Quarta carta à Sílvia sempre em tom de má língua
Pois é querida Amiga, você aí abandonada nessa triste negrura que, como se sabe, é o Rio de Janeiro, à beira de um mar frio, bom para focas e pinguins e nós cá na maior a celebrar o 3º ano incursionista num restaurante amável no Passeio das Virtudes. Passeio das Virtudes é o nome da rua que se alcandora sobre o rio bem lá em baixo e não substantivo a nomear os inomináveis seis alegres convivas no restaurante A Rosa, escolha sempre inteligente e acertada do nosso JCP. Passeio das Virtudes é nome recente, enfim de há dois ou três séculos, nome de uma quinta brasonada de que hoje resta parte do solar transformado em sede da “Árvore, cooperativa de actividades artísticas”, coio de malfeitores (pintores, gravadores e escultores, tudo gente de desconfiar, claro que isto de artistagem é o piorio...).
Na verdade o lugar chamava-se “mija velhas”, como bem me ensinou o Manuel Matos Fernandes que já descansa à mão direita do Senhor. Confesso que não sei de onde vem o apodo, coisa feia; mija velhas?, seriam bruxas?, excomungadas?, mulherio de maus costumes já em pré reforma nesses tempos bárbaros em que os quarenta anos significava pés para a cova? E mijariam as ditas cujas? Mija velhas é seguro. Ali mesmo a cem metros da velha porta do Olival, da muralha da cidade, do antigo bairro judeu dito de S. Miguel, tudo isto extra-muros do velho burgo na altura pertença do bispo da cidade. Depois os poucos burgueses revoltaram-se, o rei interpôs-se e o bispo ficou reduzido aos altos, catedral e seu paço e cá em baixo a arraia miúda folgou.
Mas perdi-me. O que eu queria era contar-lhe o repasto, a festividade. Claro que, marcado para as oito e meia, só começou às nove e tal. Eu que cheguei a horas tive de esperar pelos nossos amigos uma boa meia hora! Depois lá foram chegando, sem vergonha alguma, sem desculpa alguma, enfim o costume. Só o Mocho Atento é que murmurou qualquer coisa como uma consulta tardia a um cliente. Estou a ver que algum desgraçado apareceu por lá fugindo da cadeia ou dos credores e o Mocho, zás!, anda cá que já bebes!. Deve ter ganho com que pagar os próximos cinquenta jantares incursionistas que clientes de advogado à sexta feira é sempre ocasião para ganhar a semana.
Do jantar pouco lhe conto. Tivesse estado presente, ora essa! Todavia sempre lhe digo que o arroz de garoupa à moda da ilha de Luanda era mimoso e bem fornecido e que a subsequente carninha mereceu elogios de toda a gente. Os vinhos cumpriram com brio e os morangos em molho de chocolate (e algum álcool branco que me escapou) estavam óptimos. A coisa aliás foi assinalada pelo nosso JCP que sacou de um enorme charuto, desses verdadeiros e caros, que fumou com indizível deleite. Parecia uma dessas velhas locomotivas do oeste americano que mesmo no cinema deitam fumo para toda a sala, está a ver o género?
Claro que os derradeiros resistentes, conversaram que conversaram até ás três da matina, à porta do restaurante, numa noite quente (ou que a amizade fazia quente), uma dessas noites que prenuncia o S João mas sem orvalhadas, uma noite pura e limpa, aconchegada que se recheou de historietas e gargalhadas. Temos de repetir estes encontros com muito mais frequência pois são agradabilíssimos. E mais serão consigo presente. A menos que queira que esta alegre e galhofeira trupe se desloque para o Rio de Janeiro...
Receba para si e para todas as leitoras que nos acompanham um beijao deste seu
mcr
Na gravura: mostruário de charutos cubanos, de Cuba, do género que o JCP consome...
Pois é querida Amiga, você aí abandonada nessa triste negrura que, como se sabe, é o Rio de Janeiro, à beira de um mar frio, bom para focas e pinguins e nós cá na maior a celebrar o 3º ano incursionista num restaurante amável no Passeio das Virtudes. Passeio das Virtudes é o nome da rua que se alcandora sobre o rio bem lá em baixo e não substantivo a nomear os inomináveis seis alegres convivas no restaurante A Rosa, escolha sempre inteligente e acertada do nosso JCP. Passeio das Virtudes é nome recente, enfim de há dois ou três séculos, nome de uma quinta brasonada de que hoje resta parte do solar transformado em sede da “Árvore, cooperativa de actividades artísticas”, coio de malfeitores (pintores, gravadores e escultores, tudo gente de desconfiar, claro que isto de artistagem é o piorio...).
