Estou de malas aviadas para Madrid. Bem sei, bem sei que não fica bem ir para lá logo nesta altura: no Carnaval vai-se a Veneza (brrr que frio, livra que valente chatice!, as máscaras inertes que tornam mais pungente a decadência da cidade lagunar que perante a indiferença do Estado, a indignação dos seus cidadãos, a ganância dos promotores imobiliários que detêm centenas senão milhares de prédios devolutos na cidade, vai perdendo vida e pessoas. Tentem ir a uma mercearia no Dorsoduro ou em S Marcos... E, se por milagre, a encontrarem, não se arrepiem com os preços...o capitalismo não nasceu para salvar cidades ou fazer favores à arraia miúda), vai-se ao Rio de Janeiro (muito calor mas, não haverá melhor altura para ver a cidade sem apanhar uma indigestão de turistas, como nós uma autentica mobilização dos carteiristas que, coitados, também pagam contas ao fim do mês?) ou a Ovar & similares.
O Carnaval portuga mereceria um capítulo inteiro tanto ele é pelintra, tristonho, mal emjambrado, em suma um desastre. Corei de vergonha, uma vez – a única – em que numa lindíssima cidade do litoral vi um corso carnavalesco animado por umas raparigas transidas de frio, mal vestidas e mal despidas que se esforçavam por dançar um samba que mais parecia uma litania pelos mortos.
Portanto, Madrid. Madrid antes da ARCO essa feira de arte contemporânea que se travestiu numa valente impostura, cara, sem originalidade e com bem pouca arte. Aquilo é bom para os Joes, os especulares das artes plásticas, essa gentinha que tem um especial toque de Midas: transformam em merda tudo o que tocam. Madrid vale uma missa mas, por favor ,sem ARCO a tiracolo. A CG está que nem um cuco: não conhece Madrid e está de dente afiado para os “callos” e o Prado, para um cocido e o Reina Sofia, para ir de tapas por aí fora, enfim está que ferve. Amanhã, por esta hora, já terá feito um bom par de quilómetros.
Um camarada de blog entende(com alguma ingenuidade, ele que me perdoe) que MRS está preocupado com a diarreia legiferante que assaltou o inconcebível Telmo Correia que numa só noite (e resta saber se inteira) aviou trezentos despachos. Eu, além de me espantar com a capacidade da criatura (é preciso ter muita mão para assinar esse porradão de documentos que normalmente exigem também rubricas em cada página), consigo ainda surpreender-me com o que isso significa –ou pode significar. E mais não digo por via das coisas: cautelas e caldos de galinha não fazem mal a um sexagenário que já sabe como elas doem.
MRS parece – no dizer do caro JSC – preocupado com as consequências eleitorais de tais gestos. Ora bem, isto que agora se soube, morre antes da Páscoa. E já estou a ser generoso, que até à Páscoa vão quarenta dias... O mesmo é dizer que, a menos que algum dos despachos se revele mais suculento do que já se imagina, a coisa estará esquecida antes das eleições. Como estará esquecida a reportagem do jornalista Cerejo, a inépcia da ex-ministra da Cultura, a arrogância de Campos ou o “nevermore” do cidadão Mário Lino. Com sorte ainda o veremos, a quadra impõe-no, vestido de tuaregue, brandindo uma cimitarra e tocando uma pandeireta para um grupo de gentis huris de Ovar.
E a capitã-geral das índias, vice-raínha do Algarve e campeã de corridas ao pé coxinho? Pois ela, caçadora de caça grossa, deixou aqui em baixo umas referências certeiras a alguma gente da justiça. Mas também isso, a algazarra da senhora procuradora “que no se calla” ou do retumbante dr Marinho breve serão apenas uma saudade. Há escândalos? Claro que há. Há enriquecimentos súbitos, sem causa, grosseiros como as caras dos novos ricos que passeiam basófia e impudência pelos gabinetes ministeriais e empresariais. O problema continuará enquanto não lhes forem apontados esses rendimentos exponenciais, sensacionais, demenciais (a demência é sobretudo nossa que vemos, ouvimos e calamos) e perguntadas as causas, as origens, os motivos de tão inexplicável prosperidade. A menos que tais cavalheiros honradamente proclamem que não trocaram favores políticos por presentes chorudos mas que apenas se dedicaram, com o normal e previsível êxito, ao tráfico de droga, ao lenocínio ou ao tráfico de armas. Nesse caso, estão justificadas as voluptuosas contas bancárias desses pais da pátria que os pariu e só nos resta meter a viola no saco, fazer as malas e desandar para Madrid. O que se faz imediatamente.
Não sem antes pedir o favor de mandarem um cabo de esquadra à residência desses cavalheiros (de indústria, claro).
Hasta siempre.
na gravura: o rastro de Madrid.
O Carnaval portuga mereceria um capítulo inteiro tanto ele é pelintra, tristonho, mal emjambrado, em suma um desastre. Corei de vergonha, uma vez – a única – em que numa lindíssima cidade do litoral vi um corso carnavalesco animado por umas raparigas transidas de frio, mal vestidas e mal despidas que se esforçavam por dançar um samba que mais parecia uma litania pelos mortos.
