06 junho 2008

missanga a pataco 54


De cabeça perdida

Cabeça é um modo de falar, a menos que apenas que me queira referir a uma das três antigas partes do corpo.
Mas comecemos por explicar: há no PS uma curiosa criatura, de seu nome José Lello e que é desde sempre um dos mais inúteis ornamentos daquele partido. Este cavalheiro tornou-se vagamente conhecido por, in illo tempore, ser um dos fervorosos adeptos do dr Jaime Gama, era mesmo uma espécie de cabo eleitoral do actual Presidente do Parlamento, ainda me recordo de o ver cerimonioso e serviçal a comboiar Gama numa reunião almoçante de uma coisa que se chamou “esquerda liberal” e onde estive. Fora isso, o homenzinho tornou-se conhecido porque durante um par de Natais oferecia um livro a uns políticos e o título do livrinho pretendia ser uma brincadeira com o alvo da generosidade lelliana. A coisa era mais ou menos inócua, se bem que oferecer livros assim me pareça no mínimo boçal mas gostos são gostos, e os livros são sempre úteis para equilibrar o pé cambo de uma mesa...
Fora isso, o deputado Lello terá sido vagamente secretario de Estado, coisa de que só por pecado de memória forte me lembro porquanto da sua patriótica actividade não resta qualquer fulgor.
Ora bem, foi esta criatura quem, num jornal, entendeu acusar Manuel Alegre de “parasitar o grupo parlamentar” numa reunião ocorrida nos Açores, aproveitando o poeta para lançar um livro ou seja teria viajado às custas do partido para fins eminentemente particulares.
A história é obviamente outra: Alegre lançou nos Açores um livro, encomendado pelo Governo Regional que lhe pagou as deslocações. Ao saber que ele lá estava, o presidente do grupo parlamentar, Alberto Martins convidou a Alegre para a mesa de honra das jornadas e Alegre aceitou. Este uma hora, hora e meia e depois foi ao que vinha.
Isto mesmo foi explicado por Alegre à lelliana criatura. Apanhada em falta total de veracidade, esta retorquiu que, se Alegre fora pago pelos Açores, então parasitara a reunião dos deputados. Isto mesmo depois de saber perfeitamente que Alegre fora convidado a vir até à reunião. E convidado a sentar-se na mesa principal pelo presidente do grupo parlamentar. E que quando finalmente abandonara a reunião e o jantar levara consigo vários membros da direcção parlamentar que quiseram associar-se ao lançamento do livro.
É gente deste teor que inça desde há tempos imemoriais os corredores do poder. Nada os predestinava a isso, excepto a alta ideia que têm de si próprios e a marginal utilidade que o Partido lhes reconhece para tarefas como esta que se relata aqui e que se pode ler mais desenvolvidamente na edição de sexta- feira do Público a pp 10.
Mas perguntar-se-á: a que vem este súbito acicate do ofertador de livros? Pois à falta de argumentos políticos. Incapaz de atacar Alegre politicamente, por segura falta de ideologia e competência, eis que arranja esta historieta de viagens pagas que o não são, de aproveitamento que não existiu, de “atitude muito diferente da postura ética com que (Alegre) gosta de se apresentar”.
E mesmo quando os desmentidos chovem em catadupa, desde os elementos dos Açores, até aos deputados e ao próprio Alegre, eis que Lello suicidariamente persiste virando o bico ao prego, como também se pode ler quer no Público quer junto da Lusa.
Voltemos, porém, um pouco atrás: este benfeitor do comercio livreiro por grosso tornou-se como disse, conhecido, enfim brevíssimamente conhecido, pela tal listinha de livros que oferecia ao um ramalhudo leque de personalidades. E como é que o público babado de admiração sabia disto? Pois, pelos jornais. E quem é que mandava a lista dos livrecos e dos beneficiados para os jornais?
Ele há gente que precisa de ser famoso de qualquer maneira. De todo o modo antes assim do que à maneira de Eróstato...
As consequências do incêndio é que são sempre as mesmas...

* O templo de Artémis em Éfeso.

1 comentário:

JSC disse...
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