22 dezembro 2007

missanga a pataco 39

Uma de comentador do Público!!!


Um ilustre advogado entendeu, quinta-feira passada, escrever no “Público” sobre a nova polícia de costumes que, segundo ele, nos ameaça. Queixa-se que os fumadores estão prestes a ir para o ghetto, que os “jaquinzinhos” (na versão simples ou com arroz de tomate) estão quase proibidos, que os “peixinhos da horta” correm o risco de apanhar pela frente com um comissário da União
Europeia que leve muito a sério a sua missão de defensor das crianças, das viúvas e dos órfãos. E por aí fora até chegar ao “copo”, o copito tomado a desoras, já com o pé no estribo prestes a ir para o leitinho, xixi e cama.
Convenhamos que nem sempre a profissão ajuda! Percebe-se pouco e mal que fantasmas pretende combater o dr Nuno Galvão Teles. Sobretudo quando vê o sombra perigosa de Salazar a estender-se baçamente sobre o país traumatizado.
O dr Teles entende, e com alguma razão, que a campanha governamental anti-tabaco atinge foros de cruzada piedosa e impiedosa contra quem puxe de um paivante, o leve à boca mimosa e o acenda mediante isqueiro, amorfo, ou lumes de origem desconhecida. O Dr Campos e o Sr 1º Ministro parecem o dois cavaleiros medievais a bradar “Deus o quer, Deus o quer” enquanto fazem as malas para embarcar para a Terra Santa, com paragem e saque em Constantinopla a herética.
A gente desconfia de tanta boa vontade e solicitude dos governantes, sobretudo quando sabe que se continuam a permitir os cultivos bem pagos de tabaco nos nossos campos...
A gente acha destemperada a campanha da ASAE que, qual nova polícia política, diz com meia cara que não proíbe as bolas de Berlim e com o resto da feia careta edita um monte absurdo de regras que chegam a proibir o já proibido. A ASAE é como as moscas e os antigos inspectores dos isqueiros: desenfreou por esse pais fora e puxa do crachá com o mesmo à-vontade com puxaria do cassetete se a deixassem. E a procissão ainda vai no adro, podem crer. Daqui a pouco proíbem a alheira de Mirandela, a morcela da Beira, o paio não industrial, as sardinhas assadas e os pimentos que não sejam de conserva. Tudo pela nossa saúde, pela nossa rica saúde. É o chamado acosso saudável que vem já a seguir ao sexual e ao espiritual (não sei se repararam que agora nos batem à porta evangelistas de todas as religiões, oferecem Bíblias a baixo custo e mal impressas, orações ao Divino Coração de Cristo, anúncios de dilúvio universal, o que se queira). Parece que ateus, indiferentes e leigos são doentes perigosos a pedir tratamento urgente e/ou camisa de forças.
Todavia não foi exactamente isto que o Dr Teles veio lamentar. Atentemos nesta frase (que não está descontextualizada): “olho e pergunto se posso beber um copo? Não hoje é dia de polícia....” E depois fala de operações stop que, com infame democracia, mandam para “boguinhas” e Jaguars para os condutores soprarem no balão.
Alto e para o baile! Eu não tenho nada contra os advogados que gostam de entornar. Que sejam mesmo um pouco alcoólicos. Que bebam até cair. Que necessitem de ir ao hospital tomar uma coramina. Que morram de delirium tremens, a la riguer. É com eles. Claro que detesto aturar bêbados, violentos ou chorosos, pegajosos ou humildes.
O que me parece espantoso em quem se intitula no pé de página como advogado é esta explícita defesa do copo aliado à condução. Que um bêbado se rebente num talude, não me aquenta nem arrefenta. O que me chateia é que o bêbado ao volante de um instrumento de morte, mate, fira ou sequer assuste alguém. Isso, entrar num carro com um copo a mais é um crime. Contra nós todos que também circulamos mas apenas movidos a água. O Dr Teles pode, querendo, afogar-se numa barrica de vinho tinto ou noutra menos vulgar de “bourbon”. É com ele. Não pode, muito menos deve, vir fazer a apologia do copo a destempo. Do copo que regra geral mata mais inocentes que culpados. Eu desconheço a idade do advogado Teles. Temo que ele nem sequer tenha tido tempo de conhecer bem o Dr Salazar. E temo muito mais que pretenda vir defender à pala do jaquinzinho ou do cigarro a condução sob efeito do álcool para a qual, douto colega, não deveria haver qualquer espécie de tolerância. E chame-me fascista à vontade...

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