A gente tem de se de conformar: um diz alhos outra entende bugalhos. E não há volta a dar-lhe. A senhora dos bugalhos teimará pela vida fora que foi isso que o primeiro disse. E como, pelo menos nos círculos onde a segunda esbraceja, o primeiro é quase um desconhecido, eis que um alho se transforma em bugalho.
Refiro-me como está bom de ver à Sr.ª Dr.ª Esther Mucznik se é que estou a grafar-lhe correctamente o nome. Esta senhora, seguramente uma excelente alma, tem uma ideia fixa: que o mundo inteiro ameaça Israel. Que há uma conspiração universal contra os praticantes da fé judaica. Que quem quer que discorde de um simples parágrafo do que o governo israelita afirma é um nazi ou pelo menos alguém que não sabe que é um nazi mas, no fundo, bem lá no fundo, no refoulé, é um nazi. Ponto final, parágrafo. Eu que a leio sempre com intensa admiração e e me penitencio depois da má vontade que alguma vez terei tido contra Israel, fico sempre com a ideia de que a Drª Esther ainda pensa estar no ghetto de Varsóvia assaltado por todos os lados perante a passividade dos varsovianos e o silêncio do resto do mundo. Os primeiros pagaram bem cara a sua pouca solidariedade porquanto quando se revoltaram, tarde e a más horas, também se terão espantado com a passividade dos exércitos russos que não deram um passo (que provavelmente poderiam ter dado) para os ajudar. O restante mundo apanha com os artigos das inumeráveis Ester que querem emular a primeira, a salvadora do povo judeu, a sobrinha de Mardoqueu.
Mas entremos no tema: como sabem o presidente do Irão, o senhor Ahmadinejad, se não erro na grafia, foi de longada aos States. Uma cavilosa universidade profundamente anti-sionista, convidou-o para uma parlenga. O iraniano aceitou e foi o que se viu: o reitor da universidade apresentou-o dizendo dele e do Irão o que Mafoma não disse do chouriço (e do presunto! E do salpicão! e da morcela das Beiras! E de todos os produtos porcinos, incluindo as actuais alheiras que também já levam porco...): um festival. Ahmadinejad, aguentou estóico (vê-se que é um verdadeiro crente, um discípulo de Ali) e disse ao que vinha. O público regougava com o mesmo entusiasmo com que no Coliseu a plebe romana via os cristãos a ser comidos pelos leões. E quando alguém mencionou a perseguição aos homossexuais no antigo pais de Ciro e de Xerxes, o presidente iraniano afirmou com a candura dos mártires de Al Aksa que não havia disso no seu pais onde o mel corre paredes meias com o petróleo. A sala veio abaixo com as gargalhadas. Há, diz-se, pessoas internada nos cuidados intensivos devido à indigestão de riso que as acometeu. Em tudo o que é jornal, rádio e televisão, para não falar na internet, o pagode goza, à grande e à francesa, com descamisado presidente iraniano. Eu, agora, quando o vejo no ecrã tenho de me conter para não me mijar pernas abaixo. De riso, claro. A causa iraniana anda pelas ruas da amargura. O tonitruar anti-israelita (que já Esther a verdadeira contivera) perde seriedade se é que alguma vez teve alguma.
Só a drª Esther é que entendeu tudo ao contrário. Longe de agradecer à universidade americana este descalabro imenso do senhor Ahmadinejad, ela acha que mais uma vez a causa de Israel foi traída. Valerá a pena explicar-lhe alguma coisa? Ou será melhor deixá-la com os seus bugalhos e aproveitar os alhos desdenhados para num pingo de azeite saltear um belo molho de grelos que acompanharão, caso queiram, uma bela morcela da Beira?
Sempre nesta onda “febeapá” (quem não souber que leia Stanislau Ponte Preta que também dá por Sérgio Porto) cheguemo-nos ora, a um luminar da Igreja: o arcebispo de Maputo, Francisco Chimoio. Leio no imperdível blog “meubloconotas” do João Vasconcelos Costa que esta eminência entendeu afirmar que os europeus querem acabar com os africanos inoculando-lhes a sida através dos preservativos que eles, europeus, fabricam e vendem por aquelas bandas. E já agora, o prelado afirma também que os medicamentos anti retro-virais, produzidos e vendidos pelos mesmíssimos europeus, também propagam a SIDA.
