NEM A MIM!*
Eu ia falar do texto do Manuel Alegre mas o meu camarada de redacção, JSC, já o referiu pelo que opto pela preguiça e digo “ámen”. Todavia, JSC não teve de certeza tempo para fazer uma recensão das criticas ao texto que só hoje começaram a revelar-se.
Não vou referir as exteriores ao PS porque, dizendo bem ou dizendo mal, podem ter meros fins políticos e politiqueiros para a propósito disto acertar o passo ao governo.
Falemos pois e apenas de duas intervenções: o Sr Primeiro Ministro e o Sr autarca João Soares.
Com a audácia que se tem quando se fala sozinho para um microfone sem ter quem lhe responda no momento, o Sr PM diz que o texto é apenas mais do mesmo, que Alegre periodicamente diz aquilo, que se trata de um discurso gasto, enfim, reduz Alegre à condição dum pobre triste que só diz mal. Convenhamos que esta é, para já, uma maneira serôdia de abandalhar um texto que, sobre ser bem escrito (coisa que entra pelos olhos de qualquer criatura que tenha passado na disciplina de “português técnico”), contém uma excelente reflexão sobre a deriva do discurso sobre as liberdades praticado pelo governo. As leitoras lembrar-se-ão que Alegre chega a dizer que não considera as liberdades em perigo mas que, est modus in rebus para o que toca ao discurso que se faz sobre a acção do governo,. Trocando por miúdos, Alegre dá voz a quem não percebe as medidas abruptas que muito economicistamente (aguentem lá este palavrão) se tomaram. Alegre julga, como qualquer pessoa que por aí ande, que pode desertificar-se ainda mais o interior quando se fecham serviços que as mais das vezes eram eles mesmos uma garantia para quem queria ir para o “mato”, ou para o “deserto” onde vive o meu amigo João Tunes (leiam o blog Agualisa 6 que aquilo é sadiamente polémico, fortemente critico e corajosamente assumido). Eu não viveria numa terra, Vieira do Minho por exemplo, onde o SAP fechará boa parte do dia ou melhor da noite. É que se me desse uma maleita, não haveria hipótese de, lá e depressa, me verem o futuro cadáver e de elegerem os meios mais adequados para me ajudar. Nesse futuro “sertão” é-se levado em padiola para uma cidade a trinta quilómetros que, à noite e naquela estrada, podem significar o dobro. O Sr PM, que é de uma terra do interior, deveria começar por aplicar na sua terra, hoje gloriosa graças a ele, o que quer aplicar nas outras em igualdade de circunstâncias. Só para ver o que os conterrâneos lhe diriam da mãe e das antepassadas todas até à décima geração.
A segunda questão é que o sr PM ao qualificar despectivamente de “clássico” e de fantasia o discurso de Alegre comete dois erros. Falar de liberdade nunca é um clássico a menos que seja para a amordaçar. Falar de fantasia, releva daquela habitual e grosseira posição de quem considera os poetas um ornamento floral barato à falta de uma pin up despida no átrio do Parlamento. O Sr PM ao desqualificar sumariamente a posição de Alegre vem dizer apenas que tem um cretino como vice-presidente da Assembleia da Republica. Ou, se não for cretino, um totó, ou um xico-esperto, enfim um pássaro bisnau que só sabe bicar a impoluta virtude do actual e meritório governo.
A história que nunca perdoa, porventura nunca referirá daqui a uma dúzia de anos este primeiro ministro. Quanto a Alegre, esteja o sr PM descansado que dele haverá rasto como poeta, quanto mais não seja. Hoje toda a gente sabe quem foi Mayakovsky mas provavelmente ignorarão o primeiro ministro da altura, o presidente da republica e eventualmente o secretario geral do PCUS. Esteja o Sr José Sócrates descansado que sobre ele e a sua memória não se esforçarão os focos da fama.
