14 junho 2008

Estes dias que passam 113


De vez em quando
uma pessoa sente-se divertida

Comecemos por esses dois belos países que, desde sempre, são alvo da minha preferência viajeira: a França e a Itália. Estão à rasca no Europeu de futebol! Com um ligeiro toque, por exemplo uma derrota da Holanda (já apurada) frente á Roménia e ala que se faz tarde: para casa sem honra nem glória. Convenhamos que ambas as equipas merecem o castigo. Aquilo não é futebol, é apenas uma tristeza...

Continuemos pela façanha irlandesa: toma lá que já bebes! Não ao tratado dito de Lisboa. Com um toque especial: parece que o senhor Primeiro Ministro de Portugal teria dito que isso lhe acabava a carreira política. Será verdade? Boa piada. EStes irlandeses são uns marotos: souberam disso e pimba!, aí vai lenha!

Continuando no mesmo tema: a recusa dos irlandeses tem muito a ver com as confusões do Tratado, com a sua linguagem que repele os leitores, com o truque do recurso aos parlamentos, solução que só se tornou evidente depois dos azares passados. Pessoalmente sempre entendi que é ao parlamento que incumbem estas tarefas mas, também pessoalmente, repugna-me que políticos populistas que se abaixam até se lhes ver o dito cujo diante da populaça (disse populaça, e repito) agora tenham feito marcha atrás com medo da voz dos .

Parece que há uns cavalheiros que dizem já que a recusa irlandesa pode ser ultrapassada! Como? Ouvi bem? Então quando anteontem massacravam os ouvidos dos irlandeses com a inexistência de um plano B também era mentira?

Acabou o lock-out dos pequenos transportadores. Disse lock-out e repito: mesmo quando se fala de camionistas, as mais das vezes estamos perante um trabalhador proprietário do seu veículo. São eles aliás quem se sente mais apertado. Dependem quase absolutamente das variações dos preços do combustível e, desde há muito, que o mercado lhes era desfavorável. Os opinantes opinaram: Pacheco Pereira, antigo marxista, ou algo parecido, fala em movimentos disruptivos, para cascar na acção sindical. Ou seja. Pacheco vem, agora, dizer que a cólera dos pequenos patrões é horrível. Pois é. No século XIX foram estes produtores que forneceram boa parte das hostes anarquistas. E das mais violentas. Com uma pequena diferença: nunca os anarquistas (o este tipo de anarquistas obtiveram ganho de causa. A sua independência, o seu escasso número, o seu medo da proletarização e o seu horror a associar-se aos operários industriais, ditou a sua sorte.
Júdice (José Miguel, ex-militante da extrema direita coimbrã (erros de juventude, claro) vem pasmosamente falar de proto-fascismo. Eu, pessoalmente (é a 3ª vez que uso este advérbio de modo!) não contesto a experiência de Júdice em questão de fascismos (de que só fui vítima involuntária, e voluntária quando pude): só que não é verdade. Estes produtores não estão à espera de um tirano de pata no ar, a uivar nacionalismos serôdios e corporativismos anormais. Estão arruinados! Comprimidos entre as grandes empresas que aproveitaram os pequenos como tropa de choque e homens de mão, e os preços do petróleo que não vão baixar, bem pelo contrario.

A crise não é conjuntural, senhoras minhas, é estrutural. Há dias, duas semanas, mais ou menos, o “La Republica” publicava com grande destaque um texto de Guido Rossi (“Così il supercapitalismo uccide la democrazia”) parte do prefácio ao livro de Robert B. Reich: “Supercapitalismo. Como muda a economia global e os riscos para a democracia”. Reich foi um dos principais governantes sob Clinton e é conselheiro de Obama. E parte deste simples facto: o poder económico na América e nos restantes países deslizou dos cidadãos para os consumidores e e para os investidores pelo que os aspectos democráticos do capitalismo declinaram. E por aí fora.

Não sei se isto é demasiada areia para a camioneta dos comentadores encartados mas é a opinião de alguém que se arrisca a voltar ao poder. De facto, segundo uma mega sondagem mundial, Barak Obama é o favorito de 70% dos europeus, africanos e asiáticos! Claro que estes não votam, mas isto diz muito do que se desde há tempos aqui se vinha dizendo sobre o impacto desse afro-americano, ligeiramente out-sider que desafiou a Senadora Clinton.

Voltando aos camionistas e á perversa política do abandono dos transportes ferroviários. Em Espanha sabe-se que os pequenos camionistas (agrupados na FENADISMER) são exactamente cerca de 16 a 18% (e metade do que facturam vai direitinha para o combustível). E em Portugal, quantos são? O cavalheiro do “jamé” poderia fazer o obséquio de nos informar. Ou o seu chefe. Ou alguém, diabos nos levem!
Vamos lá a ver: a crise dos altos preços dos combustíveis veio acompanhada de uma retracção no mercado. Há menos fretes. Por haver menos fretes, os fretadores pedem preços mais baixos porque sabem que se o primeiro camionista abordado recusa há outro mais enrascado que aceita. Este é, sempre foi, o drama dos pequenos patrões-trabalhadores. Não são fascistas, nem proto- são homens acossados.

Em Espanha, outra vez (Villa! Maravilla, quatro golazos!!!) sob o governo de um socialista, não houve contemplações para os piquetes de lock-out. Em Portugal foi o que se viu! Há quem diz que correu tudo bem, que o governo não cedeu, etc... É uma opinião. Só que a “fragilidade” do Estado está à vista e a sua pública confissão poderá dar ideias a alguém. Faltou, logo no início uma palavra: a legalidade tem de ser preservada. Não o foi e há vítimas: os pequenos e médios agricultores que perderam os produtos frescos e perecíveis, leite por exemplo. Quem é que os indemniza? Porque aqui o Estado falhou: esta gente tem o direito de escoar a sua produção e dois ou três dias de leite perdido pode significar o prejuízo de um inteiro mês.
Mas terminemos com um ou dois sinais positivos:
O FCP tem mais uma chance de ir à Champions. Juridicamente terá razão, como já a o disse. Eticamente a coisa fia mais fino. Muito mais fino...
A crise dos combustíveis e as longas bichas junto aos postos de abastecimento nunca existiu: basta lembrar os longuíssimos cortejos automóveis que encheram as ruas depois do segundo jogo da selecção portuguesa. Tout va bien quand finit bien!

E um reparo: eu sou da Naval 1º de Maio, o que já deve ser grave.E não sou nacionalista desportivo, o que é pior. Não gosto do senhor Scolari pela beatice e pela violência que ostentou. Todavia, não tenho a menor dúvida que a ele se deve uma boa talhada dos êxitos da selecção nacional. E que sem ele as coisas poderão ser menos boas. Bastante menos boas. E parece que os cavalheiros do Chelsea são da minha opinião. Aquela gente não joga a feijões, amigas e amigos. Não jogam a feijões...

* a fotografia foi pilhada por aí num blog simpático. "brigadinho..."



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