29 janeiro 2008

Diário Político 76


A dança das cadeiras

Independentemente do facto de pensar que duas substituições sabem a pouco, muito pouco ( e a Educação? E a Justiça? E o cavalheiro do jamé? ) há que constatar que por diferentes razões se justificam estas duas primeiras vagas no governo.
Correia de Campos conseguiu transmitir uma ideia de arrogância que escondeu as suas qualificações técnicas indiscutíveis e o seu profundo conhecimento dos dossiers. Pior: mesmo quando tinha razão (e teve-a em tudo o que dizia respeito a racionalização dos serviços, em diminuição de riscos -as maternidades com escassos nascimentos e completamente inadequadas e impreparadas para ver nascer uma criança em risco; as urgências sem pessoal qualificado, sem médicos especialistas etc...) conseguiu fazer passar uma imagem insuportável de autoritarismo, teimosia e, finalmente, inépcia política. Também não se devem esquecer os incidentes disciplinares em que muito provavelmente teve uma mãozinha do aparelho do ps que não descansou enquanto não correu das ARS e dos diferentes departamentos de nomeação os militantes de outros partidos (provavelmente entrados pelo mesmo processo e com as mesmas referências: cartãozinho partidário e quotas em dia. Só que não se pode responder à bandalheira anterior com bandalheira igual e nisso os ministros curvam-se aos poderes fácticos locais quanto mais não seja para evitar chatices).
Com Isabel Pires de Lima não é possível sustentar a mesma análise: Não era uma especialista em gestão cultural, não tinha experiência de qualquer espécie nesse campo (vinha da Universidade e era reputada como especialista em Eça de Queiroz. A latere, mas importante apesar de tudo, tinha sido indicada para continuar a obra de Óscar Lopes e António José Saraiva autores da mais conhecida história da literatura portuguesa. Passara pelo Parlamento mas não se recorda nenhuma acção especial enquanto deputada.
O passado académico, uma certa virgindade política apenas toldada por uma passagem aliás discreta pelas hostes do PC, terão sido, todavia, pontos favoráveis no acolhimento inicial que a comunidade “cultural” lhe concedeu.
Foi porém sol de pouca dura: Pires de Lima estreou-se numa guerrilha com Rui Rio a propósito de um túnel que efectivamente entrava descaradamente pela frente de um museu. O IPPAAR, melhor dizendo a sua direcção regional tinha-se oposto e jogava nisso o seu prestígio e a sua razão. A meio do percurso, e não obstante a campanha miserável contra ela, Pires de Lima (ou alguém por ela) chegou a um acordo que dava a vitória por KO a Rui Rio. Os do IPPAAR, demitiram-se, Pires de Lima não. A partir daqui estava perdida. Por duas razões: perdera o momento de bater com a porta e perdera o respeito dos que tinham apostado nela. E foi perdendo todas as oportunidades de sair de um governo onde parecia apenas desempenhar o modesto mas desagradável papel de punching ball. Os jornais amanhã contarão tudo isso em pormenor se (e é um grande SE) acharem que vale a pena falar pela última vez de uma has been. Pires de Lima averba uma triste vitória neste seu consulado: a exposição daquele punhado de coisas ridículas vindas da Rússia. Estava escrito que não seria Kandinsky, Malevitch ou Petrov-Vodkin mas apenas umas peças decorativas boas para basbaques incultos. E caras...
Para a pequena história fica o apontamento destes ministros se terem demitido. Provavelmente nem foi bem assim. A única pessoa que se sabe claramente que se demitiu é o secretario de Estado Amaral Tomás. Esse anunciou-o bem cedo forçando Sócrates, escolhendo o seu tempo, o seu campo e, finalmente, a sua vitória. A Pires de Lima e Correia de Campos ninguém os ouviu durante esses dias em que tudo terá sido decidido.
Sic transit gloria mundi

Na gravura: O banho do cavalo vermelho de Kuzma Petrov-Vodkin, pintor que não teve a simpatia de Stalin e que por isso mesmo nunca foi alvo do interesse dos seus sucessores. Mesmo os de hoje, mesmo os que já não acreditam nos amanhãs que cantam, mesmo dos que lhe preferem uns móveis pomposos e uns retratos académicos...

2 comentários:

josé disse...

Caro dÓliveira:

Eu fui ver ( fomos) a exposição do Hermitage. Gostei. Ia acompanhado ainda, de outra pessoa que já tinha visto a completa, no sítio onde se encontra, S. Petersburgo.

O que se vê na exposição que por cá está na Ajuda ( um bonito local para se visitar), é um regalo para a vista, por 6 euros.

Não é o Hermitage em peso. É uma pequena amostra que vale a pena ver, como aperitivo para quem quiser ver, em vez de duas ementas desenhadas e pintadas a ouro, dezenas delas. Ou quem quiser ver ovos de Fabergé, em vez de ourivesaria do mesmo, ainda que extraordinária ( a peça que lá está na Ajuda, é mesmo extraordinária, para um basbaque como eu).

As pinturas não são nada de especial, mas não é nesse reino que o mundo do Hermitage da Ajuda, é soberano. É no conjunto de peças, leve pela quantidade e ao mesmo tempo pesado de significados e revelador de um tempo, uma época e um modo de viver.

Ir à exposição do Hermitage na Ajuda, é um acto cultural de relevo, a meu ver. Que aconselho.

Compreendo que desfaça no evento, mas apenas porque pensará que o bom é inimigo do óptimo e nisso concordo.

Mas quem não tem cão, neste caso, pode muito bem caçar com gato.

OSCAR ALHINHOS disse...

Meus Senhores:

Não se deixem levar por estas manobras de distracção sócretinas.... Afinal, só as moscas é que mudaram pq a m.... continua a mesma....

E já repararam que no dia de ABERTURA DO ANO JUDICIAL e numa altura em que se falava, em crescendo, da CORRUPÇÃO EM PORTUGAL ( que obviamente atinge grande parte da nossa classe política, que não quer fazer nada para a combater ), surge esta remodelação governamental...

Ora, ora....

Para mim, " que não gosto que me dêem o comer à boca ", a escolha do timing não passou de uma manobra de distracção...

QUEREM NOMES?

VAMOS LÁ:

HAJA A CORAGEM DE A ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA APROVAR UMA LEI EM QUE OBRIGUE TODO O CIDADÃO QUE OSTENTE SINAIS EXTERIORES DE RIQUEZA A PROVAR DE ONDE LHE VIERAM OS SEUS RENDIMENTOS E QUE CUMPRIU AS SUAS OBRIGAÇÕES FISCAIS...

E NÃO SE ALARMEM PQ PARA O FISCO É O CIDADÃO QUE TEM DE PROVAR TUDO ISSO E AÍ NADA É INCONSTITUCIONAL...

A ÚNICA DIFERENÇA É QUE NUM CASO, IRIA DESCOBRIR-SE A CARECA A MUITO CABELUDO..., ETC E NO OUTRO CASO É PARA O ESTADO ARRECADAR RECEITAS E AQUI VALE TUDO, ATÉ TIRAR OLHOS...

Claro que a comunicação SERVIÇAL, ficou distraída com esta remodelação e JÁ SE ESQUECEU da questão mais grave DA ACTUALIDADE, A CORRUPÇÃO!