O sr autarca de Sintra, João Soares, tem o curioso hábito de se vestir de virgem arrependida quando alguém fala em liberdade. Ele “seria a primeira pessoa a protestar se houvesse alguma coisa no país que pusesse em causa a liberdade de expressão” (sic). Alegre que se cuide e lhe peça primeiro autorização para falar deste espinhoso tema. Eu não tenho o filho desse grande político que foi Mário Soares, em grande conta: nunca lhe ouvi senão vulgaridades e isto desde o patético tempo em que ele criou uma coisinha chamada GAPS (grupo autónomo do partido socialista) e que fanfarronava de esquerda independente dentro do ps, onde o pai, suava as estopinhas para organizar o partido cá dentro. A rapaziada do GAPS dava-se ares de esquerdista mas dentro do PS, como se deve, inodoro, incolor e insípido, como obviamente tinha de ser. Deve ser desse tempo que lhe ficou esta ideia de se identificar com o semáforo da liberdade. E sobre o discurso de Alegre, estamos conversados. Outros bonzos socialistas acorreram à chamada para, sem responder, virem graves e circunspectos dizer que tudo vai bem e fresquinho no reino da Dinamarca. O poder tem consequências terríveis para quem o detém: uma é tornar autistas os seus usuários. A “introdução ... na vida política português de um conjunto de critérios de rigor, exigência e reforço democrático” como diz o sr Ministro do Trabalho é um chavão e sobretudo volta a responder ao lado no que toca às questões que Alegre levanta no seu artigo. Um outro deputado, desta vez a propósito do arquivamento do processo contra o sr. Charrua, veio ufano dizer que aquilo provava a liberalidade do governo que actuara quando tivera que actuar. Não é assim sr deputado: o governo actuou tarde e provavelmente mal. Tarde porque, logo no dia seguinte ao acto da azougada directora da DREN, um telefonemazinho poria a senhora no seu lugar e dispensaria esta trapalhada. Por outro, o sr. Charrua (que não conheço nem me apetece conhecer) sofreu pelo menos um castigo: foi durante dias suspenso. Pior: foi-lhe dada por finda a requisição para a DREN, o que neste caso, é sem margem para dúvidas, como agora se prova, uma punição. Ainda por cima, ao que me dizem, ele estava prestes a terminar o período da requisição, pelo que bastaria esperar e não o requisitar de novo. Assim, toda a gente, e eu mesmo, ficará convencida que ele foi alvo de uma punição que nenhum arquivamento levantará. Além do que se fica sem perceber porque é que ele Charrua esteve ali durante vinte anos sempre com altíssima classificação de serviço e agora é dispensado. Arranjaram melhor? Ora mostrem lá! E como uma tolice nunca vem só, parece que o cavalheiro que delatou, foi promovido a assessor pessoal da senhora directora da DREN (que só hoje conheci por a ver na televisão, se é que era ela a senhora gorda e com um rosto inexpressivo que se sentou ao lado da srª Ministra da Educação) o que sendo feito no período em que foi feito, diz muito do modo de governo em uso na DREN. Ou seja, além de se cometer uma imprudência, cometeu-se uma impudência. Espero que alguém explique isto à tal senhora. Que há um tempo para castigar e outro para promover, se me é permitida esta alteração da palavra evangélica.
E com tão santas palavras despeço-me que a noite é menina e eu preciso de dormir.
gravura: Liberté de Fernand Léger
Eu ia falar do texto do Manuel Alegre mas o meu camarada de redacção, JSC, já o referiu pelo que opto pela preguiça e digo “ámen”. Todavia, JSC não teve de certeza tempo para fazer uma recensão das criticas ao texto que só hoje começaram a revelar-se.
Não vou referir as exteriores ao PS porque, dizendo bem ou dizendo mal, podem ter meros fins políticos e politiqueiros para a propósito disto acertar o passo ao governo.
Falemos pois e apenas de duas intervenções: o Sr Primeiro Ministro e o Sr autarca João Soares.
Com a audácia que se tem quando se fala sozinho para um microfone sem ter quem lhe responda no momento, o Sr PM diz que o texto é apenas mais do mesmo, que Alegre periodicamente diz aquilo, que se trata de um discurso gasto, enfim, reduz Alegre à condição dum pobre triste que só diz mal. Convenhamos que esta é, para já, uma maneira serôdia de abandalhar um texto que, sobre ser bem escrito (coisa que entra pelos olhos de qualquer criatura que tenha passado na disciplina de “português técnico”), contém uma excelente reflexão sobre a deriva do discurso sobre as liberdades praticado pelo governo. As leitoras lembrar-se-ão que Alegre chega a dizer que não considera as liberdades em perigo mas que, est modus in rebus para o que toca ao discurso que se faz sobre a acção do governo,. Trocando por miúdos, Alegre dá voz a quem não percebe as medidas abruptas que muito economicistamente (aguentem lá este palavrão) se tomaram. Alegre julga, como qualquer pessoa que por aí ande, que pode desertificar-se ainda mais o interior quando se fecham serviços que as mais das vezes eram eles mesmos uma garantia para quem queria ir para o “mato”, ou para o “deserto” onde vive o meu amigo João Tunes (leiam o blog Agualisa 6 que aquilo é sadiamente polémico, fortemente critico e corajosamente assumido). Eu não viveria numa terra, Vieira do Minho por exemplo, onde o SAP fechará boa parte do dia ou melhor da noite. É que se me desse uma maleita, não haveria hipótese de, lá e depressa, me verem o futuro cadáver e de elegerem os meios mais adequados para me ajudar. Nesse futuro “sertão” é-se levado em padiola para uma cidade a trinta quilómetros que, à noite e naquela estrada, podem significar o dobro. O Sr PM, que é de uma terra do interior, deveria começar por aplicar na sua terra, hoje gloriosa graças a ele, o que quer aplicar nas outras em igualdade de circunstâncias. Só para ver o que os conterrâneos lhe diriam da mãe e das antepassadas todas até à décima geração.
