Bizarro, bizarro
Pronto, já está, a prima Maria Manuel e a Ana Benavente lá se apresentaram ao público leitor lisboeta com alguma tardança depois da apresentação da Póvoa. Damas, ases e valetes (Teorema ed.) chama-se o livrinho escrito a quatro mãos, coisa relativamente rara, como se sabe. Já aqui falei do livro mas, mesmo que não tivesse falado, não o iria comentar. Os livros são para ser lidos e esse prazer não o vou tirar a ninguém resumindo-o ou sequer referindo-lhe temas e filiações. Acho que está bem escrito e que a trama de fundo é suficientemente engenhosa para se dar por bem perdidos os morabitinos que custa. E que, aliás, são poucos.
A apresentação do livro esteve a cargo de Inês Pedrosa cujo texto me pareceu interessante se bem que eu, no que toca a apresentações, tenha uma bizarria: nunca mais de dez minutos, vá lá, um quarto de hora. É um principio que admite excepções, já se vê, mas poucas e bem fundadas. Este género de eventos serve para juntar malta conhecida e permitir aquilo a que chamo, conversa de corredor de congressos. E se havia gente conhecida, nesta sessão de fim de tarde na Casa de Fernando Pessoa. Acredite-se ou não, e porque é que não haviam de acreditar?, encontrei gente do velho grupo que se encontrava na livraria “Opinião” e que fazia da “Trave” dos irmãos Santos e Jaime a cantina habitual. Que conversas longuíssimas, os manos Santos a tratarem-me por senhor doutor, o único a merecer tal “distinção” se é que o era, e que punha a Fernanda Birrento louca, porque ao namorado, licenciado em História no Chile, os Santos chamavam simplesmente “Roberto”, Roberto Santandreu fotógrafo de mão cheia que se deixou ficar por este pais onde chegou refugiado político nos anos setenta. Dessa velha comandita já se foram uns quantos, a começar pelo Hipólito Clemente nosso hospedeiro, e continuando pelo Al Berto cujo primeiro livro foi lançado na “Opinião”, o “Cabeça de Vaca” que me cumprimentava sempre com um “olá Marcelo, abonas-me vintinhos, olha que não é para sopa mas para cerveja...” e eu, cruel, só lhe estendia a nota se ele viesse jantar connosco, pagando eu, claro, mas o Cabeça era um tipo finíssimo, inteligente e de boa companhia, parece que uma vez ele e a mulher empenharam um céu da boca (dela) de platina, vejam bem, será que o resgataram?, o “índio melgarejo” que terá regressado à sua Bolívia natal e por lá morrido, o índio também era um tipo engraçado mas perdia-se por uma cerveja, digo por muitas cervejas, e uma chusma de foliões, ligados às belas artes ou à escrita para não falar dos músicos, os Salomé, o Adriano, o Zeca, de vez em quando, e o Sérgio. Que tempos! É claro que todas as gerações têm os seus tempos, nós não fomos excepção, tivemos é a sorte de ser apanhados ainda em boa idade pelo vinte e cinco de Abril e isso, esses anos de real gozo, de aprendizagem da liberdade, de uso desta, ninguém nos tira. Eu, que já trabalhava “a sério”, vinha muitas vezes a Lisboa em serviço e isso proporcionou-me conhecer gente, muita gente, quase tudo boa gente, alegre, irreverente e iconoclasta. Vem daí o conhecimento com o Manuel da Fonseca, o Herberto, o Cardoso Pires (que para a minha avó, leitora infatigável e atabalhoada, foi sempre Pires Cardoso, acho mesmo que, uma vez, o Zé CP lhe dedicou um livro com um “Pires Cardoso , afectuosamente”) e mais uma série de escribas de alto voo, o Luís Pacheco, por exemplo. A Opinião (hoje é a livraria da Cotovia) era um porto de abrigo, um local de passagem obrigatória ao fim da tarde. E claro, havia quem lá fosse por livros embora para o fim, a livraria, já não oferecesse uma grande escolha.
Mas tudo isto vinha a propósito da saída de um romance onde se fala da geração de sessenta e da seguinte, da aventura da política e da emigração e da resistência. Ao que parece tudo isso é agora posto em questão, ou quase, agora os políticos no activo que restam desse tempo, parecem acomodados, rendidos à conspirata parlamentar, tementes em relação ao líder político do momento e ao aparelho do partido, esquecidos dos ideais que os levaram até a arena. Aterra-me ver o que o tempo fez deles, ou que eles fizeram de si mesmos, será que não coram quando, pela manhã, fazem a barba ou simplesmente lavam a cara, diante de um espelho?
