Pois é leitorinhas gentis. A série “Au Bonheur des Dames” atingiu, entre trancos e solavancos, o bonito número 100. Ora toma lá que já bebeste! Então eu já vos incomodei cem vezes? Cem vezes é um modo de dizer que andam por aí outras escrituras que mesmo descontando alguma fantasia no seu cômputo (e só Deus, a Madame Kami e o leitor Manuel Sousa Pereira é que lhe conhecem todos os desvios, desatinos e confusões) já devem perfazer um numero bem redondo.
Não sei bem como tudo isto começou. Ou melhor, esgaravatando a memória exausta fico com a ideia de que tudo se deve a um desafio do caríssimo Lemos Costa, patriarca in partibus deste blog, neste momento em parte incerta, e do Manuel Simas Santos que, fosse eu Pinóquio ele seria o grilo da consciência. O raio do homem só me arranja sarilhos. A ideia dele é que eu sou preguiçoso (alguma razão terá) e que por isso devo fazer muita ginástica sueca, ler livros de Direito (chiça!) e vender a minha força de trabalho (tal e qual, o homem tem as suas leituras sinistras) a quem for suficientemente ingénuo para me contratar.
Eu, claro, faço-me de parvo (e se alguém daí disser que não me será difícil, que se acautele...) e deixo correr o marfim, tentando ver se ele se esquece. Mas não. Aquilo é um elefante teimoso e, só para me livrar dele, vezes há em que acabo por fazer o que me pede. E foi assim que comecei a colaborar nesta barca. De todo o modo, fintei-o: quando aqui cheguei imperava (mas não exclusivamente) a colaboração de carácter jurídico. Ora eu, para esse peditório, já tinha dado mais do que suficiente. Ainda por cima estava desde há muito desligado dos mundos jurídicos de modo que por muito que espremesse a moleirinha nunca sairia nada de interessante. Quem não tem cão caça com furão, e eu à falta de matéria substanciosa dediquei-me às croniquetas.
Para dar alguma unidade a tais escritos, lembrei-me de um nome que, por mais voltas que desse ao miolo, não recordava a origem. Alguma vez nos longínquos anos 60/70 vira um cartaz ou algo no género com este título “Au Bonheur des Dames”. Onde e quando é que era mais complicado. Todavia, por várias vezes ao subir o Chiado tentei ver se seria dali que me vinha essa memória precária. Nada! No Chiado, que eu percorrera vezes sem conta com uma alegre comandita onde se destacavam os irmãos Salomé (Vitorino, Janita, Manel) o Cabeça de Vaca (já lá descança) o Hipólito Clemente (idem, aspas, aspas) o Fernando Assis Pacheco e sei lá mais quantos, não sobrava nenhuma placa com esse nome tão franciú e tão de outra época.
Tenho felizmente um par de leitores amigos e entre eles, o escultor Manuel Sousa Pereira, ocasional peripatético lisboeta, fotógrafo de longe em longe e marceneiro de estimação cá de casa (neste momento anda a fazer-me uma pequena estante e seria bom que quando lesse isto já a tivesse pronta...). Mais abrangente do que eu na pesquisa, deu-lhe para subir a Rua do Carmo sempre a olhar para o alto dos prédios com risco da própria vida pois consta que chocou com o carro dos fados, ali a meio da citada rua. Atropelou-o, valha a verdade, mas a carripana magnânima não se queixou. Ora ao passar por uma coisa em forma de assim (ou melhor: uma coisa assim de informe) com um nome ridículo e pouco condizente com o minimalismo do que dentro ostenta, reparou no antigo nome do estabelecimento, uivou um eureka que se ouviu na Brasileira e, zás!, tirou uma fotografia, esta, que ora ilustra a crónica.
Leitoras que aqui chegaram: digam-me lá se o antigo nome da loja (e eventualmente a antiga loja...) não tem muito mais graça do que aquele anódino “empório”?
Por mim até agradeço: ninguém me vem disputar o uso do título destas crónicas que adquiri, não direi por usucapião mas por estar simplesmente ao abandono. Já o Dr Marcello Caetano, quando se viu cercado ali perto, chamou o general Spínola para “o poder não cair na rua” (onde aliás estava e se manteve um bom ano e meio). Eu também Marcelo, mas só com um “l”, fiz o mesmo que o general. Apanhei do chão como salvados de um incêndio as quatro palavrinhas francesas “au bonheur des dames” limpei-lhes o sarro, a fuligem e as manchas do tempo e das chuvas ácidas, e aqui lhes vou dando uso. Se com muito, pouco ou nenhum êxito não sei. Espero todavia que, uma que outra vez, alguma leitora me premeie com um sorriso. O cronista contenta-se com esse pouco que para ele é muito.
