04 janeiro 2007

Um País estranho…

O nosso país é de facto estranho. Um caso de estudo, diria mesmo. Se não, vejamos:

- Somos o país da Europa onde a banca cobra a taxa de juro mais elevada mas que, em contrapartida, vá-se lá saber com que justificação, remunera com a taxa mais baixa as poupanças;

- As empresas de distribuição de combustíveis que operam em Portugal efectuaram no nosso País aumentos, muito rapidamente, ao nível do que aumentaram no resto da Europa, com base na subida do preço do petróleo; todavia, quando se trata de descer fazem-no muito lentamente, sendo que nos restantes países o preço do combustível já baixou mais 20% do que baixou cá;

- Somos o segundo País da Europa comunitária com o maior número de juízes por 100 habitantes; temos o mesmo lugar no que toca a despesa pública na Justiça; curiosamente estamos também no topo da tabela no que toca ao número de processos pendentes no Sistema Judicial;

- Somos o País comunitário com maior despesa pública no Sistema Educativa ao que se contrapõe uma das maiores taxas de abandono escolar da Europa, apenas superada por Malta, e um dos mais baixos índices de alunos que concluem uma licenciatura.

Tudo isto é muito estranho… Uma das explicações que encontro é a falta de exigência, quer connosco, quer com os outros, ou seja: tendemos a ser um povo que se lamenta mas não é consequente. E lamenta-se sobretudo dos outros, tendendo a ter uma capacidade de autocrítica muito baixa. Sabemos tudo o que está mal, sobretudo no que respeita a responsabilidades alheias, mas em concreto pouco mudamos. Nem tão pouco exigimos verdadeiramente que os serviços que nos são prestados, públicos ou privados, sejam eficazes e profissionais ou os produtos que compramos seja de qualidade adequada. Queixamo-nos de tudo mas “comemos” tudo o que nos dão.

Se ouvirmos os agentes judiciais, educativos ou outros acerca destas matérias, o mais natural é que responsabilizem o “sistema”, os governos, etc, sempre entidades externas que servem para que cada um mantenha a boa consciência de si próprio. Contudo, não são os ministros nem os secretários de estado que gerem os Tribunais, as Escolas, os Hospitais, os Transportes Públicos. Ora, se o governo afecta mais meios a muitas dessas actividades do que afectam, comparativamente, os governos de outros países, o que é que falha?

Estas minhas reflexões não se devem a um “ataque” de pessimismo por algo estar a correr mal para as minhas bandas. Bem pelo contrário. Eu, pessoalmente, não tenho de que me queixar directamente e, além disso, sou optimista por natureza. O que me confrange, o que me envergonha mesmo, é ver este panorama, é ver estes números é o saber que é tão fácil mudar este estado de coisas e que se deixa andar… todos os dias, arrastando quotidianos que podiam ser tão diferentes, com benefício de todos.

A prova de que é fácil mudar é que os 10 milhões de treinadores de bancada deste País sabem com fazê-lo. Por isso, passemos à acção.

2 comentários:

M.C.R. disse...

Desconhecia que o nº de juizes fosse em proporção o mais elevado da Europa. Sei todavia que no supremo não há atrazos. Quanto às relações julgo que já haverá ainda que não demasiado escandalosos. No que toca á primeira instancia penso que talvez valesse a pena saber as razões. Fala-se em centenas de milhar de processos por pequenas dívidas: telefone móvel por exemplo. Será? Fala-se no uso e e abuso de expedientes para atrasar os processos. Aqui os alvos seriam os litigantes e os seus mandatários. Fala-se no sub-equipamento dos tribunais (que como testemunha já constatei, na falta de funcionários e nas demasiadas exigencias legais Será?

É claro que os exemplos dados no texto poderiam multiplicar-se: afinal o sistema subsiste graças à inércia, ao receio, ao conforto e de todos. Mas espanta saber, por exemplo que um jogador de futebol que não será especialmente versado em matéria financeira consiga ficar a dever de irs um milhão e tal de euros...

O meu olhar disse...

Caro MCR, eu também não consigo deixar de me espantar. Essa história da dívida do João Pinto é inacreditável.