E vinha também a propósito de um romance feito por duas mulheres, que se contam percursos, sonhos, ásperas realidades. Por aqui, várias vezes tenho referido o quanto me entusiasmou nos finais de sessenta a entrada em força das minhas colegas, camaradas e amigas na luta, animosas e desinteressadas. Presenciei, raio de palavra, actos e gestos de coragem que dizem muito da força e da serenidade das mulheres para agora me desinteressar do que se passa e vou vendo por aí. Estamos num país que treme virtuosamente à simples menção de pedofilia mas que tem por normal que as mulheres apanhem pela medida grande de maridos, namorados e amantes. Estamos num país que inventa delitos todos os dias, agora até o de fumar (e eu já não fumo) e que pede a delação por parte dos não fumadores, como pede a delação das corrupções verdadeiras ou inventadas ( com manual apropriado! E garantias de anonimato...) mas que se esquece de avisar (e punir) a denúncia caluniosa. Estamos no país em que já se vai minando a liberdade de imprensa à pala do jornalismo de sarjeta, depois queixem-se, a liberdade é una e indivisível e se porventura algum jornalista fizer das suas, polícia com ele, tribunal com ele, que já há muito que isso está legislado.
Nunca percebi, e finalmente sou um jurista, desactivado mas jurista, que diabo!, para que serve esta diarreia legislativa que ainda vai acabar num decálogo do bom e prudente uso do papel higiénico, se entretanto não se considerar crime a cagadinha diária, sabe-se lá. Já Eça num texto magnifico (mas terá ele outra coisa senão textos magníficos? ) dizia a propósito dos Açores que quando estes pediam medidas claras, simples e valorizadoras das suas potencialidades, o Estado se limitava a mandar-lhe desembargadores...
Olhem, mandem alguns para a Madeira, já que não querem ter a maçada de lhe conceder a independência, ameaça cíclica do trovejante Jardim que nos trata como os da ETA tratam o governo espanhol. Eu não quero colonizar a Madeira, não quero pagar a insularidade para depois ser tratado abaixo de cão, estou farto de ver as palhaçadas do senhor Jardim, de o ouvir, parece que os jornalistas o tomam pelo moderno oráculo de Delfos. Basta!
Eu ia falar nessa última bizarria que é a Câmara de Lisboa, mas gostaria de recordar que até há bem pouco, ninguém queria eleições. Hoje pela manhã já as queriam para a Câmara e para a Assembleia Municipal. Ainda não percebi por que é que esta última vem ao barulho, ou será que a fome deu em fartura?
Pouco me importa o facto de Carmona Rodrigues recusar a demissão. Percebo que ele entenda tal gesto como uma confissão de culpa. Já entendo menos que os restantes elementos psd na vereação não acatem a ordem de Marques Mendes mas, por Júpiter, pede-se aos restantes partidos contenção verbal na sua, agora, súbita indignação. Tarde piam, muito tarde, mesmo.
Em segundo lugar, parece-me descabido o contínuo acosso ao dr. Marques Mendes (que não conheço, não quero conhecer, não tenho tempo para tal e se tivesse preferiria ir até França dar uma forcinha à Segolene Royal, mas já lá iremos). Os chefes da oposição neste bendito país são menos do que caloiros em Coimbra: ninguém lhes liga patavina, nem a imprensa nem os camaradas de partido que só pensam em apeá-los nem os leitores. Lembrem-se de como pregavam no deserto Marcelo, Sampaio, Ferro Rodrigues ou Barroso... E o que, virtuosamente, se dizia deles: inexistentes, inexperientes, fantasmas e mais umas quantas coisas desmoralizantes. O dr. Mendes ontem na tv, nos escassos minutos em que o ouvi, pareceu-me pessoa de bem e nada parvo. Verdade se diga que o ouvi cinco escassos minutos e depois fui jogar bridge para o computador, actividade por demais séria para me entreter com o par Mendes/Judite de Sousa.
Direi mesmo mais: Mendes nesse curto espaço de tempo pareceu-me mais convincente que Sócrates a debitar sobre o seu currículo, mas de facto também não dei a este último mais que os cinco minutos concedidos a Mendes. Todavia ainda estou à espera de explicações convincentes, repito convincentes, sobre o seu malabarismo escolar. Já sei que para se ser um bom 1º ministro basta a quarta classe mas não é disso que se trata. Não fui eu que inventei um engenheiro, foi ele, mesmo sem precisar, por isso que se desengome.