A segunda questão é que o sr PM ao qualificar despectivamente de “clássico” e de fantasia o discurso de Alegre comete dois erros. Falar de liberdade nunca é um clássico a menos que seja para a amordaçar. Falar de fantasia, releva daquela habitual e grosseira posição de quem considera os poetas um ornamento floral barato à falta de uma pin up despida no átrio do Parlamento. O Sr PM ao desqualificar sumariamente a posição de Alegre vem dizer apenas que tem um cretino como vice-presidente da Assembleia da Republica. Ou, se não for cretino, um totó, ou um xico-esperto, enfim um pássaro bisnau que só sabe bicar a impoluta virtude do actual e meritório governo.
A história que nunca perdoa, porventura nunca referirá daqui a uma dúzia de anos este primeiro ministro. Quanto a Alegre, esteja o sr PM descansado que dele haverá rasto como poeta, quanto mais não seja. Hoje toda a gente sabe quem foi Mayakovsky mas provavelmente ignorarão o primeiro ministro da altura, o presidente da republica e eventualmente o secretario geral do PCUS. Esteja o Sr José Sócrates descansado que sobre ele e a sua memória não se esforçarão os focos da fama.
O sr autarca de Sintra, João Soares, tem o curioso hábito de se vestir de virgem arrependida quando alguém fala em liberdade. Ele “seria a primeira pessoa a protestar se houvesse alguma coisa no país que pusesse em causa a liberdade de expressão” (sic). Alegre que se cuide e lhe peça primeiro autorização para falar deste espinhoso tema. Eu não tenho o filho desse grande político que foi Mário Soares, em grande conta: nunca lhe ouvi senão vulgaridades e isto desde o patético tempo em que ele criou uma coisinha chamada GAPS (grupo autónomo do partido socialista) e que fanfarronava de esquerda independente dentro do ps, onde o pai, suava as estopinhas para organizar o partido cá dentro. A rapaziada do GAPS dava-se ares de esquerdista mas dentro do PS, como se deve, inodoro, incolor e insípido, como obviamente tinha de ser. Deve ser desse tempo que lhe ficou esta ideia de se identificar com o semáforo da liberdade. E sobre o discurso de Alegre, estamos conversados. Outros bonzos socialistas acorreram à chamada para, sem responder, virem graves e circunspectos dizer que tudo vai bem e fresquinho no reino da Dinamarca. O poder tem consequências terríveis para quem o detém: uma é tornar autistas os seus usuários. A “introdução ... na vida política português de um conjunto de critérios de rigor, exigência e reforço democrático” como diz o sr Ministro do Trabalho é um chavão e sobretudo volta a responder ao lado no que toca às questões que Alegre levanta no seu artigo. Um outro deputado, desta vez a propósito do arquivamento do processo contra o sr. Charrua, veio ufano dizer que aquilo provava a liberalidade do governo que actuara quando tivera que actuar. Não é assim sr deputado: o governo actuou tarde e provavelmente mal. Tarde porque, logo no dia seguinte ao acto da azougada directora da DREN, um telefonemazinho poria a senhora no seu lugar e dispensaria esta trapalhada. Por outro, o sr. Charrua (que não conheço nem me apetece conhecer) sofreu pelo menos um castigo: foi durante dias suspenso. Pior: foi-lhe dada por finda a requisição para a DREN, o que neste caso, é sem margem para dúvidas, como agora se prova, uma punição. Ainda por cima, ao que me dizem, ele estava prestes a terminar o período da requisição, pelo que bastaria esperar e não o requisitar de novo. Assim, toda a gente, e eu mesmo, ficará convencida que ele foi alvo de uma punição que nenhum arquivamento levantará. Além do que se fica sem perceber porque é que ele Charrua esteve ali durante vinte anos sempre com altíssima classificação de serviço e agora é dispensado. Arranjaram melhor? Ora mostrem lá! E como uma tolice nunca vem só, parece que o cavalheiro que delatou, foi promovido a assessor pessoal da senhora directora da DREN (que só hoje conheci por a ver na televisão, se é que era ela a senhora gorda e com um rosto inexpressivo que se sentou ao lado da srª Ministra da Educação) o que sendo feito no período em que foi feito, diz muito do modo de governo em uso na DREN. Ou seja, além de se cometer uma imprudência, cometeu-se uma impudência. Espero que alguém explique isto à tal senhora. Que há um tempo para castigar e outro para promover, se me é permitida esta alteração da palavra evangélica.
E com tão santas palavras despeço-me que a noite é menina e eu preciso de dormir.
*
o título é obviamente uma brincadeira com o texto de baixo
2 comentários:
Infelizmente, meu caro MCR, duvido muito de que hoje toda a gente saiba quem foi Mayakovsky.
..nem tudo é mau...nem tudo é bom...as coisas não são a preto e branco,
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