Não será o filho da minha mãe que contestará a apologia do exercício físico que S.ª Ex.ª o Sr. 1º Ministro prodiga pelo exemplo. Daí não vem mal ao mundo e o cheirinho a suor passa com muita água e sabão. Pessoalmente, e isto é o que agora se chama registo de interesses, sou de pouca corrida mas, milagre!, de muito andar. Gosto de andar, coisa que, na minha fotografia mais recente, não se adivinha. Mas de facto, gosto de andar. Claro que nem todos os lugares são bons para o efeito mas onde há uma mínima hipótese é verem-me fazer, sem alarido e sabiamente distribuídos pelo dia, uma dúzia, dúzia e meia de quilómetros. A minha melhor pista é Paris. Conheço o raio da terra passo a passo, rua a rua a rua, beco a beco. Nos últimos anos nem sequer me previno com um carnet de bilhetes de metro. É à pata que vou aos sítios que me propus. Fora isso, gosto de andar na praia. Se possível à conversa.
Portanto, e para abreviar, sou um caminheiro. Caminheiro paisano, nada desses actuais comedores de estrada que ao sol e à chuva, andam cada fim de semana por montes e vales. Eu ando em piso seco, asfaltado, com livrarias, cafés, galerias de pintura pelo meio. E algum sítio onde sirvam uma mimosa cervejinha ao sedento.
Ora, depois disto, a que vem S.ª Ex.ª o Sr. 1º Ministro (repararam na delicadeza, consideração e respeito?, ai não, que ainda me ferram algum processo!) e a sua corrida, todo paramentado de corredor?
Pois S.ª Ex.ª vem a estas humildes páginas que se regozijam com a sua grata e exaltante presença, porque andou a correr na Moscóvia, mais: na Praça Vermelha, essa mesma, entre o Kremlin e o santuário onde repousa a múmia do réprobo Lenin.
Merecia, convenhamos. S.ª Ex.ª não merece menos do que a praça onde a nomemklatura assistia, derreada ao peso das condecorações, à parada do 1º de Maio.
Aliás, tenho mesmo o meigo pressentimento de que o tovaritch Putin entendeu homenagear o governante português com a oferta de uma inteira praça deserta para correr. Claro que também lhe poderia oferecer uma medalha de “herói da união soviética” ou um passeio pela encantadora taiga siberiana, Vorkuta incluída.
Mas a verdade é que S.ª Ex.ª correu na Praça Vermelha. E para o efeito, esta foi fechada à peonagem habitual. E ainda bem! Porque se a praça estivesse aberta às “mais amplas camadas populares” poder-se-ia dar o caso de algum façanhudo zelota entender atacar S.ª Ex.ª por razões que nada têm a ver com Portugal e as suas admiráveis autoridades. Há russos assim, maus, de bigode, que se persignam ao contrário e que passam a melhor parte do seu tempo a fabricar vodka falsa e a bebê-la. E batem nas pessoas!
Aliás na Rússia putinesca, digo pitoresca, gente na rua é sempre mau sinal. Ou reclamam contra as autoridades, ou atacam os manifestantes que pedem o fim da homofobia. Ainda no sábado (ou domingo) houve sarrabulho gordo à conta de um punhado de desviados que apesar de saberem estar proibida a sua manifestação (indecorosa, claro!) vieram para a rua atacar os são valores da Igreja ortodoxa, da moral social e amparados por uns deputados do parlamento europeu, quiseram impor pela força, logo ilegalmente, os direitos da sua minoria. Felizmente o povo, que é sereno, acorreu e espancou piedosa e convenientemente estes indignos exemplares do género humano. E de caminho, afinfou nos deputados europeus que se foram meter onde não deviam, vão lá para a terra deles cometer imoralidades, já se viu o descaramento? Depois a benévola polícia municipal, prendeu alguns desses desviantes e tudo acabou serenamente como é próprio da Rússia actual.
Parece-me, se S.ª Ex.ª me permite, que depois deste incidente, a corrida poderia ter sido postergada. Ou realizada noutro sítio, sem praças fechadas a cadeado policial, sem permitir que um acto tão simples, correr, possa ser interpretado como um atestado à democraticidade das instituições moscovitas. Sem, permita-me novamente, dar assim um ar de visita a um pais normal, normalmente governado, por gente normalmente eleita...
Eu sei pouco do interesse estratégico da Rússia para o nosso comércio, a nossa indústria, enfim os nossos exportadores. Desconheço, miseravelmente, quantos sapatos, quantas latas de tomate ou de sardinha vendemos para lá. Desconheço se eles pagam, enfim, não sei nada. Ou melhor: sei que a Rússia actual, para além da imensa admiração que nutre por Portugal e pelos seus sábios governantes, está interessada em vender-nos vodka siberiana, peles, alguns submarinos atómicos em estado sofrível e gás. Alguém aqui do lado diz que também nos querem vender pepinos em conserva. Seja! Mas mais baratos do que os polacos, senão, não!
