Sobre os aviões que, nos últimos dias, como melgas, me tolheram, que eles andaram mesmo por cima de mim, num barulho ensurdecedor e, pior do que isso, sobre o trânsito que os aviões trouxeram para as minhas bandas, tolhendo as saídas, carros em sítios inesperados, filas duplas, dificuldade em chegar a qualquer lado. Leio, por aqui, atitudes diferentes sobre o tema, desde a atitude sobranceira de JCP - patêgos, os que ficaram a olhar para o ar - até ao cepticismo de MCR - que não crê nos números de assistentes - e a benevolência de O meu olhar que foi ver e gostou, e faz bem, que os gostos não se discutem e este nem sequer é dos piores.
Patêgos, porquê, rapaz, os que andaram por aí a olhar o céu? Eu que não sou dado a estas coisas de aviões - nem mesmo dos voos comerciais - acho perfeitamente legítimo que haja quem goste de provas desta natureza. É tão legítimo entrar numa fila para ir ver os aviões no ar, em situação seguramente arrojadas, como ficar na fila horas seguidas para ir ver a bola ao Dragão, coisa que, como é sabida, fazes frequentemente, e nem por isso te queixas. Como também é legítimo eu ir à Serra da Estrela, comer pó, andar quilómetros na serra, enfileirar durante horas à saída, para ir ver os heróis da bicicleta, ou, mais arrojado ainda, ir até Espanha ver a Vuelta, como já fui e tenciono voltar.
Não eram 600 mil, MCR? Talvez fossem, mesmo que se faça esquadria e contabilidade na base do 1,1 m2 por pessoa. Não sei se eram tantos, mas que eram muito, lá isso eram. Eram cachos de pessoas em todos os espaços livres por onde houvesse uma nesga de olhar para o rio, fosse de um ou de outro lado. Não se me afigura difícil que tenha havido uma dúzia de estádios do Dragão ao longo das margens do Douro, patêgos a olhar o avião como se estivessem a olhar a bola.
O evento vale o encargo dos 200 mil euros do Porto e outros tantos de Gaia? Não sei. Provavelmente, sim. Provavelmente, os responsáveis pelas duas cidades fizeram contas aos gastos e ao retorno, que é para isso que nós os elegemos e também não temos o direito de achar que eles são completamente desajeitados nestas coisas de contas e de retornos. Era tanta gente! E o que vale a promoção das duas cidades nas tv's?
Confesso que não sou fã do desporto em causa. Vi-o, esta tarde, de forma caricata. Deitado no sofã, via os aviões a fazerem a sua aproximação aos obstáculos e, no momento seguinte, virava os olhos para a tv para ver como eles passavam nos obstáculos. Uma vez ou outra, ia à varanda ver a romaria instalada nas imediações. Foi uma imagem a três dimensões. Claro que não gostei de sair de casa e ver que os meus vizinhos tinham decidido ter muitas visitas no dia de hoje e que o condomínio estava assaltado por tantos carros como nunca vi. Encolhi os ombros. Que chatice! Insuportável? Não. Nem isso nem o barulho destes dias. Fui calmamente a pé até ao centro comercial, esperei que o trânsito amainasse e a multidão dispersasse e, depois, fui onde tinha que ir de carro. Afinal, nem sequer tinha pressa. E temos que ser uns para os outros, claro, tudo sem esquecer que espero ver, brevemente, que a pista de aterragem que foi construída no Parque da Cidade seja removida.
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(Não saí, obviamente, de casa antes de ver que a Vanessa Fernandes conquistou a medalha de ouro de triatlo. Ó patêgo...)
3 comentários:
Caro Carteiro
como V mesmo diz, eu apenas me referi à hipérbole do número de espectadores. É que isso é pecha velha dos jornalistas e dos comentadores subitamente tão conhecedores deste género de provas. V. terá reparado que não pus em causa essa do "campeonato do mundo" que me soa a balela e que me parece mais uma coisa estilo digressão daqueles maravilhosos jogadores de basquetebol americanos que sempre me fascinaram com a sua imensa habilidade.
Também a princípio os levavam aqui e ali a fazer uns jogos que eles ganhavam e houve mesmo, se a memória me não falha, a ideia disparatada de um campeonato á margem das federações de basquetebol. Nisto dos aviões parece-me que ocorre o mesmo, tanto mais que há por esse mundo federações aeronáuticas.
Eu não ponho em causa o espectáculo de que vi alguns momentos na televisão. Sentado, confortável, sem calor, com uma cervejinha a latere e, sobretudo, vendo tudo graças aos meios empregados na tomada de vistas. Se calhar vi mais do que boa parte dos espectadores...
