17 dezembro 2007

BRINCAR COM O REVÓLVER DE CAMILO

O Jornal das Artes e das Letras publicou uma interessante nota biográfica, da autoria de F. Ribeiro da Silva, sobre “Camilo Castelo Branco e a Irmandade da Lapa”. O artigo está repleto de factos e de nomes. Também se refere ao legado efectuado à Irmandade de alguns bens pessoais de Camilo, que identifica: “um tinteiro de bronze para duas tintas; um pesa papel de bronze; uma lâmpada de bronze, para escrevaninha; uma tezoura de bronze, um cabo de madrepérola e ouro, para pennas”. Este legado é acompanhado do pedido destes utensílios serem usados pela Meza Administrativa da Irmandade na sala das suas sessões. Àqueles bens juntaram-se outros, “entre os quais o revólver de Camilo, em cujo carregador falta uma bala”. Diz-se que terá sido a bala com que se suicidou.

Contado isto, confesso que na arrecadação, tipo arquivo onde aqueles bens estavam pseudo arrumados, nunca vi uma “lâmpada de bronze” nem o “cabo de madrepérola e ouro”, mas eu, com catorze, quinze anos, que nunca pertenci à Meza Administrativa da Irmandade; que estava na base da pirâmide dos seus trabalhadores; usei o tinteiro de bronze e a penna, brinquei (e muito) com o revólver de Camilo (que não tinha balas), com o qual me devo ter imaginado artista em filme de cowboys. É que eu adorava filmes de cowboys!

Agora que li o artigo do Jornal das Artes, Letras e Ideias fiquei satisfeito por relembrar o meu lugar de refúgio na adolescência e por saber que a Irmandade encontrou um lugar melhor e mais digno para guardar aqueles objectos, carregados de memórias.

3 comentários:

d' Oliveira disse...

Que coisa extraordinária! Com que então a brincar com os pertences do "velho". E na Lapa! Provavelmente nas mesmas instalações onde Eça estudou. E onde Ramalho Ortigão deu aulas...
Faça lá o favor de contar isso com mais molho e mais em miúdos.

JSC disse...

Caro d’Oliveira

Aquilo era mesmo uma arrecadação que ficava por baixo da Secretaria da Irmandade. A Escola era no mesmo edifício. O Porto, e muito menos o país, não fazem a mínima ideia da riqueza, da história, da cultura que a Lapa encerra. Em qualquer roteiro cultural e religioso a Lapa deveria ser um sítio de culto.

jcp (José Carlos Pereira) disse...

Francisco Ribeiro da Silva foi meu professor e é um dos mais profundos conhecedores da História da cidade do Porto.