem melhor financeiramente. Não que isso me interesse especialmente mas a verdade é que estaria. Mas continuaremos este debate que é aliás o grande debate que aqui venho cxomentando desde que entre no blog.