Não sei bem como tudo isto começou. Ou melhor, esgaravatando a memória exausta fico com a ideia de que tudo se deve a um desafio do caríssimo Lemos Costa, patriarca in partibus deste blog, neste momento em parte incerta, e do Manuel Simas Santos que, fosse eu Pinóquio ele seria o grilo da consciência. O raio do homem só me arranja sarilhos. A ideia dele é que eu sou preguiçoso (alguma razão terá) e que por isso devo fazer muita ginástica sueca, ler livros de Direito (chiça!) e vender a minha força de trabalho (tal e qual, o homem tem as suas leituras sinistras) a quem for suficientemente ingénuo para me contratar.
Eu, claro, faço-me de parvo (e se alguém daí disser que não me será difícil, que se acautele...) e deixo correr o marfim, tentando ver se ele se esquece. Mas não. Aquilo é um elefante teimoso e, só para me livrar dele, vezes há em que acabo por fazer o que me pede. E foi assim que comecei a colaborar nesta barca. De todo o modo, fintei-o: quando aqui cheguei imperava (mas não exclusivamente) a colaboração de carácter jurídico. Ora eu, para esse peditório, já tinha dado mais do que suficiente. Ainda por cima estava desde há muito desligado dos mundos jurídicos de modo que por muito que espremesse a moleirinha nunca sairia nada de interessante. Quem não tem cão caça com furão, e eu à falta de matéria substanciosa dediquei-me às croniquetas.
Para dar alguma unidade a tais escritos, lembrei-me de um nome que, por mais voltas que desse ao miolo, não recordava a origem. Alguma vez nos longínquos anos 60/70 vira um cartaz ou algo no género com este título “Au Bonheur des Dames”. Onde e quando é que era mais complicado. Todavia, por várias vezes ao subir o Chiado tentei ver se seria dali que me vinha essa memória precária. Nada! No Chiado, que eu percorrera vezes sem conta com uma alegre comandita onde se destacavam os irmãos Salomé (Vitorino, Janita, Manel) o Cabeça de Vaca (já lá descança) o Hipólito Clemente (idem, aspas, aspas) o Fernando Assis Pacheco e sei lá mais quantos, não sobrava nenhuma placa com esse nome tão franciú e tão de outra época.
Tenho felizmente um par de leitores amigos e entre eles, o escultor Manuel Sousa Pereira, ocasional peripatético lisboeta, fotógrafo de longe em longe e marceneiro de estimação cá de casa (neste momento anda a fazer-me uma pequena estante e seria bom que quando lesse isto já a tivesse pronta...). Mais abrangente do que eu na pesquisa, deu-lhe para subir a Rua do Carmo sempre a olhar para o alto dos prédios com risco da própria vida pois consta que chocou com o carro dos fados, ali a meio da citada rua. Atropelou-o, valha a verdade, mas a carripana magnânima não se queixou. Ora ao passar por uma coisa em forma de assim (ou melhor: uma coisa assim de informe) com um nome ridículo e pouco condizente com o minimalismo do que dentro ostenta, reparou no antigo nome do estabelecimento, uivou um eureka que se ouviu na Brasileira e, zás!, tirou uma fotografia, esta, que ora ilustra a crónica.
Leitoras que aqui chegaram: digam-me lá se o antigo nome da loja (e eventualmente a antiga loja...) não tem muito mais graça do que aquele anódino “empório”?
Por mim até agradeço: ninguém me vem disputar o uso do título destas crónicas que adquiri, não direi por usucapião mas por estar simplesmente ao abandono. Já o Dr Marcello Caetano, quando se viu cercado ali perto, chamou o general Spínola para “o poder não cair na rua” (onde aliás estava e se manteve um bom ano e meio). Eu também Marcelo, mas só com um “l”, fiz o mesmo que o general. Apanhei do chão como salvados de um incêndio as quatro palavrinhas francesas “au bonheur des dames” limpei-lhes o sarro, a fuligem e as manchas do tempo e das chuvas ácidas, e aqui lhes vou dando uso. Se com muito, pouco ou nenhum êxito não sei. Espero todavia que, uma que outra vez, alguma leitora me premeie com um sorriso. O cronista contenta-se com esse pouco que para ele é muito.
1 comentário:
Esta vida são dois dias,
a escrita do Marcelo é o brinde...
Folgai, leitores!
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