27 abril 2007

Estes dias que passam 57




É difícil destrinçar entre o homem generoso e corajoso e o artista insigne que marcou compositores tão importantes quanto Prokofiev, Bernstein ou Chostakovitch.
É difícil esquecer o artista laureado que, por defender os direitos humanos na URSS, se vê obrigado a emigrar e é destituído da cidadania soviética.
Ouvi-lo era um milagre repetido graças aos novos processos de gravação. Até nisso fomos abençoados nesse terrível século XX que viu alguns dos mais livres serem perseguidos por defender o mais simples direito, o de existir.
Num dia que agora parece longínquo, Mistilav Rostropovitch pegou no violoncelo e tocou Bach junto a um muro que ruía em Berlin.
E essa música poderosa e fluente pareceu a todos quantos o vimos uma torrente purificadora de boa dose dos nossos pecados laicos e liberticidas.
E por um momento, para sempre?, a infâmia daquela construção sinistra pareceu afundar-se, desaparecer conjuntamente com os seus obreiros e com tudo o que de terrível e ignóbil aquilo significava.
Morreu um justo, um enorme músico, um herói e um homem que aspirou sempre a ser apenas isso: um homem numa terra de homens.

1 comentário:

Kamikaze (L.P.) disse...

Já republiquei o seu post (1º passo a dar quando há destas alterações misteriosas aos posts) e nada de foto; tentei encontrá-la na net mas não deu. Sugestão: elimine a foto e coloque outra...
de futuro, grave a foto escolhida nos seus documentos e publique essa foto e não a da web :) vai ver que nunca mais desaparece :)