Respeitinho
- Neste país em diminuitivo...
- Respeitinho é que é preciso!
Alexandre O’ Neil (“poemas com endereço”)
Excepção feita à Eng.ª Lurdes Pintasilgo e à Dr.ª Manuela Eanes, raras foram (e são) as mulheres que conseguiram protagonizar alguma espécie de liderança política. E mesmo no caso da segunda poder-se-ia pensar que agia em representação do marido, manietado pela Presidência da República e pelos deveres de reserva que isso implicava ou que ele julgava que implicava.
É, pois, inspirador e digno de realce, a ousadia da Dr.ª Manuela Ferreira Leite que se apresenta numa arena carregada de feras e perigos, diante de um público mais dado ao prazer de ver sangue do que ao do aplauso.
A democracia faz-se com cidadãos e isso significa as mulheres e os homens com direito a voto e dever de a defender. Já o finado presidente Mao Zedong afirmava que as mulheres eram metade do céu. Claro que isso, nele, era mais uma metáfora, um arroubo poético, do que um verdadeiro voto. O Mao adulto estava-se nas tintas para as mulheres e para os homens da China. Tinha um sonho que se transformou num pesadelo para os que sobreviveram ao “Grande Salto em Frente” e à “Grande Revolução Cultural Proletária”.
Voltemos porém à senhora Ferreira Leite. E desde já um aviso: não a conheço, não a votarei nunca, não gosto do partido dela, dos amigos dela e muito menos dos adversários dela. Isso não implica que a não considere inteligente (é-o e muito), desassombrada (idem), persistente (talvez até teimosa) e combativa. Também me consta que é competente. Razões suficientes para vir incomodar as minhas amáveis e furtivas leitoras a quem me encomendo.
A Dr.ª Ferreira Leite apresentou-se ontem, segunda-feira, perante as suas gentes (e eram muitas...) com a sua habitual convicção e com o seu reconhecido e seco rigor. Do que leio no jornal, ela terá afirmado, que, as palavras são minhas, “andam a perder respeito pelo PSD” ou “a faltar ao respeito ao PSD”.
É facto! O pópulo, a paisanagem, a malta, a peonagem, anda aí pelas esquinas a rir-se dos caricatos Santana e Jardim (talvez devesse antes chorar porque aquelas criaturas acabam, de algum modo, por representar alguns de nós), sem saudades do Meneses choramingas e nortista, basista e imprudente, e ligando pouco, ou nada, a dois inconspícuos cavalheiros que anunciaram estar na mesma corrida. Ou seja, o vale-tudo em que o PPD/PSD se transformou (por culpas próprias, há que insistir) é mais Parque Mayer do que S. Carlos ou D. Maria II. Estamos no domínio da revista boçal e à portuguesa se é que a coisa não entrou já pelo delírio absoluto com direito a garraiada estilo Queima das fitas (como a época sugere).
A Dr.ª Ferreira Leite tem fortes razões para se queixar. O pântano deixado pelo Eng.º Guterres engoliu todos os sucessores que, verdade seja dita, tudo fizeram para se deixar atolar. E se é verdade que Guterres não ultrapassava a mediania como político, não menos verdade é que os três pastorinhos que se lhe seguiram (incluindo a actual luminária que nos governa) lhe são prodigiosamente inferiores. Com diferenças, claro. Durão, dos verdores mrpp, passou para a direita mole sem dúvidas nem remorsos. Santana era, é e será, cada vez mais, uma espécie de girassol populista e direitista, do género de criaturas educadas no antes 25 A e a quem este nada diz. O Engenheiro é apenas o cavalheiro que viu a luz crua do autoritarismo no fundo já rosa pálido de um socialismo democrático incapaz de se reinventar. É Blair em mais conservador, Schroeder em menos pragmático. Com uma diferença: conquistou por dentro um PS atordoado pela defecção de um primeiro ministro, pelos escândalos e pela cega vontade de poder a todo o custo manifestada por boa (esmagadora) parte dos seus notáveis. Sócrates garantia jobs for the boys em troca de silêncio e amnésia ideológica.
A Dr.ª Ferreira Leite está pois na posição de quem tem de limpar as estrebarias de Augias, tarefa que não pode ser levada a cabo pelo Dr. Marques Mendes. Aceitar este trabalho hercúleo já é um ponto a seu favor. Aceitá-lo quando já se tem um par de anos é admirável num país que idolatra babado a juventude, sem perceber que esta é uma doença que passa com a idade. E velozmente. Aceitá-lo quando sabe que o poço está cheio de víboras revela carácter e coragem. Porém numa coisa não tem razão: não anda ninguém a faltar ao respeito ao PSD/PPD.
