14 janeiro 2008

As Crianças… Senhor

A mendicidade infantil já não incomoda grandemente. É uma simples notícia de Jornal, banal, com justificações que nem o chegam a ser. Os jornais deram a notícia e pronto, tudo como dantes. Vamos aguardar pelos números do próximo ano. Talvez não sejam piores. As estatísticas estão a ser revistas e melhoradas.

Não deve ser por falta de legislação de protecção a crianças e jovens. Tão pouco deve ser a falta de instituições (públicas e privadas) que se ocupam a enquadrar crianças e jovens. Também não deve ser a falta de recursos financeiros, porque sempre se ouve dizer que as crianças são o futuro, logo a principal prioridade, o que significa afectação de meios.

Então, como justificar que seres indefesos sejam proscritos, abandonados ou mesmo explorados, em todos os sentidos? A resposta deve ser a do costume: É esta sociedade maldita; é a crise; é a dissolução da família. Assim se lava e justifica tudo.

Só que a notícia diz que a Escola expulsa porque se deu um dado número de faltas; a Junta de freguesia nada diz, a Santa Casa, por sua vez, diz não ter competências para intervir, o que é negado pelo Ministério da Solidariedade Social, que diz que é à Santa Casa que compete intervir.

Afinal o problema adicional é que há entidades a mais, sendo que não sabem exactamente quais as suas competências.

Para compor o ramalhete existe, ainda, alguém responsável pela gestão de uma coisa a que chamam Linha de Emergência Social do Instituto de Segurança Social, a esclarecer que podemos estar todos tranquilos porque não têm qualquer registo de crianças a mendigar.

Contudo, face à evidência que mostra que há crianças a mendigar, eu tenho uma explicação para a falta de registo que eles anotam. É que os funcionários e responsáveis da tal Linha estão todos escondidos atrás da dita Linha, se andassem cá por fora, com olhos de ver, veriam as crianças a mendigar, só ou acompanhadas.

A juntar às entidades já referidas há, ainda, as Comissões de Protecção de Menores e Jovens em Risco, que segundo um dos seus responsáveis explica o fenómeno das crianças a pedinchar porque “quanto mais tempo estão na rua a pedir, mais dinheiro conseguem obter” (deve ter estudado muito para chegar a esta conclusão) e “este fenómeno revela um padrão de marginalização social.

O trabalho que devem ter tido para tirar tão sábias e doutas conclusões, entretanto, a pedinchice (e exploração) continua, com as diversas entidades (polícia incluída) a reflectirem (ainda acabam por encomendar um estudo) para ver se descobrem quem deve fazer o quê, neste domínio.

5 comentários:

o sibilo da serpente disse...

Caro JSC: devo confessar-lhe que, com muito agrado, há já vários anos que não vejo crianças a pedir na rua.

JSC disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
JSC disse...

Caro JM Coutinho Ribeiro

Eu já não posso dizer o mesmo. É habitual encontrar crianças sentadas ou deitadas no chão, quase sempre acompanhadas, a pedir na Rua de Fernandes Tomás, Santa Catarina, Sá da Bandeira e mesmo na Av. dos Aliados (junto à entrada principal da CGD). O miúdo da foto mais o cão já fizeram acampamento (semanas a fio) junto ao Grande Hotel do Porto.
Anoto que em “caixa”, que não aparece na notícia lincada, o JN indica que no ano de 2006, só em Lisboa e Porto, foram identificadas 260 crianças na mendicidade pelas respectivas Comissões de Protecção de Menores. É muita criança, não lhe parece?

Kamikaze (L.P.) disse...

O Coutinho Ribeiro andava na rua envolto numa nuvem de... fumo mesmo antes da entrada em vigor da "lei anti-tabaco", está visto :)
*
Texto oportuno, conciso, claro, certeiro, com ironia q.b. - como alías é timbre do JSC. Gosto :)

o sibilo da serpente disse...

Caríssimos:
Eu não disse que não há crianças na mendicidade - disse apenas que há já muito que não vejo.
Há uns anos, na minha rua - Fernandes Tomás - era frequente. Agora não.
Perguntei aqui pelo escritório e dizem-me que nos últimos dias - depois de muito tempo sem aparecerem - há dias em que aparecem por aí, intermitentemente, uns miúdos (romenos?) com o pai ou a mãe. Mas, honestamente, não me tenho encontrado com eles.