Es
Xtmas time
Sentimentos diversos, melancolia, nostalgia, exasperação, alguma escondida esperança tudo isto num fundo de ternura que gostaria que não fosse piegas... Ou que o fosse o menos possível...
O Natal bate-nos à porta com demasiada força, demasiado ruído, cores berrantes e uma coorte infindável de mortos. Todos os nossos mortos! Uma lista que cresce como o deserto no coração. E, como dizia o poeta, ai de quem acolhe desertos. Cito de memória, estou fora de casa, longe dos meus livros, na (provavelmente) última casa de minha mãe, prestes a partir para a casa do meu irmão, onde já se amontoam outros familiares, familiares de familiares, algum eventual namorado de uma das raparigas mais novas, que a namorada do Manuel foi para a Figueira para casa dos avós. O dia passei-o a fazer recados, leite para o arroz doce, ovos, esqueceram-se de me pedir ovos, volta mcr ao supermercado por ovos e para uma fila maior do que a légua da Póvoa, carregar as prendas para a casa dos sogros, trazer as prendas de lá, ficam já aqui, que isto pesa e já basta o circo que nos espera em casa do meu irmão.
Já preparei o carregamento dos presentes para a tribo que nos espera mas receio-me que lá mais para a noite, a CG se lembre de um saquinho que ficou sabe-se lá em que recanto desta casa. Se ficou, vem amanhã, repontarei, mas a cara de poucos amigos da CG e a outra mais ansiosa do presenteado vão obrigar-me a sair, meter-me no carro, vir a casa, procurar desesperado por todo o lado, praguejando que nem um carroceiro dos antigos, dos verdadeiros, dos que já não há, nostalgia, nostalgia, e de repente ouvir o telemóvel com ordem de regresso, uma voz embaraçada a dizer-me quer afinal, o embrulho estava atrás de um maple, quieto e calado a ver se escapava da ânsia voluptuosa de dador e de recebedor. Nesse momento penso coisas monstruosas, fico já aqui, não volto, que venham como puderem, o Octávio tem carro que as traga que eu vou mas é ler um livro, ouvir o canal Mezzo, beber um copo de água e preparar-me para a segunda parte das festividades que começará amanhã à hora do primeiro café, cortejos alucinados de viciados à procura de um lugar onde se beba uma bica já não digo boa mas apenas decente, procurar lugar para estacionar o carro, junto de um dos poucos pontos onde há a maldita bebida, ir para outra bicha, desta vez mais pequena, que a maior parte dos fregueses só pede café e uma água fresca de preferência, que ainda estão arrombados pelas rabanadas, pelas filhoses, pelos cremes queimados, o arroz doce, o bolo rei, e sei lá mais quantas coisas que a imaginação portuguesa é neste capítulo de uma assustadora fertilidade...
Juro que só terei comido uma vaga rabanada ou nem isso, eu para doces já dei mas não dou. De todo o modo estarei contagiado pelo ar do tempo e devo ter um ar tão entupido quanto o dos que me rodeiam.
E não há jornais. E se houver, devem ser horrendos, cheios de baboseiras sobre o Natal, de menus, de ideias para prendas, de informações inúteis e erradas sobre a quadra, as tradições e tudo o resto.
E lá mais atrás alguns fantasmas amáveis mas dolorosos olham para nós com doçura e serenidade: o meu pai, a avó Aldina, o avô Manuel, outros avós quand même, o Jorge e a Alcinda que para mim foram muito mais do que sogros para não falar numa longa teoria de parentes mais longínquos mas presentes porque o Natal tem isto de bom e de mau ao mesmo tempo: convoca toda a gente e todos se acotovelam à nossa frente, prevenindo-nos que devemos, apesar de tudo, aproveitar o dia e os vivos porque o nosso tempo é cada vez mais finito.
Isto não está muito alegre mas isto é o que mais se assemelha a uma oração ateia de um escrevinhador de croniquetas que envelhece, se enternece e vos deseja do fundo do coração Boas Festas.