É o PSD/PPD quem nos anda a faltar ao respeito. Apesar de tudo os portugueses mereciam mais. Este partido foi governo durante dez anos fora os tempos da Aliança Democrática e do centrão sob Soares e Mota Pinto. Quando não governa é o maior partido da oposição e o único que tem possibilidades de inflectir as políticas do adversário. Os seus dirigentes recrutam-se maioritariamente entre as elites portuguesas, na universidade, na banca nas grandes profissões liberais ou no patronato. Tem um forte apoio sindical, porventura maior do que o PS e entre os seus pais fundadores não faltaram democratas insignes que se opuseram a Salazar e Caetano.
Eu não gosto do PPD, nunca gostei e temo bem que já não mude de ideias. Contudo, mais do que não gostar de um partido, não gosto de adversários ridículos, de segunda categoria para não dizer de refugo. Os adversários valorosos alegram a nossa vitória, adoçam as nossas derrotas, merecem respeito.
E é isso que o actual PSD/PPD não merece, ou está em vias de não merecer. E é isso que a gente que o corrói por dentro está a fazer. Andam a rir-se de nós, como cómicos de televisão, portuguesa, claro.
Dr.ª Manuela Ferreira Leite ponha ordem nessa organização, acabe com a barafunda, corte a direito. Respeite-nos. Em troca também a respeitaremos.
É, pois, inspirador e digno de realce, a ousadia da Dr.ª Manuela Ferreira Leite que se apresenta numa arena carregada de feras e perigos, diante de um público mais dado ao prazer de ver sangue do que ao do aplauso.
A democracia faz-se com cidadãos e isso significa as mulheres e os homens com direito a voto e dever de a defender. Já o finado presidente Mao Zedong afirmava que as mulheres eram metade do céu. Claro que isso, nele, era mais uma metáfora, um arroubo poético, do que um verdadeiro voto. O Mao adulto estava-se nas tintas para as mulheres e para os homens da China. Tinha um sonho que se transformou num pesadelo para os que sobreviveram ao “Grande Salto em Frente” e à “Grande Revolução Cultural Proletária”.
Voltemos porém à senhora Ferreira Leite. E desde já um aviso: não a conheço, não a votarei nunca, não gosto do partido dela, dos amigos dela e muito menos dos adversários dela. Isso não implica que a não considere inteligente (é-o e muito), desassombrada (idem), persistente (talvez até teimosa) e combativa. Também me consta que é competente. Razões suficientes para vir incomodar as minhas amáveis e furtivas leitoras a quem me encomendo.
A Dr.ª Ferreira Leite apresentou-se ontem, segunda-feira, perante as suas gentes (e eram muitas...) com a sua habitual convicção e com o seu reconhecido e seco rigor. Do que leio no jornal, ela terá afirmado, que, as palavras são minhas, “andam a perder respeito pelo PSD” ou “a faltar ao respeito ao PSD”.
É facto! O pópulo, a paisanagem, a malta, a peonagem, anda aí pelas esquinas a rir-se dos caricatos Santana e Jardim (talvez devesse antes chorar porque aquelas criaturas acabam, de algum modo, por representar alguns de nós), sem saudades do Meneses choramingas e nortista, basista e imprudente, e ligando pouco, ou nada, a dois inconspícuos cavalheiros que anunciaram estar na mesma corrida. Ou seja, o vale-tudo em que o PPD/PSD se transformou (por culpas próprias, há que insistir) é mais Parque Mayer do que S. Carlos ou D. Maria II. Estamos no domínio da revista boçal e à portuguesa se é que a coisa não entrou já pelo delírio absoluto com direito a garraiada estilo Queima das fitas (como a época sugere).
