De regresso à pátria (mas terei alguma vez partido?)
Ora aqui está, leitoras gentis, este vosso criado e admirador. Regressado à terra natal, fugindo da primeira ameaça séria de chuva que se estendia sobre o litoral galego. À cautela desandámos. E, já agora, para evitar, o trânsito do dia 15, sempre intenso na zona das rias baixas. Não vou contar-vos a viagem muito embora valesse a pena descrever-vos as reacções da minha co-piloto, a internacionalmente conhecida, C.G., ou em círculos mais formais e políticos “Dóris Ibarraruri, cartomante velocipédica” Algum dia se explicará esta nomenclatura. Entretanto, descrevam-se, pour la forme, algumas das reacções desta excelente senhora que me atura e que, mesmo ao lado do infeliz condutor (este que se abaixo-assina), não deixa de travar, dar conselhos, meta a quinta, não corte as curvas, pisou o risco contínuo, ou de comentar a condução dos outros: este vê-se logo que só guia aos domingos e dias santos, esta parece parva, também com aquela cara!..., olha para o parolo: vai agarrado à broa..., gente desta só fuzilada... E por aí fora. Normalmente acompanha estes comentários delicados com caras más, olha fixamente para o tipo que acabamos de ultrapassar (esta parece que anda a passear, vai a pisar ovos!) com uma expressão que remete o desgraçado para uma escala animal ligeiramente abaixo das centopeias, enfim um circo. E o chauffeur de Madame agarrado ao volante, furioso por ter de conduzir, ansiando por um euro-milhões que lhe permita ter um motorista permanente e carro a condizer.
É que eu, queridas leitoras, detesto conduzir. Nunca achei grande graça a carros. Aliás sempre dividi este tipo de meios de transporte em carrinhos de mão, eléctricos, viaturas de passageiros e Rols-Royce. (adivinhem para onde irão as minhas preferências...). Também já sei essa, velha e relha, do carro ser um prolongamento do pénis (livra! ) mas não alinho. Governo-me com o que há e sou contra implantes naturais ou mentais.
Portanto, mcr, regressado da costa galega em pleno “ferragosto”. A expressão é italiana e significa muito exactamente o dia 15, ou seja o dia de hoje, e ouvia-a vai para uma eternidade, nas termas de Caracala, em Roma, durante um concerto magnífico e gratuito. Foi nos anos setenta, mais propriamente durante o “verão quente”. Por um momento, tive uma louca vontade de mandar tudo às malvas e ficar a viver nessa cidade luminosa e única, onde de resto o confronto político também não era pêra doce. O concerto era oferecido pela municipalidade de Roma aos que “nem dinheiro têm para ir para fora ao menos por um dia” (sic) segundo um dos cantores presentes. Que dia! Ou melhor, que noite! Música, amigos, ceia até altas horas na zona do Trastevere, discussões apaixonadas, e algo que me parecia (e seguramente era) o perfeito enamoramento. Os que comigo estavam sentiam-se alarmados com a situação em Portugal. Uma importante revista (porventura L’Espresso, mas não tenho a certeza) titulava Portogallo, colonnello falce e martello. Ah quanto dava para ter conservado esses documentos tão a quente, tão apaixonados.
Sempre nos mudava desta cinzentude em que vamos sobrevivendo sem grandes expectativas nem pequenas exaltações. O país ronrona em Agosto e não há volta a Portugal ou festa do Pontal que comova a consciência banhista, socialista, pepedista ou comodista. Basta ler o jornal. Justamente, o jornal: agarra-se o Público de hoje. Traz leitura para meia hora, vá lá, três quartos de hora. Sem incêndios (felizmente) o país jornalístico rebate-se sobre o triste caso duma criança inglesa de que já aqui falei. Não tenho nada a acrescentar ao que então disse. Sequer me congratulo por ver quão certo estava nesse momento. Nem é caso para isso. O que escrevi, escrevi com o coração agitado mas com a cabeça fria. O que, parece-me, faltou a alguns. Outros, de cabeça igualmente fria, entenderam aquecer-se á braseira da caricatura tonitruante dos sentimentos e da chicana. Bom préstimo lhes faça que à causa da menina de nada aproveitaram.
É o ferragosto. Metade da península está em festa. O norte de Portugal é uma imensa romaria. O melhor e o pior casam-se nessas festas. E seria tão fácil libertá-las do cascarrão comercial e postiço mas parece que as ex.as autoridades municipais, os folclóricos do costume e essas agências da mediocridade nacional que dão pelo nome de comissões regionais de turismo se aliaram para vender ao desbarato a imagem de uma terra que eles não merecem.
Teria preferido escrever um texto mais divertido, para reinício de destes amáveis trabalhos bloguísticos mas como isto vai saindo de carreirinha, vê-se o resultado. É o ferragosto, que querem?
Fiquem com a senhora da Encarnação padroeira deste agnóstico de Buarcos, praia e terra uma vez mais traída pela Galiza. É que o homem põe mas a mulher dispõe.
dediquemos esta balivérnia ao Sr. António Pinho, motorista que me aturou sete anos e que faz o favor de continuar meu amigo e já lá vão trinta e tal anos.
A gravura? O Trastevere, já se vê. O pormenor da viatura é mais uma homenagem a A.P.
