19 maio 2007

Estes dias que passam 62



Há mulheres para tudo
(e homens também)


Suponho que é o Expresso que traz a notícia: A Madeira é a segunda região mais rica de Portugal. Os seus habitantes viram a sua riqueza aumentar 142 vezes em cerca de 30 anos! Ora aqui está um belo argumento para conceder imediatamente a independência à Madeira. Não é a metrópole rica que expulsa a filha pobre. É a mãe pobre que permite, sem ressentimento, o voo livre da filha rica que se queixa continuamente do “colonialismo” da primeira.

O senhor Wolfowitz lá pediu a demissão de presidente do Banco Mundial. A demissão foi prontamente concedida. Lembremos apenas que Wolfowitz tinha atribuído a uma senhora sua namorada e funcionária do banco em causa um ordenado milionário. Os restantes funcionários, porventura por não terem acesso ao leito do benemérito Wolfowitz e respectivas prebendas, armaram um sururu dos antigos contra o dadivoso presidente. Agora o Banco e W. publicam uma nota em que sinteticamente se afirma que Wolfowitz “se comportou eticamente e agiu de boa fé e no intuito de proteger os melhores interesses da instituição”. Ora aqui está um belo exemplo para todos quantos alguma vez subam à direcção de um banco. Ou para quantos a isso aspirem. Dar um aumento à amante é afinal um comportamento ético e realiza da melhor maneira os interesses do Banco.

A senhora ministra da cultura entendeu que abrir o túmulo de Afonso Henriques para recolher ADN do nosso primeiro rei é tarefa pouco recomendável mesmo se o pedido vem da Universidade de Coimbra e de uma investigadora a todos os títulos fiável. Parece que Sª Exª se louvou no parecer duma coisa chamada IPPAR ou algo semelhante. Tal parecer teria por base a ideia de que “não seria possível garantir a salvaguarda dos elementos patrimoniais do tumulo nem a integridade física dos ossos após a abertura da arca tumular”. Ora como parece que, ao longo da história este túmulo já foi aberto um par de vezes, temos que a dita integridade já não deve ser o que era.
Como razão a Srª Ministra não tem nenhuma excepto a louvável birra. Começo a pensar que de Pires de Lima para Pires de Lima é mais interessante o António, deputado do CDS. Ou o velho Professor Pires de Lima, fera dos Direitos e antigo Ministro da Educação sob Salazar.

A senhora directora da DREN suspendeu um funcionário dessa veneranda e utilíssima instituição porque este “insultou no serviço e dentro do horário de trabalho” o senhor primeiro ministro de Portugal. O insulto tem por base uma piada de entre as centenas que circulam sobre o currículo académico do Sr. Primeiro Ministro. O funcionário, um diplomado em Germânicas, estava há vinte anos na DREN, requisitado. Foi de requitó para a Escola de onde viera. Bravo senhora directora! É assim mesmo! Onde é que já se viu tal despautério?
Claro que alguém poderá perguntar se a senhora expulsadora é directora por concurso ou por nomeação, se é militante do partido do senhor primeiro ministro, se agiu sobretudo contra um reconhecido militante e ex-deputado do PPD, se não haverá perseguição política no caso sub-judice, se a suspensão e restantes corolários da sua pronta acção são adequados ao caso em apreço, se a senhora acha que cumpriu o seu dever de cidadã, etc...
Pode inclusive haver gente a perguntar se uma acção deste género é pouco inteligente, eventualmente maldosa ou apenas abjecta.

E, já que estamos com a mão na massa, que é que deveremos pensar da criança que, tendo sido vítima de cancro, começou a ser objecto de maus tratos por parte dos seus coleguinhas? E que é que deveremos pensar do conselho da escola do menino vítima de buliying, que recusou constantemente a mudança de turma pedida pela família da vítima? E que deveremos ainda pensar do actual conselho, diferente do anterior que mantém a mesma posição?
Já agora: será que a tal DREN da tal senhora justiceira não tem uma palavrinha a dar no assunto? Mesmo que a dita palavrinha fosse apenas oficiosa? Ou ter-se-á esgotado a pulsâo justiceira com o tal professor que insulta autoridades?

O Doutor Rui Pereira aceita por imperativo de serviço público o Ministério da Administração Interna. Parabéns! Ainda há cidadãos preocupados com a vida da grei. Pergunta embaraçosa de um bloguista ignorante: então o Tribunal Constitucional não é também um “serviço público” importantíssimo? Então uma pessoa toma posse de um cargo que durará nove anos e mês e meio depois, troca-o por outro? Isto, claro, sem desfazer na honorabilidade do Doutor Pereira. E muito menos sem acreditar que, ao ver-se recusado pelos seus pares como vice-presidente daquela augusta casa, o novel juiz do Tribunal Constitucional perdeu a fé e o entusiasmo nas funções para que fora investido.

A senhora governadora civil de Lisboa demitiu-se? Não? Então não entende como censura clara, a decisão do Tribunal constitucional a revogar a sua insustentável marcação de datas? Ou achará a senhora governadora civil de Lisboa que tudo isto não passa de peanuts, umas vezes ganha-se outras perde-se? Eu sempre tive dificuldade em entender o papel dos governadores civis, sobretudo os de agora que parcos poderes têm. Será que o lugar é assim tão apetecível economicamente que uma pessoa o aceite pensando isto é uma chatice do catorze mas pelo menos ganha-se algum? Quais serão os critérios para nomear um governador civil? Além da fidelidade partidária, claro! Um querido amigo meu, colega de curso e de grupo teatral estudantil, aceitou uma vez o lugar ainda mais indigesto de vice-governador civil. O governador era, claramente, um broeiro medíocre mas nem assim o meu amigo ouviu os argumentos do resto da malta que lhe implorava que não aceitasse. Aceitou e passou as passas do Algarve. Suponho que isso o fez desistir da política para sempre ou, pelo menos, até hoje.

Um grupo de gentis senhoras da melhor sociedade da nossa praça foi às Franças e Araganças iniciar-se nos mistérios gozosos da Maçonaria. De volta trouxeram outras senhoras igualmente provenientes dos mais distintos meios sociais gauleses para fundar uma loja em Lisboa por haver falta de indígenas devidamente iniciadas. Agora, já sem francesas, são trezentas. Ora aqui está um belo exemplo nacional, nosso, de como as mulheres são iguais aos homens. Poderemos ter um número ridículo de deputadas, de presidentes de Câmara, de dirigentes partidárias, de ministras (ainda por cima com algumas que melhor seria recolherem a penates) mas temos muitas maçãs (se é que maçã aqui é feminino de mação. Se não for, servirá maçonas?).

Ele há dias em que é difícil ser português(a).

A gravura é da autoria de Sim (Rey Vila) e provém do álbum "Estampas de la Revolución Española" e tem o título simples mas justo de "milicianas": há mulheres assim : corajosas, bonitas, sacrificadas, exemplares E as espanholas ainda perderam mais a guerra do que os homens.

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