Termino, este périplo com uma boa nova: li dois discursos honrados, sérios e inteligentes. São seus autores Luis Miguel Cintra e José Mattoso, prémios da latinidade. Ora aqui estão dois cavalheiros já não especialmente novos, que ainda conseguem comover o escriba. Já nem sei se por serem intrinsecamente bons no que fazem, como o fazem e porque o fazem, ou por serem meros resistentes ao tsunami de mediocridade que percorre a pátria madrasta. Inclino-me para a primeira hipótese mas celebro-lhes também a segunda: são dois cidadãos que honram as Artes e as Ciências Históricas e que deixam uma marca no século XX e nestes primeiros tempos do XXI. O tempo, esse grande escultor, mostrará se mais tarde ao falar-se deles se não perguntará (como no caso de Oliveira Martins, p. ex.) quem era então o 1º ministro da altura. Quem souber responder com rapidez que levante a mão.
Não vi os discursos publicados no tal jornal de referencia de modo que se alguém os quiser que mos peça que os tenho para aí copiados.
Este texto é uma segunda versão de um outro semi-perdido nos esconsos do filha da mãe do computador. Sai pois com o atraso de um dia. Isto apenas para explicar que o período sobre jornalismo é anterior à leitura do brilhante comentário de Vasco Pulido Valente. Não fora eu pensar que todos não somos demais para defender a liberdade de imprensa, que o tiraria por manifestamente pobre perante o do VPV. Mas acaba por sair tal e qual se salvou do acidente vascular computacional.
Eu não voto em França, e bem pena tenho, mas que hei-de fazer? todavia segui com atenção o debate presidencial. E gostaria de dizer - ainda que, perdedor nato, esteja porventura a estragar a vida de Segolene Royal: vi uma mulher inteira, bonita, inteligente e compassiva. Vi-a subir a pulso todos os degraus da vida política francesa e, lá- como cá- as mulheres tem à sua frente mais degraus que os homens, deve ser uma questão de hormonas. vi-a ganhar as sucessivas batalhas, e foram muitas e à má fila. Chega por direito próprio à eleição presidencial. Ficava bem e era justíssimo vê-la a dirigir a douce France. Já sei que lhe auguram a derrota mas, mesmo sem a conhecer ,daqui lhe mando uma metafórica rosa chá e, como há pouco tempo o fiz com Angela Merkel, beijo-lhe a mão. com respeito mas fraternamente. como camarada, como homem e como virtual eleitor. Mes compliments, Madame Royal.
A apresentação do livro esteve a cargo de Inês Pedrosa cujo texto me pareceu interessante se bem que eu, no que toca a apresentações, tenha uma bizarria: nunca mais de dez minutos, vá lá, um quarto de hora. É um principio que admite excepções, já se vê, mas poucas e bem fundadas. Este género de eventos serve para juntar malta conhecida e permitir aquilo a que chamo, conversa de corredor de congressos. E se havia gente conhecida, nesta sessão de fim de tarde na Casa de Fernando Pessoa. Acredite-se ou não, e porque é que não haviam de acreditar?, encontrei gente do velho grupo que se encontrava na livraria “Opinião” e que fazia da “Trave” dos irmãos Santos e Jaime a cantina habitual. Que conversas longuíssimas, os manos Santos a tratarem-me por senhor doutor, o único a merecer tal “distinção” se é que o era, e que punha a Fernanda Birrento louca, porque ao namorado, licenciado em História no Chile, os Santos chamavam simplesmente “Roberto”, Roberto Santandreu fotógrafo de mão cheia que se deixou ficar por este pais onde chegou refugiado político nos anos setenta. Dessa velha comandita já se foram uns quantos, a começar pelo Hipólito Clemente nosso hospedeiro, e continuando pelo Al Berto cujo primeiro livro foi lançado na “Opinião”, o “Cabeça de Vaca” que me cumprimentava sempre com um “olá Marcelo, abonas-me vintinhos, olha que não é para sopa mas para cerveja...” e eu, cruel, só lhe estendia a nota se ele viesse jantar connosco, pagando eu, claro, mas o Cabeça era um tipo finíssimo, inteligente e de boa companhia, parece que uma vez ele e a mulher empenharam um céu da boca (dela) de platina, vejam bem, será que o resgataram?, o “índio melgarejo” que terá regressado à sua Bolívia natal e por lá morrido, o índio também era um tipo engraçado mas perdia-se por uma cerveja, digo por muitas cervejas, e uma chusma de foliões, ligados às belas artes ou à escrita para não falar dos músicos, os Salomé, o Adriano, o Zeca, de vez em quando, e o Sérgio. Que tempos! É claro que todas as gerações têm os seus tempos, nós não fomos excepção, tivemos é a sorte de ser apanhados ainda em boa idade pelo vinte e cinco de Abril e isso, esses anos de real gozo, de aprendizagem da liberdade, de uso desta, ninguém nos tira. Eu, que já trabalhava “a sério”, vinha muitas vezes a Lisboa em serviço e isso proporcionou-me conhecer gente, muita gente, quase tudo boa gente, alegre, irreverente e iconoclasta. Vem daí o conhecimento com o Manuel da Fonseca, o Herberto, o Cardoso Pires (que para a minha avó, leitora infatigável e atabalhoada, foi sempre Pires Cardoso, acho mesmo que, uma vez, o Zé CP lhe dedicou um livro com um “Pires Cardoso , afectuosamente”) e mais uma série de escribas de alto voo, o Luís Pacheco, por exemplo. A Opinião (hoje é a livraria da Cotovia) era um porto de abrigo, um local de passagem obrigatória ao fim da tarde. E claro, havia quem lá fosse por livros embora para o fim, a livraria, já não oferecesse uma grande escolha.