Ora aqui está, leitoras gentis, este vosso criado e admirador. Regressado à terra natal, fugindo da primeira ameaça séria de chuva que se estendia sobre o litoral galego. À cautela desandámos. E, já agora, para evitar, o trânsito do dia 15, sempre intenso na zona das rias baixas. Não vou contar-vos a viagem muito embora valesse a pena descrever-vos as reacções da minha co-piloto, a internacionalmente conhecida, C.G., ou em círculos mais formais e políticos “Dóris Ibarraruri, cartomante velocipédica” Algum dia se explicará esta nomenclatura. Entretanto, descrevam-se, pour la forme, algumas das reacções desta excelente senhora que me atura e que, mesmo ao lado do infeliz condutor (este que se abaixo-assina), não deixa de travar, dar conselhos, meta a quinta, não corte as curvas, pisou o risco contínuo, ou de comentar a condução dos outros: este vê-se logo que só guia aos domingos e dias santos, esta parece parva, também com aquela cara!..., olha para o parolo: vai agarrado à broa..., gente desta só fuzilada... E por aí fora. Normalmente acompanha estes comentários delicados com caras más, olha fixamente para o tipo que acabamos de ultrapassar (esta parece que anda a passear, vai a pisar ovos!) com uma expressão que remete o desgraçado para uma escala animal ligeiramente abaixo das centopeias, enfim um circo. E o chauffeur de Madame agarrado ao volante, furioso por ter de conduzir, ansiando por um euro-milhões que lhe permita ter um motorista permanente e carro a condizer.
É que eu, queridas leitoras, detesto conduzir. Nunca achei grande graça a carros. Aliás sempre dividi este tipo de meios de transporte em carrinhos de mão, eléctricos, viaturas de passageiros e Rols-Royce. (adivinhem para onde irão as minhas preferências...). Também já sei essa, velha e relha, do carro ser um prolongamento do pénis (livra! ) mas não alinho. Governo-me com o que há e sou contra implantes naturais ou mentais.
Portanto, mcr, regressado da costa galega em pleno “ferragosto”. A expressão é italiana e significa muito exactamente o dia 15, ou seja o dia de hoje, e ouvia-a vai para uma eternidade, nas termas de Caracala, em Roma, durante um concerto magnífico e gratuito. Foi nos anos setenta, mais propriamente durante o “verão quente”. Por um momento, tive uma louca vontade de mandar tudo às malvas e ficar a viver nessa cidade luminosa e única, onde de resto o confronto político também não era pêra doce. O concerto era oferecido pela municipalidade de Roma aos que “nem dinheiro têm para ir para fora ao menos por um dia” (sic) segundo um dos cantores presentes. Que dia! Ou melhor, que noite! Música, amigos, ceia até altas horas na zona do Trastevere, discussões apaixonadas, e algo que me parecia (e seguramente era) o perfeito enamoramento. Os que comigo estavam sentiam-se alarmados com a situação em Portugal. Uma importante revista (porventura L’Espresso, mas não tenho a certeza) titulava Portogallo, colonnello falce e martello. Ah quanto dava para ter conservado esses documentos tão a quente, tão apaixonados.
Sempre nos mudava desta cinzentude em que vamos sobrevivendo sem grandes expectativas nem pequenas exaltações. O país ronrona em Agosto e não há volta a Portugal ou festa do Pontal que comova a consciência banhista, socialista, pepedista ou comodista. Basta ler o jornal. Justamente, o jornal: agarra-se o Público de hoje. Traz leitura para meia hora, vá lá, três quartos de hora. Sem incêndios (felizmente) o país jornalístico rebate-se sobre o triste caso duma criança inglesa de que já aqui falei. Não tenho nada a acrescentar ao que então disse. Sequer me congratulo por ver quão certo estava nesse momento. Nem é caso para isso. O que escrevi, escrevi com o coração agitado mas com a cabeça fria. O que, parece-me, faltou a alguns. Outros, de cabeça igualmente fria, entenderam aquecer-se á braseira da caricatura tonitruante dos sentimentos e da chicana. Bom préstimo lhes faça que à causa da menina de nada aproveitaram.
É o ferragosto. Metade da península está em festa. O norte de Portugal é uma imensa romaria. O melhor e o pior casam-se nessas festas. E seria tão fácil libertá-las do cascarrão comercial e postiço mas parece que as ex.as autoridades municipais, os folclóricos do costume e essas agências da mediocridade nacional que dão pelo nome de comissões regionais de turismo se aliaram para vender ao desbarato a imagem de uma terra que eles não merecem.
Teria preferido escrever um texto mais divertido, para reinício de destes amáveis trabalhos bloguísticos mas como isto vai saindo de carreirinha, vê-se o resultado. É o ferragosto, que querem?
Fiquem com a senhora da Encarnação padroeira deste agnóstico de Buarcos, praia e terra uma vez mais traída pela Galiza. É que o homem põe mas a mulher dispõe.
dediquemos esta balivérnia ao Sr. António Pinho, motorista que me aturou sete anos e que faz o favor de continuar meu amigo e já lá vão trinta e tal anos.
A gravura? O Trastevere, já se vê. O pormenor da viatura é mais uma homenagem a A.P.
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