27 agosto 2007

voz alheia 1



Por uma vez, provavelmente única, dou a palavra à Maria Manuel Viana que quis corresponder à amabilidade dos companheiros desta barca e enviar-nos um texto seu sobre o Eduardo.
Aqui o recebi e, por junto, copiei-o.
Juntei para o ilustrar uma fotografia de uma máscara Urhobo (Nigéria). Achei que o EPC gostaria dela, curioso como era.


para as incursões


ele teria gostado de ler as palavras do marcelo. ter-se-ia comovido. aquelas eram também as palavras dele. vagueio pelos blogs, à procura dum pequeno sinal, duma memória partilhada, para assim calar esta dor insuportável.
ele já não está.

em 73, cruzámo-nos num festival de cinema na figueira. ele falava da persona do bergman. eu tinha 18 anos. fiquei fascinada.

amámo-nos por entre muitos rostos, muitas outras pessoas, muitos filmes e muitos livros.
ele já não está.

adormeceu devagarinho, no sábado de manhã.
como o menino que era.
ele já não está.

dói-me acordar.
dói-me viver.
ele já não está.

fomos felizes enquanto os deuses o permitiram.

5 comentários:

carteiro disse...

Este é daqueles momentos em que não sei o que dizer. Fica um abraço em silêncio.

O meu olhar disse...

Estas palavras são uma bela homenagem. Muito bela.
De facto, nestes momentos não se sabe o que dizer. Eu também não.
Por isso deixo-lhe aqui o desejo de que tenha muita força.
Um abraço.

Primo de Amarante disse...

Li e senti-me solidário num silêncio triste sobre a memória do irreparável, sobre muitas manhãs de crónicas que nunca estarão tão vivas na saudade de um rosto sempre esperado, como se espera um amigo para ouvir, apoiar ou discordar.

Silvia Chueire disse...

Ah sim, um silêncio de respeito e solidariedade. Lembrei-me da minha mãe após a morte do meu pai :" entre aquelas quatro paredes, só eu sei o quanto ele me falta, ninguém mais ".

Meu abraço,

Silvia

henedina disse...

Não quero que este comentário seja uma incursão. Mas, que a dor de viver e de acordar, seja algo diminuida por saber que partilhou a vida com o homem que amava, e nem todos podemos dizer o mesmo, e com um homem culto, apaixonado como um menino, apreciando o bom da vida na calma segura da inteligencia. E quandas mulheres podem dizer isto dos companheiros? Força.