17 janeiro 2008

Au bonheur des Dames 106


Os tempos e os costumes

Recebo um mail onde me contam uma história exemplar. Um senhor presidente de uma “Entidade Reguladora”, um desses organismos que não param de me surpreender porquanto nunca lhes vi utilidade que compensasse minimamente o que custam ao erário público e aos bolsos do contribuinte privado, demitiu-se.
Primeira surpresa: esta gente nunca se demite. Ou então demite-se com uma pistola apontada ao peito, uma faca encostada aos gorgomilos, ameaças contra a família e mais uma série de coisas que nem ao cérebro enlouquecido de um serial killer costumam ocorrer. Não se demitem e só com muita força e habilidade é que se consegue desencostá-los da mesa do orçamento onde copiosamente se vão servindo.
Mas este demitiu-se. “Bravo” dirá a leitora gentil e distraída, mais inocente do que convém a uma donzela nestes tempos onde não há capuchinho por mais vermelho que seja que a salve, floresta por onde se possa esgueirar, avozinhas doentes e restante parafernália. Nos tempos que correm os lobos andam escafedidos porque o homem, o bicho homem, arregaçou a beiça e mostrou com quantos colmilhos pode morder.
A leitora que esbravejou vai para o canto da sala e põe orelhas de burro. Se a pedagogia moderna dessa senhora que dá por ministra da educação (não se riam que é assim mesmo que lhe chamam...) ainda o permite.
E vai para o cantinho porquê? Porque é parva de atar, tonta, tontérrima, e diz coisas tolas. Já lhe disseram que os gestores deste género nunca se demitem e põe-se a aplaudir o tal que se demitiu. Então não percebeu que por ali anda marosca?
Andará?
Os leitores julgarão.
Este presidente de “entidade reguladora” demitiu-se sim senhor. Estará doido? Haverá doidos nessa categoria de criaturas que se sucedem umas às outras á frente dos mais variados institutos, entidades, empresas públicas & similares?
Não, reponta, lá do fundo, o leitor José.
Não, faz-lhe eco o leitor Manuel Sousa Pereira que conhece de ginjeira os gestores desta sub-raça lusitana.
Não, não e não, crocitam indignadas as leitoras ofendidas por eu ter ofendido a leitora acima citada que continua de castigo.
Claro que não, homens de Deus! E mulheres, acrescento, ainda que in imo pectore, murmure “do diabo”.
O senhor presidente da tal “entidade reguladora” de mes deux, demitiu-se mas conserva o cacau mensal que a alta justiça da mesma entidade reguladora do raio que a pariu, decretou como salário modesto mas digno para tão ilustre a atarefada criatura. Ou seja 12.000 eurinhos mensais. O mesmo é dizer dois mil e quatrocentos contos dos antigos. E por dois anos, coitado, até arranjar um emprego que o alivie da maçada de ter de viver com esta miséria.
O mail recebido pergunta-se retoricamente: mas se o gajo se demitiu porque raio continua a “mamar”?
Respondamos, elevando o nível:
Um presidente de uma entidade reguladora, instituto público, empresa pública ou similar não mama. Recebe honorários. Modestos mas ele, possuído pelo amor impensado pela “res publica” não olha a sacrifícios: “tudo pelo Nação, nada contra a Nação”.
E o facto de continuar a receber o pequeno estipêndio de uma dúzia de milhares de euros mensais é apenas uma obrigação decorrente dos estatutos da entidade reguladora. Ele limita-se a cumprir a lei ou, no caso vertente, a deixar que a lei cumpra para cima dele esta cornucópia de pardaus.
E quem é que estabeleceu os estatutos da “entidade reguladora”?
Para já essa pergunta é capciosa e indica má fé. Mas como a “entidade” e o digno demissionário nada têm a esconder, sempre se esclarece que os estatutos da entidade reguladora foram redigidos pela sua direcção como está bom de ver. Ou queriam que fosse o vizinho da frente? Ou o comandante Fidel de Castro? Ou o aiatolah Komeiny?
As entidades e as enteléquias são autónomas e fazem o que têm de fazer dentro dos limites generosos da lei que as pariu. Esta, através dos seus órgãos sociais, legalmente constituídos, deu aos presidentes demissionários (e aos colegas menores mas directores quand même...) esta pequena satisfação. Recebem até um prazo máximo de dois anos (e que são dois anos na história do mundo? Um soluço, um esgar, quiçá um traque, vulgarmente designado por peido, enfim um arzinho da sua graça, o que quiserem) o salário modesto que por sacrifício e sentido de Estado se atribuíram. Até encontrar um emprego digno. A lei é omissa, julgo, quanto a pareceres esporádicos, prémios de lotaria, ofertas por aniversários, gorjetas e outros recebimentos de carácter esporádico ou irregular.
Quem se demite tem de salvar a sua dignidade. Imaginem que além de se demitir ainda lhe retiravam o ordenado. Onde é que se viu uma coisa dessas? Em Portugal os demissionários, por exemplo o caixeiro da mercearia ali da esquina, que se chateou por o mandarem trabalhar a desoras, e se demitiu continua a receber do patrão inoportuno o cacau que mensalmente lhe cabia enquanto trabalhava. Ai não é assim? Depressa chamem a ASAE para punir o capitalista relapso e incumpridor!
É claro que isto que venho relatando é obviamente uma brincadeira. Não há entidade reguladora, não há presidente, não há demissão, não há 12000 euros (no meu bolso) ninguém seria capaz de uma coisa destas, sobretudo num país onde as galinhas têm dentes, as crianças estudam, a ministra é um génio e a corrupção uma miragem.
De Carcavelos para o mundo culto e oculto, esta foi mais uma hist(ó)eria de mcr chevalier servant de Ces Dames.

a gravurinha, um cartaz do Maio de há quarenta séculos, devia ser uma advertência ao escriba. Mas este não tem juízo é, ele também, um relapso, um marau, um cospe contra o vento. E além do mais é um invejoso. O que ele queria era ser presidente de uma entidade reguladora, é o que é. Comunista!

1 comentário:

josé disse...

O leitor José, responta mesmo com pressa:

Não. De facto não são doidos. Tomam-nos é a todos por parvos.

Segundo o Público de hoje, um dos testas de ferro do BCP, na história das off-shores, seria um tal Frederico Moreira Rato que também servia como presidente de uma empresa de consultadoria e serviços, a Reditus.
A Reditus- perguntará? Pois, essa mesmo que tem como presidente da Assembleia Geral um génio da gestão , colega de Vital Moreira, no Conselho de Supervisão da EDP...

O perfil ficou em tempos na Loja. assim:

Diogo Campos Barradas de Lacerda Machado? Em Setembro de 2005, foi designado como um dos membros da Comissão de Acesso aos Documentos Administrativos (CADA). Também, curiosamente, membro designado de um Conselho Geral e de Supervisão do BCP ( em Julho de 2007) e da “board of directors”. Para acalentar o lado empresarial, é presidente da Assembleia Geral da Reditus. O que é a Reditus? Ah! É uma pequena empresa de outsourcing de serviços e soluções de engenharia e mobilidade, onde também trabalha o prof. Doutor Nogueira Leite. O Governo conhece, com toda a certeza…


Como dizia o outro,( jã nem sei bem que foi) "isto anda tudo ligado".

E anda, meu caro MCR. Anda mesmo tudo ligado.

E não há prisões para ninguém, porque é tudo legal!!! Legalíssimo! Blindado ao escrutínio público e sem ponta por onde se lhe possa pegar.
O Vital é que sabe...

Bom fim de semana.