07 abril 2008

Au Bonheur des Dames, 119




Em que ficamos?

Em que não ficamos?


O novel Ministro da Cultura, dr. Pinto Ribeiro, anunciou, aquando da sua entrada em funções que “iria fazer mais com menos dinheiro”. Não garanto a exactidão das palavras mas foi este o sentido claro da sua declaração.
Não me compete nem, de resto, me interessa dar lições de cortesia ao Senhor Ministro. Ele já é demasiadamente crescido para as receber. Todavia, convenhamos que a declaração é suficientemente imprudente (para não dizer impudente) e tonitruante para a esquecermos. E depois, quando se vai substituir alguém, convém ser modesto, não vá a gente dar com os burrinhos na água.
Eu não tenho saudades da anterior Ministra, Deus me livre, mas, mandada que foi para casa, o melhor seria deixá-la ir em paz. Bem lhe basta a demissão, mesmo que travestida em pedido de demissão, para estarmos ainda a azucrinar a pobre senhora. O erro não foi tanto dela como de quem a escolheu.
Ora o flamante dr. Pinto Ribeiro parece ter entendido que, a ter de entrar neste perigoso terreno da política da cultura, mais valia “entrar a matar”, dizendo coisas. Pisando forte, como dizem os nossos vizinhos espanhóis. E, portanto, disse: fazer mais com menos dinheiro.
A assistência, e nisto de “cultura” a assistência presume de ter pago bilhete e de poder a todo o momento começar uma pateada, ficou à espera. Até agora!
De facto, do Ministério da Cultura nem novas nem mandados! Parece que existe, que tem titular, que este se chamará Pinto Ribeiro e que despachará...
Fora isto, que já não é pouco, nada mais. Bem sei que a “rua”, a “populaça”, as “forças do bloqueio”, os “reaças” (para referir algo que se intui das declarações sempre copiosas e extraordinárias do dr Santos Silva) anda entusiasmada com a Srª Ministra da Educação, com o Sr. Ministro das Obras Públicas, com o Sr. Presidente da Assembleia da República (e com a sua boca sobre o Bokassa) e com mais um par de ministros avulsos (por exemplo o Sr. Manuel Pinho ou Sr. Amado que nos maravilham continuamente com a subtileza de conceitos que usam para definir a economia ou o caso do Kossovo, para já não falar do Tibete, desagradável região que ainda nos pode custar um par de medalhas de oiro nessas olimpíadas de Pequim: o desporto é desporto e a política é a política. Misturar essas duas coisas tão etéreas resplandecentes é coisa que o Sr Ministro dos Negócios Estrangeiros condena vivamente...) .
Portanto o dr. Pinto Ribeiro ia passando despercebido. De resto a Cultura (com letra grande ou pequena, oficial ou não) preocupa pouco a lusa e fera gente. Aqui para nós que ninguém nos ouve, a coisa fazia-se com uma simples Secretaria de Estado. Era mais barato e a artistagem & similares não merecem mais.
Ora, parece que da primeira vez que se ouve novamente o Sr. Ministro da Cultura ele vem requerer um forte aumento das verbas para o seu ministério. O dobro, dizem-me algumas pessoas, nada menos do que o dobro. É obra!
Será que com o dobro Sª Exª fará mais do que anterior titular? Ou pedirá o dobro para, de acordo com a sua inicial fórmula (fazer mais com menos, recorde-se), fazer menos? Pessoalmente, não tenho nada contra essa atrevida tese: fazer menos mas melhor, já me daria um alegrão dos diabos! Mandar a parra para os cafundós e exibir apenas o belo cacho de uvas viçosas, promessa de bom vinho, de melhor vinho.
Porém, macaco velho e com o rabo pelado de tanto pontapé, desconfio, desculpem-me as leitoras mais generosas, que este pedir mais há-de ser apenas uma constatação (feio galicismo!) de palavras a mais (e a desoras) e de actos a menos. Res non verba, sintetizava a máxima latina (mas duvidosamente romana). Ou por outras palavras menos tonitruantes, menos sensacionais, menos imprudentes: as verbas para a Cultura eram de facto risíveis, tanto mais que, muitas das vezes, mal aplicadas. De facto, gasta-se muito e mal, com ninharias e ouropel que consolam as massas e um recorrente mau gosto oficial e ministerial mas que nada tem a ver com essa ninharia a que chamam cultura e que, em períodos pré-eleitorais, é imediatamente apontada à cabeça dos cidadãos.
É como se um dos cavalheiros do actual partido no poder, nos mirasse do alto do seu imenso pedestal e pensasse (eles também pensam...): Quando oiço a palavra eleições puxo logo pela cultura!
Algum(a) leitor(a) dirá que cito Milan de Astray. Não, não é verdade, apenas uso uma frase que lhe atribuem mudando-lhe um pouco o sentido.
Um pouco como o menos por mais, ou como o elogio ao bananeiro mor. “Nos quoque gens sumus et bene cavalgare sabemus" (esta é do “Palito Métrico” e vai dedicada ao meu colega e amigo Carteiro que até já me atribui textos alheios. Obrigado mas o seu a seu dono! Ao d’Oliveira a azeitona e ao mcr o vinagre.)

O galheteiro da gravura serve a matar para este texto: À uma, para a frase ministerial tão avinagrada para não dizer "azeitada". Depois, porque dois dos autores desta galera são unidos no mesmo galheteiro, queiram-no ou não. Finalmente porque na sua infinita sabedoria, uma disposição governamental proibiu os restaurantes e similares de usarem galheteiros tradicionais. Agora é tudo mais fino:usa-se um galheteiro selado. No mínimo isso custa mais 25%. E aida se vai ver se o galheteiro uma vez usado pode servir (selado e tudo) para um freguês seguinte. É que se não puder, os custos então dispararão mais do que os do petróleo. E bom senso por onde andará?

Esta balivérnia vai dedicada à Maria josé Carvalho e ao josé Mattoso, lembrando-os que me devem um almocinho de enguias já que a lampreia é apenas uma saudade.

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