Portanto, Madrid. Madrid antes da ARCO essa feira de arte contemporânea que se travestiu numa valente impostura, cara, sem originalidade e com bem pouca arte. Aquilo é bom para os Joes, os especulares das artes plásticas, essa gentinha que tem um especial toque de Midas: transformam em merda tudo o que tocam. Madrid vale uma missa mas, por favor ,sem ARCO a tiracolo. A CG está que nem um cuco: não conhece Madrid e está de dente afiado para os “callos” e o Prado, para um cocido e o Reina Sofia, para ir de tapas por aí fora, enfim está que ferve. Amanhã, por esta hora, já terá feito um bom par de quilómetros.
Um camarada de blog entende(com alguma ingenuidade, ele que me perdoe) que MRS está preocupado com a diarreia legiferante que assaltou o inconcebível Telmo Correia que numa só noite (e resta saber se inteira) aviou trezentos despachos. Eu, além de me espantar com a capacidade da criatura (é preciso ter muita mão para assinar esse porradão de documentos que normalmente exigem também rubricas em cada página), consigo ainda surpreender-me com o que isso significa –ou pode significar. E mais não digo por via das coisas: cautelas e caldos de galinha não fazem mal a um sexagenário que já sabe como elas doem.
MRS parece – no dizer do caro JSC – preocupado com as consequências eleitorais de tais gestos. Ora bem, isto que agora se soube, morre antes da Páscoa. E já estou a ser generoso, que até à Páscoa vão quarenta dias... O mesmo é dizer que, a menos que algum dos despachos se revele mais suculento do que já se imagina, a coisa estará esquecida antes das eleições. Como estará esquecida a reportagem do jornalista Cerejo, a inépcia da ex-ministra da Cultura, a arrogância de Campos ou o “nevermore” do cidadão Mário Lino. Com sorte ainda o veremos, a quadra impõe-no, vestido de tuaregue, brandindo uma cimitarra e tocando uma pandeireta para um grupo de gentis huris de Ovar.
E a capitã-geral das índias, vice-raínha do Algarve e campeã de corridas ao pé coxinho? Pois ela, caçadora de caça grossa, deixou aqui em baixo umas referências certeiras a alguma gente da justiça. Mas também isso, a algazarra da senhora procuradora “que no se calla” ou do retumbante dr Marinho breve serão apenas uma saudade. Há escândalos? Claro que há. Há enriquecimentos súbitos, sem causa, grosseiros como as caras dos novos ricos que passeiam basófia e impudência pelos gabinetes ministeriais e empresariais. O problema continuará enquanto não lhes forem apontados esses rendimentos exponenciais, sensacionais, demenciais (a demência é sobretudo nossa que vemos, ouvimos e calamos) e perguntadas as causas, as origens, os motivos de tão inexplicável prosperidade. A menos que tais cavalheiros honradamente proclamem que não trocaram favores políticos por presentes chorudos mas que apenas se dedicaram, com o normal e previsível êxito, ao tráfico de droga, ao lenocínio ou ao tráfico de armas. Nesse caso, estão justificadas as voluptuosas contas bancárias desses pais da pátria que os pariu e só nos resta meter a viola no saco, fazer as malas e desandar para Madrid. O que se faz imediatamente.
Não sem antes pedir o favor de mandarem um cabo de esquadra à residência desses cavalheiros (de indústria, claro).
Hasta siempre.
na gravura: o rastro de Madrid.
4 comentários:
Olá MCR, desejo-lhe uma excelente viagem e uma melhor estadia!
Um abraço
quando falo da ingenuidade de um colega de blog falo da ingenuidade das pessoas bem formadas que por muito que se esforcem t~em dificuldade em imaginar os expedientes desttas criaturas que nos caíram na rifa.
Às vezes esse excesso de boa educação e de boa formação é prejudicial.
só isso.
Jamais (jamé!!!) poria em causa o bem fundado da indignação e da mão segura do camarada que aqui tem dado pau nos lombos destes sacristas.
Caro MCR
Quando ouvi o Prof. MRS a emitir aquela opinião também me pareceu que ele estava a ser ingénuo. Como é que ele podia pensar que uma coisa daquelas pudesse perigar a ascensão ao poder do centro direita?
Agora que a coisa vai passar depressa, lá isso vai. Dentro de dias outra será a matéria a ocupar a cabeça das pessoas, se é que viram nesta interesse de relevo.
Aquilo que eu gostava de perceber, só pelo prazer de perceber, era como é que numa “Concessão”, o bem concessionado se transforma em propriedade plena do concessionário no final do prazo da concessão.
Será que a figura jurídica da concessão se transformou, por artes político-jurídicas, numa venda com renda resolúvel? Mas se for assim o regime jurídico da alienação de património público está sujeito às mesmas regras da Concessão? Coisa estranha!!
Eis um tema interessante para quem nos quiser esclarecer.
Cá ficamos a aguardar postais com novas de Madrid :)
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