As religiões são coisas muito sérias mas quando usadas em excesso produzem o chamado sono da razão. Este, à semelhança do da mosca tsé-tsé, povoa as mentalidades de monstros como alguma vez afirmou um tal Francisco de Goya y Lucientes. Não vou ao ponto de dizer que são o ópio do povo porque já alguém o disse antes. Um outro bispo, desta feita de Viseu, homem sábio, dizia que a religião devia ser como o sal na comida: pouco para dar sabor e não fazer mal. O problema é que pouco e bem não há quem.
Ora o senhor arcebispo de Maputo confunde um par de coisas, se é que não confunde tudo: a saber: se os europeus têm como clientes os africanos, e se estes, coitados, pagam a mistela que lhes vendem, porque raio é que se iria matar a galinha dos ovos de oiro? Então a rapaziada anda para aqui a explorar o pretinho e agora ia matá-lo? E a quem se haviam de vender os preservativos?
Mas suponhamos que um vento de loucura varria a Europa maldosa. Dado haver poucos judeus, e dado haver um iraniano disposto a fazer o frete de os liquidar, aceitemos que agora se teria de escolher outra “raça inferior” para prosseguir na via do finado Adolfo, o pintor da brocha larga. Acaso se iria logo liquidar os africanos que têm demonstrado ultimamente que são capazes de se auto-liquidarem sem ajuda nenhuma (veja-se o Uganda, o Darfur, a Serra Leoa, o Congo a Somália, e as restantes guerras (in)civis que percorrem o desventurado continente) deixando intactos os asiáticos que só pretendem a nossa desgraça, que vendem tudo mais barato e falsificam tudo desde os produtos Dior até aos galos de Barcelos? Não estaremos perante um senhor arcebispo garnizé a cantar de galo?
Claro que há sempre a possibilidade de o Senhor Deus dos Exércitos ter enlouquecido o seu Servo como também há exemplos múltiplos na literatura religiosa. Com que fins? Pois vingar os crentes islâmicos e fazer-nos rir dos cristãos. Ou mesmo, matar-nos à gargalhada. E então teríamos que, em vez de ser outra vez África mártir a ser sacrificada, seria a impante Europa a morrer com uma barrigada de riso. Não estaria mal visto. E os caminhos do Senhor nem sempre são perceptíveis...
Deixei para o fim o fait-divers: o dr. Santana Lopes, abandonou o plateau da televisão, dizem-me, que eu não vi, porque uma entrevista sua foi abruptamente cortada por uma parvoejada da redacção da SIC. Chegava a Lisboa o sr. Mourinho e só isso levava a SIC inteira a correr até à Portela para o ver. Convenhamos... Eu, claro, estou de acordo com a atitude viril e heróica de Santana. Isto não se faz! Um político sério, rigoroso, um modelo de virtudes governamentais (como se viu) municipais (idem, aspas) e parlamentares merece outro tratamento. O dr Santana Lopes, dizem-me, nem sequer agiu para defender a sua, dele, honra. Para isso há um passado sem televisões nem revistas do coração, sem frases bombásticas, sem violinos de Chopin, a falar por ele.
Claro que há-de aparecer sempre alguém a dizer que Santana conhece bem o meio, usou o meio até à exaustão, ganhou bom dinheiro nesse meio, com os meios desse meio, enfim, o habitual “por quem Deus nos manda avisar”.
Num breve momento, Santana Lopes, faz esquecer um governo Titanic, o seu, uma insuportável bazófia, a sua, e reaparece lavado a OMO quimicamente puro. O gesto merece reflexão, acaso elogio. A SIC meteu o mimoso pé na argola, para não dizer que meteu a pata na poça. Não é a primeira vez e não será a última. A sociedade do espectáculo fraquinho que temos não dá para mais. Ou melhor: dá para Santana sair vencedor e para um país babado se render, esquecido, ao novo herói do dia. Felizmente, Santana não é pessoa para deixar os créditos em mãos alheias, e com o tempo, fará esquecer a burrice supina da SIC. Espero-o pelo menos. E não me esqueço do desastre absoluto que ele foi. Era o que me faltava.