O Natal bate-nos à porta com demasiada força, demasiado ruído, cores berrantes e uma coorte infindável de mortos. Todos os nossos mortos! Uma lista que cresce como o deserto no coração. E, como dizia o poeta, ai de quem acolhe desertos. Cito de memória, estou fora de casa, longe dos meus livros, na (provavelmente) última casa de minha mãe, prestes a partir para a casa do meu irmão, onde já se amontoam outros familiares, familiares de familiares, algum eventual namorado de uma das raparigas mais novas, que a namorada do Manuel foi para a Figueira para casa dos avós. O dia passei-o a fazer recados, leite para o arroz doce, ovos, esqueceram-se de me pedir ovos, volta mcr ao supermercado por ovos e para uma fila maior do que a légua da Póvoa, carregar as prendas para a casa dos sogros, trazer as prendas de lá, ficam já aqui, que isto pesa e já basta o circo que nos espera em casa do meu irmão.
Já preparei o carregamento dos presentes para a tribo que nos espera mas receio-me que lá mais para a noite, a CG se lembre de um saquinho que ficou sabe-se lá em que recanto desta casa. Se ficou, vem amanhã, repontarei, mas a cara de poucos amigos da CG e a outra mais ansiosa do presenteado vão obrigar-me a sair, meter-me no carro, vir a casa, procurar desesperado por todo o lado, praguejando que nem um carroceiro dos antigos, dos verdadeiros, dos que já não há, nostalgia, nostalgia, e de repente ouvir o telemóvel com ordem de regresso, uma voz embaraçada a dizer-me quer afinal, o embrulho estava atrás de um maple, quieto e calado a ver se escapava da ânsia voluptuosa de dador e de recebedor. Nesse momento penso coisas monstruosas, fico já aqui, não volto, que venham como puderem, o Octávio tem carro que as traga que eu vou mas é ler um livro, ouvir o canal Mezzo, beber um copo de água e preparar-me para a segunda parte das festividades que começará amanhã à hora do primeiro café, cortejos alucinados de viciados à procura de um lugar onde se beba uma bica já não digo boa mas apenas decente, procurar lugar para estacionar o carro, junto de um dos poucos pontos onde há a maldita bebida, ir para outra bicha, desta vez mais pequena, que a maior parte dos fregueses só pede café e uma água fresca de preferência, que ainda estão arrombados pelas rabanadas, pelas filhoses, pelos cremes queimados, o arroz doce, o bolo rei, e sei lá mais quantas coisas que a imaginação portuguesa é neste capítulo de uma assustadora fertilidade...
Juro que só terei comido uma vaga rabanada ou nem isso, eu para doces já dei mas não dou. De todo o modo estarei contagiado pelo ar do tempo e devo ter um ar tão entupido quanto o dos que me rodeiam.
E não há jornais. E se houver, devem ser horrendos, cheios de baboseiras sobre o Natal, de menus, de ideias para prendas, de informações inúteis e erradas sobre a quadra, as tradições e tudo o resto.
E lá mais atrás alguns fantasmas amáveis mas dolorosos olham para nós com doçura e serenidade: o meu pai, a avó Aldina, o avô Manuel, outros avós quand même, o Jorge e a Alcinda que para mim foram muito mais do que sogros para não falar numa longa teoria de parentes mais longínquos mas presentes porque o Natal tem isto de bom e de mau ao mesmo tempo: convoca toda a gente e todos se acotovelam à nossa frente, prevenindo-nos que devemos, apesar de tudo, aproveitar o dia e os vivos porque o nosso tempo é cada vez mais finito.
Isto não está muito alegre mas isto é o que mais se assemelha a uma oração ateia de um escrevinhador de croniquetas que envelhece, se enternece e vos deseja do fundo do coração Boas Festas.
3 comentários:
Pois é Mcr este período de Natal é uma fonte de contradições e de recordações. Do saldo, fica a ternura.
Um grande, grande abraço para si e para todos os amigos incursionistas com o desejo que 2008 vos traga o que mais desejam.
Um abraço a todos
Vocês têm razão. Sinto-me identificada com os dois. Gsotei tanto do seu texto, MCR. Muito.
Abraços,
Silvia
Belíssimo o recorte do tempo de paz que nos carrega um stress enorme e muitas saudades. Abraço, Marcelo.
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