Na verdade o lugar chamava-se “mija velhas”, como bem me ensinou o Manuel Matos Fernandes que já descansa à mão direita do Senhor. Confesso que não sei de onde vem o apodo, coisa feia; mija velhas?, seriam bruxas?, excomungadas?, mulherio de maus costumes já em pré reforma nesses tempos bárbaros em que os quarenta anos significava pés para a cova? E mijariam as ditas cujas? Mija velhas é seguro. Ali mesmo a cem metros da velha porta do Olival, da muralha da cidade, do antigo bairro judeu dito de S. Miguel, tudo isto extra-muros do velho burgo na altura pertença do bispo da cidade. Depois os poucos burgueses revoltaram-se, o rei interpôs-se e o bispo ficou reduzido aos altos, catedral e seu paço e cá em baixo a arraia miúda folgou.
Mas perdi-me. O que eu queria era contar-lhe o repasto, a festividade. Claro que, marcado para as oito e meia, só começou às nove e tal. Eu que cheguei a horas tive de esperar pelos nossos amigos uma boa meia hora! Depois lá foram chegando, sem vergonha alguma, sem desculpa alguma, enfim o costume. Só o Mocho Atento é que murmurou qualquer coisa como uma consulta tardia a um cliente. Estou a ver que algum desgraçado apareceu por lá fugindo da cadeia ou dos credores e o Mocho, zás!, anda cá que já bebes!. Deve ter ganho com que pagar os próximos cinquenta jantares incursionistas que clientes de advogado à sexta feira é sempre ocasião para ganhar a semana.
Do jantar pouco lhe conto. Tivesse estado presente, ora essa! Todavia sempre lhe digo que o arroz de garoupa à moda da ilha de Luanda era mimoso e bem fornecido e que a subsequente carninha mereceu elogios de toda a gente. Os vinhos cumpriram com brio e os morangos em molho de chocolate (e algum álcool branco que me escapou) estavam óptimos. A coisa aliás foi assinalada pelo nosso JCP que sacou de um enorme charuto, desses verdadeiros e caros, que fumou com indizível deleite. Parecia uma dessas velhas locomotivas do oeste americano que mesmo no cinema deitam fumo para toda a sala, está a ver o género?
Claro que os derradeiros resistentes, conversaram que conversaram até ás três da matina, à porta do restaurante, numa noite quente (ou que a amizade fazia quente), uma dessas noites que prenuncia o S João mas sem orvalhadas, uma noite pura e limpa, aconchegada que se recheou de historietas e gargalhadas. Temos de repetir estes encontros com muito mais frequência pois são agradabilíssimos. E mais serão consigo presente. A menos que queira que esta alegre e galhofeira trupe se desloque para o Rio de Janeiro...
Receba para si e para todas as leitoras que nos acompanham um beijao deste seu
mcr
Na gravura: mostruário de charutos cubanos, de Cuba, do género que o JCP consome...
7 comentários:
Falta de rigor, MCR, falta de rigor. E uma injustiça! Eu cheguei tarde, prescisamente porque tive de esperar pelo Mocho. Às 20.02H enviei-lhe uma sms a dizer-lhe que era preciso arrancar, mas ele estava ainda ocupado. Fui buscar o veículo e esperei por ele à porta do nosso prédio. Tudo para perder o menos tempo possível. Quase uma hora. Daí mandei uma sms ao JCP a dizer-lhe isso mesmo. E quando cheguei, disse isso mesmo. Que eu sou o tipo mais pontual do mundo arredores e sofro com a falta de pontualidade. Para a próxima, quando não estiver dependente de terceiros, verá como sou o primeiro. E, por falar em próxima, pode ir marcando :-)
Pois é MCR, as coisas ditas por si tem outra luz! Belo retrato da nossa jantarada.
Sílvia, para a próxima venha para estes lados que vale a pena!
Quanto a essa questão dos atrasos, eu acho que foram só 15 minutos e também nos justificamos. Estou como o Coutinho: vamos lá ter um pouco mais de rigor, se faz favor…
Estou a brincar porque tem toda a razão MCR. Marcamos 8h30 e era a hora a que devíamos ter chegado. Mas depois compensamos, não foi?
Adenda: Kamikaze, vi a sua mensagem mais abaixo, sobre o nosso jantar. Ainda bem que não se conteve e expressou daquela maneira o que sentiu ao ver a foto. Gostei muito de ler.
Um abraço
O caríssimo Coutinho Ribeiro tem toda a razão e não a tem. Ou seja justificou o atrazo e o Mocho foi seu avalista. De facto, ele esperou tanto ou mais do que eu mas o facto é que chegou quando chegou... Ah estas malandrices de advogado ... Eu sei que CR tem, como eu, a mania da pontualidade e que chegou tarde porque vinha de chauffeur do Mocho. A verdade histórica caro amigo nem sempre corresponde à verdade psicológica... E esta, hem?
um abraço
bem visto! :-)
Confesso que os meus 15 minutos de atraso foram motivados por acreditar que, no fim de tarde de uma sexta-feira, ninguém conseguiria chegar à hora certa. Mas o MCR lá estava, de facto.
Estou lendo de baixo para cima, como se pode notar.
Ao ler esta carta, pensei comigo : está bem, eu merecia.
E suspirei... : )
Gostava mesmo de ter estado com vocês a beber este vinho e conversar até às três.
Um abraço grande,
Silvia
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