04 março 2007

ecos da que foi terra de meus pais

e dos pais de meus pais e da família alargada, terra onde já não vou a enterros que os por lá ficaram tiveram já destino final mas, salvé!, terra onde ainda vou a casamentos, que a nova geração, nada e criada na capital algarvia, ali a dois passos, acarinha os laços ancestrais e, querendo sacramento, fazem questão da nexense Igreja Matriz .
Claro sinal dos tempos relatados no post que segue, ao procurar uma foto de Sta. Bárbara de Nexe na net (ou uma foto da estrada com vista para a encosta que domina Faro e a Ria Formosa, que lembro sempre nesta esta época, pintada de branco e salpicada de rosa das amendoeiras em flor) pouco mais encontrei que fotos de casas novas em sites de imobiliárias (*)... como diz o Sérgio, no post que segue, o desmando permitido durante anos, que fez com que nas encostas de Sta. Bárbara se fale quase mais inglês que português, é agora pretexto para afastar da sua terra os poucos jovens que ainda teimam em ficar!
Será que em Portugal tudo terá de ser sempre 8 ou 80?

(*) mas fica prometido: vou passar a formato digital fotos que tenho da aldeia, v.g. da que foi casa de meus avós paternos e que se manteve na família até ao limite do possível, no sítio da Silveira, e da Igreja matriz de Sta. Bárbara, e vou colocá-las aqui no Inc. [até porque não quero ficar atrás do Marcelo/mcr, que nos tem trazido imagens belíssimas~e sabemos com que esforço de progressão nas lides informáticas :) ]!


jovem membro da Junta de Freguesia de Santa Bárbara de Nexe


O Plano Regional de Ordenamento do Território do Algarve (PROTAL) propõe o fim das razões ponderosas para a construção de habitação fora de zonas urbanas. Este regime talvez nem sequer represente 5% das construções aprovadas.
Na minha Freguesia de Santa Bárbara de Nexe (Faro), que não tem tradição de zonas urbanas, caracterizando-se sempre pela habitação dispersa em sítios e pequenos aglomerados, alguns conterrâneos meus, especialmente jovens, por não terem habitação própria, conseguiram construir a sua casa ao abrigo das razões ponderosas. Mas, muitos também foram os que não conseguiram. O Gilberto casou-se e teve que ir morar para São Brás, o Ricardo com a esposa e filha foi para São Brás, outro Ricardo e a companheira foi para Loulé, o Joel com a esposa e filho foi para o Montenegro, o Didier foi para Loulé. O Celso e o Nelson também correm esse risco. E tantos outros, da minha geração. Tantos outros pelas Freguesias do Barrocal e Serra do Algarve. Porque não tinham habitação própria, porque a oferta habitacional na Freguesia de Santa Bárbara de Nexe é altamente inflacionada pela sua vocação turística, porque a alguns lhes foram recusadas razões ponderosas.
É um grito de alerta, angústia e revolta por ver os jovens da minha terra, que amam esta Terra de Nexe, que querem cá viver, partirem para outros destinos porque não lhes deixam construir a sua própria casa. E assim se vai perdendo as gentes locais nas aldeias do Algarve, as gentes que mantêm as tradições, as gentes sem as quais as aldeias se vão descaracterizando e perdendo parte da sua atracção turística.
Nem sequer querem construir nos bicos dos serros, mas em terrenos perto de estradas, servidos ou a servir muito brevemente por água e esgotos, em terrenos que por razões várias não têm aproveitamento agrícola e que ficarão ao abandono. Entretanto vão intensificar alguns caos urbanísticos citadinos.
É obvio que sabemos que em alguns casos, mas nenhuns ou poucos nesta Freguesia, terão havido aproveitamentos abusivos das razões ponderosas para construir para negócio. Mas o PROTAL em lugar de estudar e aplicar mecanismos de salvaguarda, obrigatoriedade, reversão, penalização ou outros que evitem esses abusos, previu simplisticamente proibir a habitação própria e recusar o direito à habitação.
A Junta de Freguesia de Santa Bárbara de Nexe, em período de discussão pública, discordou do PROTAL e propôs cláusulas de excepção, claras e ponderadas na habitação dispersa para pessoas com ligações familiares, profissionais ou culturais à(s) Freguesia(s). A Câmara Faro também discorda, assim como 500 Nexenses num abaixo-assinado.
Também porque a prevista, mas muito limitada, ampliação de alguns aglomerados ficará presa sob a inflação da vocação turística da Freguesia e da sua procura por gente com poder aquisitivo elevado para habitações suburbanas.
Vamos ver qual será a proposta final do PROTAL. Vamos ver se a discussão pública não foi em larga medida um simulacro. Vamos ver se o Conselho Regional da CCDR-Algarve não se vai pronunciar sobre a proposta final, que é da sua competência, abrindo-se espaço para a impugnação do PROTAL. Vamos ver se vai imperar uma lógica de muito desconhecimento dos gabinetes das capitais, em Faro ou Lisboa, sobre a vida real das pessoas que habitam fora dessas capitais.

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