Mas não ponho em causa o entusiasmo de quem vai ver ao vivo. Aliás seria tolice porquanto eu sou capaz de ir a acontecimentos (e não eventos, palavra biltre que anda na boca de tudo o que palra na televisão) desportivos, culturais ou sociais e políticos a que outros não vão porque não gostam, porque não estão para isso ou por qualquer razão, mesmo ilegítima. Portanto e voltando à vaca fria: 600.000 parecem-me muitos. Tanto mais que por mero acaso (ou não, aliás: que vejo muita televisão estranjeira)vi mais umas provas identicas aqui e ali e os números dados eram claramente mais comedidos. E as terras maiores...
Em segundo lugar não falei em 200.000 euros por parte do Porto mas no dobro, como verificará (aludia às despesas não contabilizadas como subsídio directo). cheira-me que isso não tem retorno tanto mais que tratando-se de um acontecimento intra portas e dada a dificuldade de circular não terá havido tanto retorno assim por parte do comércio, todavia para não pensar mal de mim devo dizer que a minha amável fornecedora de leitão acabado de fazer me disse que ontem teve um apreciavel movimento na loja, maior od que o costume e que o atribuia aos aviões...
Também achei um pouco sobranceira a atitude do nosso caro JCP que não hesita em ir para o estádio do dragão apoiar o seu (dele) FCP. Mas compreendo a reacção dele como compreendo a dos vizinhos de qualquer estádio em dia de jogo importante: é uma chatice! eu que o diga que, vivendo no Foco tenho aqui perto o boavista...
A nossa cara "o meu olhar" gostou e promete voltar. Tudo bem, porque não? Eu confesso que só a ideia do apertão já me dava cabo da vontade. E o calor?
Mas se aquilo fosse uma prova de remo lá estaria entusiasmado para pasmo de muitos.
V. finalmente diz que gostos não se discutem. eu acho que se podem discutir, sem ânimo ofensivo e apenas, quanto mais não seja, para compreender. Quando alguém me diz que não gosta de jazz lá ando eu numa de proselitismo armstronguiano a tentar provar que vale a pena tentar ouvir, tentar perceber e finalmente tentar amar.
verifico agora que ainda estamos na silly season: tanto espaço bloguístico com os aviões!!!
Antes nisso que em choros ou insultos. um abraço
Caro Carteiro, concordo em absoluto com o que diz e gostava de lhe dizer que fiquei um pouco chocada quando li a referência à vitória da Vanessa Fernandes, que conquistou a medalha de ouro de triatlo. Dei-me conta que tinha estado a comentar apenas os aviões e deixei de lado um facto que se passou hoje e que tem tanta importância pela vitória do esforço, da perseverança, do profissionalismo e da humildade, qualidades todas elas presentes nesta atleta. Já coloquei um post para repor o que deveria ter sido a normalidade.
Longe de mim apodar de pategos os que foram ver os aviões. Estiveram lá muitos amigos que respeito. Penso, sim, que os senhores da RTP e os nossos ditosos autarcas querem tratar-nos como tal. A prova que decorreu no Douro foi, de facto, um evento publicitário bem sucedido, que atraiu centenas de milhares de pessoas (600.000, 700.000, 800.000 tanto faz, o que interessa é passar uma ordem de grandeza avassaladora) às margens do rio.
Trata-se, no meu modesto entendimento, de um investimento das autarquias no show-off e não num acontecimento reprodutor de investimento e atracção turística. Aliás, o show-off até passou por sortear, de moeda ao ar, de que lado da ponte era o pódio. E, no fim, os senhores autarcas, Rio e Menezes, nem foram à “cerimónia” para não terem de se encontrar. Vá lá que o Governo teve o bom senso de não enviar nenhum ministro e, assim, parece que o pódio acabou ocupado pelos “donos da prova”, os representantes das empresas patrocinadoras. Mas parece que ainda saber quem paga a segurança oficial!
Caro amigo, isto não tem comparação com as idas ao Dragão ou à Serra da Estrela. Modestamente, acho que vamos lá ver futebol e ciclismo enquanto desportos de alta competição com os quais nos identificamos, de que gostamos e de que talvez percebamos um pouco. Ir ver os aviões a fazer uns voos rasantes e umas piruetas é de outro campeonato. É comparar desporto de alta competição com puro entretenimento - que não tem qualquer mal, antes pelo contrário.
Por falar nisto, quantas daquelas pessoas estariam presentes, só para falar em provas que decorrem por agora, para ver os mundiais de atletismo ou o europeu de basquetebol num qualquer estádio ou pavilhão das redondezas? A “nossa” RTP, tão excitada a transmitir a prova dos aviões no primeiro canal, dá o exemplo e remete o Portugal-Espanha de hoje, o primeiro jogo de uma selecção portuguesa de basquetebol apurada para um campeonato da Europa, um feito só por si notável, para o minoritário canal 2, à hora do Telejornal. Ainda se fosse um jogo-treino do Benfica ou uma prova Red Bull…sem sobrancerias.
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