Mas tudo isto vinha a propósito da saída de um romance onde se fala da geração de sessenta e da seguinte, da aventura da política e da emigração e da resistência. Ao que parece tudo isso é agora posto em questão, ou quase, agora os políticos no activo que restam desse tempo, parecem acomodados, rendidos à conspirata parlamentar, tementes em relação ao líder político do momento e ao aparelho do partido, esquecidos dos ideais que os levaram até a arena. Aterra-me ver o que o tempo fez deles, ou que eles fizeram de si mesmos, será que não coram quando, pela manhã, fazem a barba ou simplesmente lavam a cara, diante de um espelho?
E vinha também a propósito de um romance feito por duas mulheres, que se contam percursos, sonhos, ásperas realidades. Por aqui, várias vezes tenho referido o quanto me entusiasmou nos finais de sessenta a entrada em força das minhas colegas, camaradas e amigas na luta, animosas e desinteressadas. Presenciei, raio de palavra, actos e gestos de coragem que dizem muito da força e da serenidade das mulheres para agora me desinteressar do que se passa e vou vendo por aí. Estamos num país que treme virtuosamente à simples menção de pedofilia mas que tem por normal que as mulheres apanhem pela medida grande de maridos, namorados e amantes. Estamos num país que inventa delitos todos os dias, agora até o de fumar (e eu já não fumo) e que pede a delação por parte dos não fumadores, como pede a delação das corrupções verdadeiras ou inventadas ( com manual apropriado! E garantias de anonimato...) mas que se esquece de avisar (e punir) a denúncia caluniosa. Estamos no país em que já se vai minando a liberdade de imprensa à pala do jornalismo de sarjeta, depois queixem-se, a liberdade é una e indivisível e se porventura algum jornalista fizer das suas, polícia com ele, tribunal com ele, que já há muito que isso está legislado.
Nunca percebi, e finalmente sou um jurista, desactivado mas jurista, que diabo!, para que serve esta diarreia legislativa que ainda vai acabar num decálogo do bom e prudente uso do papel higiénico, se entretanto não se considerar crime a cagadinha diária, sabe-se lá. Já Eça num texto magnifico (mas terá ele outra coisa senão textos magníficos? ) dizia a propósito dos Açores que quando estes pediam medidas claras, simples e valorizadoras das suas potencialidades, o Estado se limitava a mandar-lhe desembargadores...
Olhem, mandem alguns para a Madeira, já que não querem ter a maçada de lhe conceder a independência, ameaça cíclica do trovejante Jardim que nos trata como os da ETA tratam o governo espanhol. Eu não quero colonizar a Madeira, não quero pagar a insularidade para depois ser tratado abaixo de cão, estou farto de ver as palhaçadas do senhor Jardim, de o ouvir, parece que os jornalistas o tomam pelo moderno oráculo de Delfos. Basta!
Eu ia falar nessa última bizarria que é a Câmara de Lisboa, mas gostaria de recordar que até há bem pouco, ninguém queria eleições. Hoje pela manhã já as queriam para a Câmara e para a Assembleia Municipal. Ainda não percebi por que é que esta última vem ao barulho, ou será que a fome deu em fartura?