Já agora: quantas pessoas vão deixar de ver a SIC e os seus subprodutos?
a gravura: os únicos soldados de que se deve gostar. De chumbo e inofensivos.
Refiro-me como está bom de ver à Sr.ª Dr.ª Esther Mucznik se é que estou a grafar-lhe correctamente o nome. Esta senhora, seguramente uma excelente alma, tem uma ideia fixa: que o mundo inteiro ameaça Israel. Que há uma conspiração universal contra os praticantes da fé judaica. Que quem quer que discorde de um simples parágrafo do que o governo israelita afirma é um nazi ou pelo menos alguém que não sabe que é um nazi mas, no fundo, bem lá no fundo, no refoulé, é um nazi. Ponto final, parágrafo. Eu que a leio sempre com intensa admiração e e me penitencio depois da má vontade que alguma vez terei tido contra Israel, fico sempre com a ideia de que a Drª Esther ainda pensa estar no ghetto de Varsóvia assaltado por todos os lados perante a passividade dos varsovianos e o silêncio do resto do mundo. Os primeiros pagaram bem cara a sua pouca solidariedade porquanto quando se revoltaram, tarde e a más horas, também se terão espantado com a passividade dos exércitos russos que não deram um passo (que provavelmente poderiam ter dado) para os ajudar. O restante mundo apanha com os artigos das inumeráveis Ester que querem emular a primeira, a salvadora do povo judeu, a sobrinha de Mardoqueu.
Mas entremos no tema: como sabem o presidente do Irão, o senhor Ahmadinejad, se não erro na grafia, foi de longada aos States. Uma cavilosa universidade profundamente anti-sionista, convidou-o para uma parlenga. O iraniano aceitou e foi o que se viu: o reitor da universidade apresentou-o dizendo dele e do Irão o que Mafoma não disse do chouriço (e do presunto! E do salpicão! e da morcela das Beiras! E de todos os produtos porcinos, incluindo as actuais alheiras que também já levam porco...): um festival. Ahmadinejad, aguentou estóico (vê-se que é um verdadeiro crente, um discípulo de Ali) e disse ao que vinha. O público regougava com o mesmo entusiasmo com que no Coliseu a plebe romana via os cristãos a ser comidos pelos leões. E quando alguém mencionou a perseguição aos homossexuais no antigo pais de Ciro e de Xerxes, o presidente iraniano afirmou com a candura dos mártires de Al Aksa que não havia disso no seu pais onde o mel corre paredes meias com o petróleo. A sala veio abaixo com as gargalhadas. Há, diz-se, pessoas internada nos cuidados intensivos devido à indigestão de riso que as acometeu. Em tudo o que é jornal, rádio e televisão, para não falar na internet, o pagode goza, à grande e à francesa, com descamisado presidente iraniano. Eu, agora, quando o vejo no ecrã tenho de me conter para não me mijar pernas abaixo. De riso, claro. A causa iraniana anda pelas ruas da amargura. O tonitruar anti-israelita (que já Esther a verdadeira contivera) perde seriedade se é que alguma vez teve alguma.
Só a drª Esther é que entendeu tudo ao contrário. Longe de agradecer à universidade americana este descalabro imenso do senhor Ahmadinejad, ela acha que mais uma vez a causa de Israel foi traída. Valerá a pena explicar-lhe alguma coisa? Ou será melhor deixá-la com os seus bugalhos e aproveitar os alhos desdenhados para num pingo de azeite saltear um belo molho de grelos que acompanharão, caso queiram, uma bela morcela da Beira?
Sempre nesta onda “febeapá” (quem não souber que leia Stanislau Ponte Preta que também dá por Sérgio Porto) cheguemo-nos ora, a um luminar da Igreja: o arcebispo de Maputo, Francisco Chimoio. Leio no imperdível blog “meubloconotas” do João Vasconcelos Costa que esta eminência entendeu afirmar que os europeus querem acabar com os africanos inoculando-lhes a sida através dos preservativos que eles, europeus, fabricam e vendem por aquelas bandas. E já agora, o prelado afirma também que os medicamentos anti retro-virais, produzidos e vendidos pelos mesmíssimos europeus, também propagam a SIDA.
