15 outubro 2007

Au Bonheur des Dames 93



Kami 5 mcr 0


Pois é leitoras gentis e sisudos cavalheiros que me lêem. Estou aqui que nem me aguento. Desfeito! Um punching-ball rebentado pelos murros poderosos de uma vintena de pesos pesados. Uma espécie de lisboa-depois-do–terramoto se é que a figura ainda vos desperta qualquer compaixão.
E o caso é (era) simples. Eu escrevia para aqui as minhas coisinhas, todas metidas num envelope com o título da série, estampilhava-lhes o número e, ala que se faz tarde, éter com elas direitinhas ao incursões sem til. De quando em quando a srª administradora puxava duns óculos antiquíssimos que uma antepassada algarvia lhe deixou em legado, prendia-os ao nariz (trata-se como vêem de um pince-nez, com fita preta que já só se vêem nos inexistentes filmes europeus que não passam nos nossos ecrãs) e passeava majestosamente pela propriedade podando os excessos deste seu admirador e criado que aproveita o ensejo para lhe beijar a nívea mão. Punha-me a escrita em ordem, é o que é, avisava-me, uma e outra vez que eu tinha de tomar em linha de conta a fantasiosa numeração dos meus escritos, a inflação que inocentemente lhes impunha. E dava-me conselhos: “Olhe a posteridade, mcr! E os números que vai pondo. V., porventura, não fez a velha e reaccionária escola primária onde se aprendia a ler escrever e contar de um até mil ou mesmo mais? É que dá ideia que V nem até cinquenta sabe contar...”
Eu enviava-lhe umas respostas titubeantes e até, num esforço viril e heróico, criei aqui neste macbook pro onde soletro, um ficheiro dos meus ataques desalmados à literatura. Dividi-o em capítulos e em cada um pus uma das séries. Quando ia por mais um número era só consultar o ficheiro ver o último entrado e zás: bota o seguinte.
Mas nem isso! Há dias a srª administradora enviou-me uma mensagem: que viera do Brasil, que comera bananas, que vira araras, papagaios e multidões em escasso fato de banho em ipanema, que dançara o samba e outras danças que o decoro não permite invocar, que a Sílvia é uma fera no que respeita a fazer noitadas (como se nós não suspeitássemos: aquilo dos poemas é mera fachada, o diabo da moça é danadinha para a farra!!!) e finalmente, que eu continuava a prevaricar viciosamente na numerologia, que isto parecia o moinho da Joana, enfim, uma carga de pau que me deixou mais moído que um pacote de farinha Amparo.
Fui ao ficheiro e pelo que vi estava tudo bem. Ah ah, a Kami desta vez acertou na água. Está tudo bem e nos conformes!
E foi isso que lhe respondi mandando-lhe até para exemplo e escarmento um dos meus ficheiros.
Mas está escrito no firmamento da secreta guerra de sexos que lavra neste blog que nem assim eu ganharia. Uma única vez, note-se. Eu só queria ganhar uma vez, como a nossa selecção de rugby que também veio de lá sem ver o padeiro ou a padeira, consoante. A temível administradora, puxou de novo do pince-nez e pimba! Toma lá que já bebes! E mandou-me ver uma coisa ratona que está por cima de outras ratices quando se bota à água mais um barquinho. Aí, mesmo, ao lado do monstrengo que está no fim do mundo, preto no branco, impunha-se um formidável muro de escritos numerados a eito e a preceito. Qualquer ilusão que eu tivesse bem que a abandonei quando passei, sem Dante nem Virgílio, a temível porta. Ali se provava, bloguisticamente, que coisas que eu escrevi, não escrevi, que eu tenho mas que são sombras, ou, não o sendo, esqueci de as rotular convenientemente com um número, um nome e sei lá que mais.
E agora, como vai ser a posteridade? Andarão os meus admiradores (boa piada, esta...) desvairados na minha arca etérea a tentar verificar se o bonheur 23 é esse mesmo ou outra coisa qualquer a que, cansados e desiludidos, porão o nome de variante? Variante? Variante totalmente diferente? Homessa! Que raio de avaria é essa? E haverá polémicas ferocíssimas, artigos definitivos, reputações caídas no lamaçal da ignomínia porque um autor batoteiro sem o saber, canhoto e alelado, deixou um informe monte de textos sem pai nem mãe, ou com demasiados progenitores, o que vai dar ao mesmo. Amigas e amigos: Isto nem com sheltox se resolve. Eu assumo a carga de pau que a Kami, fazendo jus ao seu guerreiro e integral nick name (Kamikaze), me ferrou. E como no rugby, assumo que ela marcou este ensaio que bem pode ser o definitivo sinal da minha derrota. E conforme aos usos desse jogo, nada mais me resta do que aplaudir a adversária e sair de campo de cabeça levantada. A próxima meia parte vai ser renhida.

A gravura poderia parecer uma "punching ball" portátil, como os telefones. Poderia mas não é: é o vero retrato de mcr antes de começar a escrever aqui as suas balivérnias. Estava gordinbho e rosado como um leitão, não é? Pois agora está feito um desastre. Fiquem-se com a fotografia dos gloriosos tempos, que a actual nem para ilustrar uma campanha sobre os efeitos nefastos do tabaco serve. Por demasiado cruel.

3 comentários:

Silvia Chueire disse...

Rindo aqui, do post.Está ótimo!

E eu que não tinha nada com isso, saio dele com fama de farrista, é?
Ah, preciso tratar de fazer jus a ela. : )


Abraço grande,

Silvia

Kamikaze (L.P.) disse...

AH AH AH que fartote de rir Marcelo, com o seu magnífico post! Alertada pela farrista Sílvia, vim logo assim que pude, ver do que se tratava. Só uma correcção a fazer: não é pince nez, é microscóipio, mesmo! Como escrevo pouco, administro à lupa :)
Abraço de enoooorme gratidaão pelo bons momentos que os seus posts, ainda que mal numerados, nos proporcionam :)

O meu olhar disse...

MCR, este seu post está uma verdadeira delícia…