Pouco me importa o facto de Carmona Rodrigues recusar a demissão. Percebo que ele entenda tal gesto como uma confissão de culpa. Já entendo menos que os restantes elementos psd na vereação não acatem a ordem de Marques Mendes mas, por Júpiter, pede-se aos restantes partidos contenção verbal na sua, agora, súbita indignação. Tarde piam, muito tarde, mesmo.
Em segundo lugar, parece-me descabido o contínuo acosso ao dr. Marques Mendes (que não conheço, não quero conhecer, não tenho tempo para tal e se tivesse preferiria ir até França dar uma forcinha à Segolene Royal, mas já lá iremos). Os chefes da oposição neste bendito país são menos do que caloiros em Coimbra: ninguém lhes liga patavina, nem a imprensa nem os camaradas de partido que só pensam em apeá-los nem os leitores. Lembrem-se de como pregavam no deserto Marcelo, Sampaio, Ferro Rodrigues ou Barroso... E o que, virtuosamente, se dizia deles: inexistentes, inexperientes, fantasmas e mais umas quantas coisas desmoralizantes. O dr. Mendes ontem na tv, nos escassos minutos em que o ouvi, pareceu-me pessoa de bem e nada parvo. Verdade se diga que o ouvi cinco escassos minutos e depois fui jogar bridge para o computador, actividade por demais séria para me entreter com o par Mendes/Judite de Sousa.
Direi mesmo mais: Mendes nesse curto espaço de tempo pareceu-me mais convincente que Sócrates a debitar sobre o seu currículo, mas de facto também não dei a este último mais que os cinco minutos concedidos a Mendes. Todavia ainda estou à espera de explicações convincentes, repito convincentes, sobre o seu malabarismo escolar. Já sei que para se ser um bom 1º ministro basta a quarta classe mas não é disso que se trata. Não fui eu que inventei um engenheiro, foi ele, mesmo sem precisar, por isso que se desengome.
Termino, este périplo com uma boa nova: li dois discursos honrados, sérios e inteligentes. São seus autores Luis Miguel Cintra e José Mattoso, prémios da latinidade. Ora aqui estão dois cavalheiros já não especialmente novos, que ainda conseguem comover o escriba. Já nem sei se por serem intrinsecamente bons no que fazem, como o fazem e porque o fazem, ou por serem meros resistentes ao tsunami de mediocridade que percorre a pátria madrasta. Inclino-me para a primeira hipótese mas celebro-lhes também a segunda: são dois cidadãos que honram as Artes e as Ciências Históricas e que deixam uma marca no século XX e nestes primeiros tempos do XXI. O tempo, esse grande escultor, mostrará se mais tarde ao falar-se deles se não perguntará (como no caso de Oliveira Martins, p. ex.) quem era então o 1º ministro da altura. Quem souber responder com rapidez que levante a mão.
Não vi os discursos publicados no tal jornal de referencia de modo que se alguém os quiser que mos peça que os tenho para aí copiados.
Este texto é uma segunda versão de um outro semi-perdido nos esconsos do filha da mãe do computador. Sai pois com o atraso de um dia. Isto apenas para explicar que o período sobre jornalismo é anterior à leitura do brilhante comentário de Vasco Pulido Valente. Não fora eu pensar que todos não somos demais para defender a liberdade de imprensa, que o tiraria por manifestamente pobre perante o do VPV. Mas acaba por sair tal e qual se salvou do acidente vascular computacional.
Eu não voto em França, e bem pena tenho, mas que hei-de fazer? todavia segui com atenção o debate presidencial. E gostaria de dizer - ainda que, perdedor nato, esteja porventura a estragar a vida de Segolene Royal: vi uma mulher inteira, bonita, inteligente e compassiva. Vi-a subir a pulso todos os degraus da vida política francesa e, lá- como cá- as mulheres tem à sua frente mais degraus que os homens, deve ser uma questão de hormonas. vi-a ganhar as sucessivas batalhas, e foram muitas e à má fila. Chega por direito próprio à eleição presidencial. Ficava bem e era justíssimo vê-la a dirigir a douce France. Já sei que lhe auguram a derrota mas, mesmo sem a conhecer ,daqui lhe mando uma metafórica rosa chá e, como há pouco tempo o fiz com Angela Merkel, beijo-lhe a mão. com respeito mas fraternamente. como camarada, como homem e como virtual eleitor. Mes compliments, Madame Royal.
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Não sei o que deu ao blog (ou a mim?) para não permitir comentários a este postal. Os leitores que me escreveram mails a protestar já podem, se aqui voltarem,comentar. E façam o favor de desculpar
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