15 janeiro 2008

Estes dias que passam 90


Saem mal no retrato

Parece que o senhor dr. Augusto Santos Silva resolveu pronunciar-se sobre a presença do dr. Bagão Félix, um cavalheiro reformado da Banca, na lista apresentada pelo dr. Cadilhe para o Millenium-BCP.
Em resumidas contas o dr. Santos Silva achou suspeita a presença do ex-banqueiro Bagão num encontro do PPD. Apesar do encontro já se encontrar agendado quando apareceu a lista Cadilhe, o dr. Santos Silva viu nessa coincidência mais do que uma coincidência.
É curioso relembrar que o país ou alguma parte dele e a maioria dos comentadores achou que a ida do dr. Santos Ferreira para a futura direcção do Millenium-BCP, levando ao colo essa sumidade financista que é o dr. (pela universidade independente...) Armando Vara, conhecido aparatchik do PS, poderia ser entendida como um assalto deste partido ao maior banco privado português.
Eu não me atrevo a pensar que as palavras do dr. Santos Silva seriam uma tentativa de resposta, olho por olho, dente por dente, às acusações acima referidas. Isto porque o argumento me parece canhestro. Todavia...
Todavia não consigo encontrar outra explicação lógica e racional para a conclusão que parece ser a do dr. Santos Silva: que a eventual entrada de Bagão, ex-banqueiro e chorudamente reformado na direcção do BCP era a invasão do PPD, ou pelo menos uma manobra política deste partido, enfim algo de horrível e tenebroso.
Não nutro pelo dr. Bagão qualquer simpatia, bem pelo contrário: sempre o tive por um papa hóstias com ar de virtuoso e como político sempre me pareceu irrisório. E depois não me caiu bem que a mesma pessoa que entendia que as reformas dos trabalhadores deveriam ocorrer bem tardiamente se tivesse reformado com uns escassos cinquenta e poucos anos. Eu acho que estes opinantes duros e puros devem dar o exemplo. Mas não foi isso que sucedeu.
E obviamente não entendo como é que um cavalheiro que se reformou da banca vem agora mansamente repegar ao serviço. Na mesma área parece-me demais. Claro que outro galo cantaria se o dr. Bagão viesse pôr o seu incomensurável talento ao serviço do BCP sem cobrar por isso um cêntimo. Mas creio que as histórias piedosas da carochinha já não têm curso legal neste labirinto infernal da alta banca à portuguesa. (disse alta banca e não tourada...)
Porém, tentar vender a entrada (a meu ver menos desastrada do que a de Vara na outra equipa administradora) de Bagão no grupo de Cadilhe como uma intromissão do PPD ou genericamente da oposição na condução do banco obriga-me a dar razão à indignada gritaria de Bagão.
O dr. Santos Silva tem-se revelado melhor do que a encomenda: gosta de dizer coisas, sobretudo se forem assim “fracturantes”, tonitruantes. Usa, aliás como Bagão, um ar de sacristão e pimba: aí vai disto. Convirá porém meditar um pouco e perguntar-mo-nos o que o faz correr. Já não falo da ambição porque um político tem obviamente de a ter. Há mais qualquer coisa e essa é uma incapacidade de medir as palavras. Dir-se-ia que tem menos vinte anos do que realmente tem. Eu bem sei que quando era novo (cronologicamente...) o dr. Santos Silva parecia velho, bastante velho, até, se bem me recordo. Era professoral e lembrava-me, longe vá o agouro aqueles intelectuais politizados que bebiam, comiam, respiravam e defecavam Trotsky. Erguiam o dedinho e zás!, lá vai mais uma de teoria revolucionária pura e dura, a desfazer a salgalhada barata e torpemente humana do maralhal. Terá sido isso, trotskismo aparte, que leva o dr. Santos Silva, agora, quando já não é tenro a tentar recuperar a mocidade que nunca teve nem viveu com uns arrincanços de rapazola atrevido.
Só que seria bom recordar-lhe que o que fica bem a um agitador estudantil ou ao dirigente de uma juventude partidária cai mal num ministro. A um ministro, pede-se contenção já que, como se provou com o senhor do “jamais” não se pode pedir mais comedimento no uso das línguas estrangeiras.

2 comentários:

jcp (José Carlos Pereira) disse...

Caríssimo, poderá dizer que não é a grande a diferença, em termos substantivos, mas convém referir que Augusto Santos Silva quando veio criticar a presença de Bagão Félix nas jornadas parlamentares do PSD, na véspera da AG do BCP, fê-lo na sede do PS, emoldurado por uma bandeira do PS e na sua qualidade de dirigente do partido. Ao menos teve cuidado com a forma...

M.C.R. disse...

quando Cavaco falava como dirigente partidário e não como primeiro ministro toda a gente, do ps especialmente, criticava que se fartava. E com razão. quando se governa, governa-se um país e não um ajuntamento de partidários...