Tudo isto e a conversão da Rússia à Senhora de Fátima valerá uma missa. Vale um Primeiro Ministro em trajes menores a correr numa praça vermelha deserta?
Na fotografia: o admirável monge Rasputin (não confundir com Putin, sff) que também gostava de deambular pela praça vermelha...
Portanto, e para abreviar, sou um caminheiro. Caminheiro paisano, nada desses actuais comedores de estrada que ao sol e à chuva, andam cada fim de semana por montes e vales. Eu ando em piso seco, asfaltado, com livrarias, cafés, galerias de pintura pelo meio. E algum sítio onde sirvam uma mimosa cervejinha ao sedento.
Ora, depois disto, a que vem S.ª Ex.ª o Sr. 1º Ministro (repararam na delicadeza, consideração e respeito?, ai não, que ainda me ferram algum processo!) e a sua corrida, todo paramentado de corredor?
Pois S.ª Ex.ª vem a estas humildes páginas que se regozijam com a sua grata e exaltante presença, porque andou a correr na Moscóvia, mais: na Praça Vermelha, essa mesma, entre o Kremlin e o santuário onde repousa a múmia do réprobo Lenin.
Merecia, convenhamos. S.ª Ex.ª não merece menos do que a praça onde a nomemklatura assistia, derreada ao peso das condecorações, à parada do 1º de Maio.
Aliás, tenho mesmo o meigo pressentimento de que o tovaritch Putin entendeu homenagear o governante português com a oferta de uma inteira praça deserta para correr. Claro que também lhe poderia oferecer uma medalha de “herói da união soviética” ou um passeio pela encantadora taiga siberiana, Vorkuta incluída.
Mas a verdade é que S.ª Ex.ª correu na Praça Vermelha. E para o efeito, esta foi fechada à peonagem habitual. E ainda bem! Porque se a praça estivesse aberta às “mais amplas camadas populares” poder-se-ia dar o caso de algum façanhudo zelota entender atacar S.ª Ex.ª por razões que nada têm a ver com Portugal e as suas admiráveis autoridades. Há russos assim, maus, de bigode, que se persignam ao contrário e que passam a melhor parte do seu tempo a fabricar vodka falsa e a bebê-la. E batem nas pessoas!
Aliás na Rússia putinesca, digo pitoresca, gente na rua é sempre mau sinal. Ou reclamam contra as autoridades, ou atacam os manifestantes que pedem o fim da homofobia. Ainda no sábado (ou domingo) houve sarrabulho gordo à conta de um punhado de desviados que apesar de saberem estar proibida a sua manifestação (indecorosa, claro!) vieram para a rua atacar os são valores da Igreja ortodoxa, da moral social e amparados por uns deputados do parlamento europeu, quiseram impor pela força, logo ilegalmente, os direitos da sua minoria. Felizmente o povo, que é sereno, acorreu e espancou piedosa e convenientemente estes indignos exemplares do género humano. E de caminho, afinfou nos deputados europeus que se foram meter onde não deviam, vão lá para a terra deles cometer imoralidades, já se viu o descaramento? Depois a benévola polícia municipal, prendeu alguns desses desviantes e tudo acabou serenamente como é próprio da Rússia actual.
Parece-me, se S.ª Ex.ª me permite, que depois deste incidente, a corrida poderia ter sido postergada. Ou realizada noutro sítio, sem praças fechadas a cadeado policial, sem permitir que um acto tão simples, correr, possa ser interpretado como um atestado à democraticidade das instituições moscovitas. Sem, permita-me novamente, dar assim um ar de visita a um pais normal, normalmente governado, por gente normalmente eleita...
Eu sei pouco do interesse estratégico da Rússia para o nosso comércio, a nossa indústria, enfim os nossos exportadores. Desconheço, miseravelmente, quantos sapatos, quantas latas de tomate ou de sardinha vendemos para lá. Desconheço se eles pagam, enfim, não sei nada. Ou melhor: sei que a Rússia actual, para além da imensa admiração que nutre por Portugal e pelos seus sábios governantes, está interessada em vender-nos vodka siberiana, peles, alguns submarinos atómicos em estado sofrível e gás. Alguém aqui do lado diz que também nos querem vender pepinos em conserva. Seja! Mas mais baratos do que os polacos, senão, não!
Tudo isto e a conversão da Rússia à Senhora de Fátima valerá uma missa. Vale um Primeiro Ministro em trajes menores a correr numa praça vermelha deserta?
Na fotografia: o admirável monge Rasputin (não confundir com Putin, sff) que também gostava de deambular pela praça vermelha...
2 comentários:
D' Oliveira sabe que o Rasputine da foto pareceu-me aquele do Hugo Pratt, esse sim iria dar-se lindamente com o nosso primeiro:)
Engano Ferreira, engano. O Rasputin que se daria bem com Sª Exª era o verdadeiro.
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