As religiões são coisas muito sérias mas quando usadas em excesso produzem o chamado sono da razão. Este, à semelhança do da mosca tsé-tsé, povoa as mentalidades de monstros como alguma vez afirmou um tal Francisco de Goya y Lucientes. Não vou ao ponto de dizer que são o ópio do povo porque já alguém o disse antes. Um outro bispo, desta feita de Viseu, homem sábio, dizia que a religião devia ser como o sal na comida: pouco para dar sabor e não fazer mal. O problema é que pouco e bem não há quem.
Ora o senhor arcebispo de Maputo confunde um par de coisas, se é que não confunde tudo: a saber: se os europeus têm como clientes os africanos, e se estes, coitados, pagam a mistela que lhes vendem, porque raio é que se iria matar a galinha dos ovos de oiro? Então a rapaziada anda para aqui a explorar o pretinho e agora ia matá-lo? E a quem se haviam de vender os preservativos?
Mas suponhamos que um vento de loucura varria a Europa maldosa. Dado haver poucos judeus, e dado haver um iraniano disposto a fazer o frete de os liquidar, aceitemos que agora se teria de escolher outra “raça inferior” para prosseguir na via do finado Adolfo, o pintor da brocha larga. Acaso se iria logo liquidar os africanos que têm demonstrado ultimamente que são capazes de se auto-liquidarem sem ajuda nenhuma (veja-se o Uganda, o Darfur, a Serra Leoa, o Congo a Somália, e as restantes guerras (in)civis que percorrem o desventurado continente) deixando intactos os asiáticos que só pretendem a nossa desgraça, que vendem tudo mais barato e falsificam tudo desde os produtos Dior até aos galos de Barcelos? Não estaremos perante um senhor arcebispo garnizé a cantar de galo?
Claro que há sempre a possibilidade de o Senhor Deus dos Exércitos ter enlouquecido o seu Servo como também há exemplos múltiplos na literatura religiosa. Com que fins? Pois vingar os crentes islâmicos e fazer-nos rir dos cristãos. Ou mesmo, matar-nos à gargalhada. E então teríamos que, em vez de ser outra vez África mártir a ser sacrificada, seria a impante Europa a morrer com uma barrigada de riso. Não estaria mal visto. E os caminhos do Senhor nem sempre são perceptíveis...
Deixei para o fim o fait-divers: o dr. Santana Lopes, abandonou o plateau da televisão, dizem-me, que eu não vi, porque uma entrevista sua foi abruptamente cortada por uma parvoejada da redacção da SIC. Chegava a Lisboa o sr. Mourinho e só isso levava a SIC inteira a correr até à Portela para o ver. Convenhamos... Eu, claro, estou de acordo com a atitude viril e heróica de Santana. Isto não se faz! Um político sério, rigoroso, um modelo de virtudes governamentais (como se viu) municipais (idem, aspas) e parlamentares merece outro tratamento. O dr Santana Lopes, dizem-me, nem sequer agiu para defender a sua, dele, honra. Para isso há um passado sem televisões nem revistas do coração, sem frases bombásticas, sem violinos de Chopin, a falar por ele.
Claro que há-de aparecer sempre alguém a dizer que Santana conhece bem o meio, usou o meio até à exaustão, ganhou bom dinheiro nesse meio, com os meios desse meio, enfim, o habitual “por quem Deus nos manda avisar”.
Num breve momento, Santana Lopes, faz esquecer um governo Titanic, o seu, uma insuportável bazófia, a sua, e reaparece lavado a OMO quimicamente puro. O gesto merece reflexão, acaso elogio. A SIC meteu o mimoso pé na argola, para não dizer que meteu a pata na poça. Não é a primeira vez e não será a última. A sociedade do espectáculo fraquinho que temos não dá para mais. Ou melhor: dá para Santana sair vencedor e para um país babado se render, esquecido, ao novo herói do dia. Felizmente, Santana não é pessoa para deixar os créditos em mãos alheias, e com o tempo, fará esquecer a burrice supina da SIC. Espero-o pelo menos. E não me esqueço do desastre absoluto que ele foi. Era o que me faltava.
Já agora: quantas pessoas vão deixar de ver a SIC e os seus subprodutos?
a gravura: os únicos soldados de que se deve gostar. De chumbo e inofensivos.
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