A Dr.ª Ferreira Leite tem fortes razões para se queixar. O pântano deixado pelo Eng.º Guterres engoliu todos os sucessores que, verdade seja dita, tudo fizeram para se deixar atolar. E se é verdade que Guterres não ultrapassava a mediania como político, não menos verdade é que os três pastorinhos que se lhe seguiram (incluindo a actual luminária que nos governa) lhe são prodigiosamente inferiores. Com diferenças, claro. Durão, dos verdores mrpp, passou para a direita mole sem dúvidas nem remorsos. Santana era, é e será, cada vez mais, uma espécie de girassol populista e direitista, do género de criaturas educadas no antes 25 A e a quem este nada diz. O Engenheiro é apenas o cavalheiro que viu a luz crua do autoritarismo no fundo já rosa pálido de um socialismo democrático incapaz de se reinventar. É Blair em mais conservador, Schroeder em menos pragmático. Com uma diferença: conquistou por dentro um PS atordoado pela defecção de um primeiro ministro, pelos escândalos e pela cega vontade de poder a todo o custo manifestada por boa (esmagadora) parte dos seus notáveis. Sócrates garantia jobs for the boys em troca de silêncio e amnésia ideológica.
A Dr.ª Ferreira Leite está pois na posição de quem tem de limpar as estrebarias de Augias, tarefa que não pode ser levada a cabo pelo Dr. Marques Mendes. Aceitar este trabalho hercúleo já é um ponto a seu favor. Aceitá-lo quando já se tem um par de anos é admirável num país que idolatra babado a juventude, sem perceber que esta é uma doença que passa com a idade. E velozmente. Aceitá-lo quando sabe que o poço está cheio de víboras revela carácter e coragem. Porém numa coisa não tem razão: não anda ninguém a faltar ao respeito ao PSD/PPD.
É o PSD/PPD quem nos anda a faltar ao respeito. Apesar de tudo os portugueses mereciam mais. Este partido foi governo durante dez anos fora os tempos da Aliança Democrática e do centrão sob Soares e Mota Pinto. Quando não governa é o maior partido da oposição e o único que tem possibilidades de inflectir as políticas do adversário. Os seus dirigentes recrutam-se maioritariamente entre as elites portuguesas, na universidade, na banca nas grandes profissões liberais ou no patronato. Tem um forte apoio sindical, porventura maior do que o PS e entre os seus pais fundadores não faltaram democratas insignes que se opuseram a Salazar e Caetano.
Eu não gosto do PPD, nunca gostei e temo bem que já não mude de ideias. Contudo, mais do que não gostar de um partido, não gosto de adversários ridículos, de segunda categoria para não dizer de refugo. Os adversários valorosos alegram a nossa vitória, adoçam as nossas derrotas, merecem respeito.
E é isso que o actual PSD/PPD não merece, ou está em vias de não merecer. E é isso que a gente que o corrói por dentro está a fazer. Andam a rir-se de nós, como cómicos de televisão, portuguesa, claro.
Dr.ª Manuela Ferreira Leite ponha ordem nessa organização, acabe com a barafunda, corte a direito. Respeite-nos. Em troca também a respeitaremos.
3 comentários:
Já agora. Esta é a décima sétima alteração desde o início do ano, com apenas três no sentido da baixa e as restantes a representarem aumentos. "É uma especulação pura, porque mesmo que o barril de petróleo suba em dólares, os euros mantém-se os mesmos. Não há justificação nenhuma. "O povo é sereno".
Ora MCR, o facto de a Manuela Ferreira Leite ser mulher e ter aquele ar carrancudo que Deus lhe deu, não a torna rigorosa. Ela é mais do tipo de deitar fora a água do banho coma criancinha lá dentro. Quem só vê números é cego socialmente.
Já agora dr. Assur, concordo plenamente consigo. E, o que é ainda mais ridículo, é que com a baixa do IVA as previsões eram de descida do preço da gasolina. Este pessoal está a gozar com os portugueses. Dizia-se que com a liberação do mercado a concorrência iria fazer baixar os preços. Todavia não foi isso que aconteceu, nunca é. O que aconteceu é que no meio dos preços altíssimos há quem faça o preço ligeiramente mais baixo, o que é diferente. Se nos lembrarmos que já pagamos a gasolina e gasóleo dos mais altos da Europa ficamos sem perceber estes aumentos. Deveria haver uma intervenção do Estado neste processo de formação dos preços. A treta da livre regulamentação do mercado não é mais que isso, uma treta. Infelizmente o Estado só intervém pela via dos impostos e é só para encarecer os preços.
A primeira tranche de vie sobre o Maio 1968, já lá canta, no Daloja.blogspot.com
Relata a Anarquia e o marxismo. O Vermelho e o Negro de Stendhal, repescado pela ideologia sem Deus, nem Pátria.
O mais curioso é ler aqora, coisas escritas em 1968, em França. Por cá, o respeitinho impunha um silêncio trágico que teve consequências funestas.
Continua.
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