15 outubro 2007

missanga a pataco 29


A morte de uma "velhissíma velha" resistente


Morreu há dias, no fragor de um silêncio quase geral, Julieta Gandra.
Dela pouco sei. Apenas o que ouvia dizer, nesses tempos de chumbo e cólera, ao meu irmão e aos seus mais ou menos clandestinos amigos.
Médica, militante do pouco estimado partido comunista de Angola, (demasiado irrequieto naos olhos do seu congénere português, que preferiria colonizá-lo política e ideologicamente), esta mulher dava consultas gratuitas no muceque depois de pela manhã ter ganho modestamente a vida no seu consultório no asfalto.
Presa conjuntamente com a grande maioria dos seus escassos camaradas, foi transferida para Portugal onde lhe foi fixada residência. Os negros do grupo (Manuel dos Santos? João Baptista?) tiveram ainda pior sorte porquanto passaram longas temporadas no Tarrafal antes de lhes ser também fixada residencia na "metrópole" onde se empregaram como trabalhadores não qualificados nas obras do metro de Lisboa.
Ao que parece o "Público" não conseguiu pôr uma notícia sobre ela por haver demasiada publicidade e simultaneamente não haver um especialista em necrológicas deste tipo de pessoas!!!...
Eu, já disse, não a conheci. Mas a mão amiga da Zé Albarran que mantém, fácil e luminosa a indignação, conseguiu mandar-me esta fotografia. Não era para o "incursões" mas eu pilhei-a, desviei-a do destino e publico-a aqui. Porque os mortos morrem e pronto, mas merecem que alguém pague por eles a moeda ao barqueiro. Aqui está.

a fotografia é de um V. Nogueira que também não conheço. O título é uma adaptação de um famoso poema de José Craveirinha, poeta moçambicano, português e universal e prémio Camões.

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