Outra vez!
Meu querido e velhíssimo amigo Manuel
Convenhamos que isto começa a passar dos limites. Voltaste a fazer anos! Sessenta, desta vez. Livra, pá, estás velho! Se te apressares, coisa que, como se verá, não me parece que faças, ainda me apanhas. Ao fim e ao cabo são só cinco anos. E cinco anos quando se perfazem (que é isso o que te aconteceu, velho, perfizeste, os sessentinhas. Melhor dito, hoje é o primeiro dia dos sessenta e um. Número primo, diga-se, se é que ainda te lembras...) sessenta, são um tirinho, quase nada.
Eu dizia que tu, não tens estaleca para me apanhar. É que não esqueço, old chap, os teus truques para andar tão pouco quanto possível quando eu te desafiava para irmos da rua 59 até Washington Square. Num percursozinho de escassos três quilómetros ofereceste-me três cafés e fizemos a última metade de metro... Se tu desses à perninha como dás ao remo quando fazes canoagem estavas na selecção nacional. Como és preguiçoso e arranjaste um joelho vão ou qualquer coisa do mesmo calibre, uma balela para andar pouco e devagar, tiveste que demorar este tempo todo para chegar aos sessenta. Idade redonda, camarada, o respeitável público começa a olhar para nós como quem olha para a venerável múmia do faraó Ramsés II. E nós? Como é que olhamos para eles, os novos? Com um sorriso trocista? Com inveja? Ou babados como olhas para o Pedro, seis redondos meses e um riso arrasador...?
Seja como for, estás a dever-me um belo almoço, o tal que seria amanhã e já não é porque a “Lindinha” resolveu desconfiar que vai chover! Eu, caríssimo, olho para o céu e nem uma nuvem, mesmo pequena, vejo. Para que a vergonha não recaia definitiva e solene sobre a família Simas Santos fui, de propósito lavar o carro. Até o aspirei, vê bem que sacrifício. E isto porque, sempre que lavo o bólide, chove que Deus a dá. Além do almocinho que não vem, eis que esportulo mais seis euros sem contar as moedas para a maquineta aspiradora... tudo para ver se chove. Vem chuva miraculosa lavar as ruas, as casas e a antiquíssima sovinice do Manel. E traz contigo um abraço dos amigos, perto ou longe, que hoje erguem um copo de três de um tinto decente à saúde do aniversariante. E que venham muitos. E bons. E bem!
Um abraço do teu
M.
na gravura: obviamente Daumier: les gens de Justice
Eu dizia que tu, não tens estaleca para me apanhar. É que não esqueço, old chap, os teus truques para andar tão pouco quanto possível quando eu te desafiava para irmos da rua 59 até Washington Square. Num percursozinho de escassos três quilómetros ofereceste-me três cafés e fizemos a última metade de metro... Se tu desses à perninha como dás ao remo quando fazes canoagem estavas na selecção nacional. Como és preguiçoso e arranjaste um joelho vão ou qualquer coisa do mesmo calibre, uma balela para andar pouco e devagar, tiveste que demorar este tempo todo para chegar aos sessenta. Idade redonda, camarada, o respeitável público começa a olhar para nós como quem olha para a venerável múmia do faraó Ramsés II. E nós? Como é que olhamos para eles, os novos? Com um sorriso trocista? Com inveja? Ou babados como olhas para o Pedro, seis redondos meses e um riso arrasador...?
Seja como for, estás a dever-me um belo almoço, o tal que seria amanhã e já não é porque a “Lindinha” resolveu desconfiar que vai chover! Eu, caríssimo, olho para o céu e nem uma nuvem, mesmo pequena, vejo. Para que a vergonha não recaia definitiva e solene sobre a família Simas Santos fui, de propósito lavar o carro. Até o aspirei, vê bem que sacrifício. E isto porque, sempre que lavo o bólide, chove que Deus a dá. Além do almocinho que não vem, eis que esportulo mais seis euros sem contar as moedas para a maquineta aspiradora... tudo para ver se chove. Vem chuva miraculosa lavar as ruas, as casas e a antiquíssima sovinice do Manel. E traz contigo um abraço dos amigos, perto ou longe, que hoje erguem um copo de três de um tinto decente à saúde do aniversariante. E que venham muitos. E bons. E bem!
Um abraço do teu
M.
na gravura: obviamente Daumier: les gens de Justice
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