25 janeiro 2008

Diário Político 75


América, América...

Há entre nós um respeitável cavalheiro idoso, a quem o pais deve bastante mas que perde a cabeça quando fala nos Estados Unidos. Em se tratando dos “américas”, o excelente senhor esquece rapidamente todos os apoios que recebeu nos anos difíceis de implantação da democracia e chega a jurar por Chavez ou Fidel. É obra!
Todavia não é disso que quero falar mas apenas do facto da nossa vida estar constantemente à mercê do que se passa entre os Grandes Lagos e o Rio Grande. Sirva de exemplo esta crise das bolsas, este persistente sentimento de retracção, este tem-te não caias dos mercados financeiros. E os dedos apontam todos, acusadores para Wall Street. Como se esta “wall” fosse o “paredón” onde se executam todos os inocentes especuladores europeus e asiáticos, virtuosos e cheios de “graça”.
Ora bem, as coisas não são assim tão simples nem tão fáceis. Que a América carregue um bom par de pecados, de acordo, mas não todos. Então e os tais fundos “soberanos”, essa dinheirama imensa que vem dos países “emergentes”, para não falar dos “petroleiros”, cujos biliões correm mundo à procura de ganhos rápidos. E os investimentos europeus que também não dizem que não a estas bruscas mudanças de destino consoante os ganhos valem ou não a pena?
O restrito clube dos donos do dinheiro não tem escrúpulos quando se trata do seu capital. Um pouco como os grandes accionistas de um conhecido banco português... cujo desamor pelos pequenos e pelos depositantes tem dado direito a grandes parangonas.
Claro que as famosas sub-primes também não estão inocentes longe disso mas a verdade é que no essencial tudo se reconduz ao desregramento liberal dos últimos anos, à facilidade com que certas pessoas mexem no dinheiro, no seu e, sobretudo no nosso.
E vem a talho de foice esta história mirabolante de um jovem brocker francês, empregado da “Societé Generale” que “evaporou” cinco biliões de euros, uma soma idêntica ao produto interno bruto da Nicarágua!!!
Para além de ser surpreendente o facto de um brocker, jovem (31 anos) poder mexer em tanto dinheiro, como é que se explica que o Banco, um banco poderoso, não ter intervindo a tempo? O jovem brocker está desaparecido mas promete não faltar quando a polícia o chamar. Esperemos que sim, que não falte. Que esteja vivo, enfim.
O que mais me perturba nesta história, que não me atrevo a qualificar de polícias e ladrões, é a “calma” do banco. Não foi nada, dizem os seus responsáveis, nós mesmo assim temos lucros! Dois biliões, parece.
Não acham extraordinária toda esta saga?

Regressemos aos Estados Unidos para comentar com alguma inveja e bastante admiração essa greve dos guionistas de Hollywood que dura há meses e que paulatinamente vai obtendo mais e mais apoios. E depois digam-me que os sindicatos estão em crise, como certas alminhas portuguesas se apressam a anunciar. Com crises destas podem os trabalhadores bem.
Uma palavra, a penúltima para referir a morte anunciada de Vassili Alexanian, preso preventivo há dois anos por pertencer ao grupo financeiro Yukos. O Supremo Tribunal da Rússia negou hoje a sua solicitação para ser transferido para um hospital civil. Alexanian está tuberculoso e sofre de SIDA. A partir de hoje só uma eventual amnistia por ocasião da próxima eleição presidencial em Março o poderá salvar. Todavia, é voz corrente que o preso não chega vivo a esses “idos de Março”. Como se vê na Rússia os financeiros tem outra sorte consoante são ou não amigos do poder.


Um abraço forte ao Dr. Lemos Costa. Vai vencer este mau passo. Tem de o vencer. Muss es sein soll es sein.


d’Oliveira


1 comentário:

Luís Maia disse...

Sindicatoszinhos são em Portugal, porque não tem força, porque nem os próprios acreditam neles.
Essa greve em Portugal era uma risada, porque guionistas aqui se existem nós não sabemos porque as TVs compram enlatados.
E nos casos em que há a entidade patronal ri-se dos seus direitos porque ninguém obriga ninguém a respeitar quem trabalha.

Luís Maia