07 abril 2008

Missanga a pataco 49




Uma tocha percorre a Europa...


De certeza que alguém, por aí, encontrará neste título um eco duma célebre frase sobre um fantasma que aterroriza(va) a Europa.
Esse fantasma, era no dizer dos seus jovens autores, o do comunismo. Os tempos eram outros, claro. O século XIX ainda nem chegara a meio (se não me engano o “manifesto...” é de 1847) e o manifesto trazia uma carga de esperança que nada tem a ver com o que burocratas e “revolucionários profissionais” fizeram dele.
Agora que somos bem mais velhos, que o mundo deu as voltas que deu, conviria saber o que se deve fazer com um archote de sangue e fogo que corre as ruas das nossas cidades.
A viagem tem sido acidentada e o caso não é de menos. Um grupo de personagens delirantes que se arrogam de representantes do “desporto” escolheu há uns anos Pequim para sede dos jogos olímpicos. A escolha foi desde logo tão inocente quanto a que deu a Berlin os jogos de 36. Esta gente, cujo duvidoso amor pelo desporto parece ser grande, ignora que o tal ideal dos tais jogos reinventados há mais ou menos cem anos, não teria alojamento apropriado no celeste império e na sua alucinante mistura de capitalismo selvático e dogmatismo totalitário.
As imagens de Tien An Men estão dolorosamente presentes para poderem ser esquecidas atrás de cinco aros coloridos e de recordes obtidos sabe-se lá graças a quê.
Em Paris, quarenta anos depois de 68, a tocha não passou. Apagou-se várias vezes, andou escondida num autocarro, falhou vários pontos do percurso, o mais importante dos quais era a Câmara Municipal onde a sua paragem foi anulada pelo maire de Paris.
Eu não sei, nem me interessa, se a chama vem até cá dar um ar da sua sinistra graça. Se vier, e se eu puder estar por perto, também espero colaborar no apagão. Já não tenho idade para estas faenas mas uma pessoa não se pode pôr nas encolhas só porque se arrisca a “dois safanões dados a tempo” ou a brutalidades maiores. E desporto por desporto é preferível correr à frente da polícia do que atrás de um record que dura o tempo de um suspiro e é obtido diante de uma multidão de cidadãos amedrontados. E à sombra de mortos longínquos no longínquo Tibet.

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