24 julho 2008

missanga a pataco 58


As leitoras (e os raros leitores, também) sabem que não gosto de falar de Direito. À uma porque nem sempre o Direito que por aí se usa o é. Depois porque há neste blog gente muito mais preparada para o efeito (Kamikaze, Simas Santos) e muito mais capaz do que eu. E finalmente porque não creio que os problemas que afligem a pátria madrasta se resolvam a golpe de lei, decreto, regulamento & assimilados. Temos leis a mais, confusas e mal feitas algumas, ministros da Justiça que ainda sabem menos do que eu, deputados “peritos” em leis que metem os pés pelas mãos e são culpados de algumas aberrações recentes, para não falar nos muitos profissionais do Direito que “vêem o argueiro no olho do vizinho mas esquecem a tranca no próprio” (se é assim o brocardo...). A Justiça está doente, é provável. Mas são tantos os médicos à sua cabeceira que duvido que ela escape ao arraial de mezinhas que se propõem.
Vem tudo isto a propósito do recurso que umas senhoras procuradoras apresentaram no caso apito dourado. Um juiz entendeu que a senhora Carolina Salgado mentira quanto a um telefonema de que se dizia testemunha. E mandou extrair certidões. E ilibou o senhor Pinto da Costa. Segundo os autos a senhora Carolina estava em Gaia na altura do alegado telefonema feito por Pinto da Costa no Porto. Ora a Sr.ª Procuradora entende que das duas, uma: ou PC contou o telefonema à testemunha Carolina, ou esta conseguiu vir de Gaia ao centro do Porto num ápice ouvindo assim o telefonema. Eu tenho o maior respeito pela Sr.ª Procuradora mas permito-me lembrar que vir de Gaia num pulinho até ao centro do Porto (e resta ainda determinar que centro) é milagre de Fátima desses de tornar Carolina beata ainda mais depressa que Santo António de Lisboa (ou Pádua para as leitoras italianas, se é que as há). Depois, acreditar que Pinto da Costa, galo velho, e com esporões, contaria à amásia os seus telefonemas é forçar uma história. Nos autos, que saiba, nunca Carolina, perdão a senhora Carolina, afirmou que o telefonema lhe fora contado. Ao que se sabe, ela disse que o ouvira em primeira mão ou primeira orelha. Ou seja, a senhora Carolina nunca disse que lhe tinham contado aquela treta.
Mas há esta obsessão por Pinto da Costa a mendigar favores arbitrais depois de ter um campeonato no papo. É caso para se dizer que o diabo do homem pode ser pinto mas é burro. Então, mesmo sem precisar de favores, vai arejar uns tostões só por amor à arte? Para que precisava ele de comprar um árbitro, num jogo que não só já era a feijões mas que sobretudo parecia fácil para o FCP? A Senhora Procuradora terá pensado nisto, na lógica disto, no estranho que é acreditar piamente (na beata Carolina) numa criatura que anda à porra e à maça com Pinto da Costa, e não acreditar no homem, na evidência futebolística e geográfica?
A justiça, desculparão as Senhoras Procuradoras (e aqui o plural vai por via da Drª Maria José Morgado que terá conseguido "descodificar" o telefonema sempre com a ajuda inestimável da Senhora Carolina) não terá mais em que se entreter? Não conviria andar para a frente, por exemplo: investigar outros telefonemas de outros dirigentes para outras personalidades a pedir um árbitrozinho? Ao que parece não faltam casos. E confessados publicamente alto e bom som pelos seus (ir)responsáveis. Será que por não serem do Porto os autores, a corrupção já não é crime? Eu, por mim, estou por tudo desde que as excelentíssimas autoridades assim mo cominem.
Um amigo meu sugeriu-me que pôr em causa a palavra da senhora Carolina é prova de exacerbado machismo. Retorqui se não seria feminismo aceitá-la apesar das incongruências. O meu amigo, sábio e matreiro, mandou-me ler Simone de Beauvoir e declarou que no actual momento histórico o politicamente correcto é aceitar como bom tudo o que for contra o FCP e como mau tudo o que prejudicar outro qualquer clube português.
Sendo um navalista (da Associação Naval 1º de Maio) antigo e exclusivo e detestando por igual os chamados três grandes (enfim o grande e os dois crescidinhos) perguntei se não se poderia mandar o clube da minha terra para a Champions em vez destes já que, assim como assim, tanto vale estar a vinte e tal pontos do primeiro como a trinta ou quarenta. O meu amigo, portista dos quatro costados ameaçou: se persistes nesse mau caminho peço ao Santana Lopes para voltar para a Figueira.
Perante esta ameaça definitiva e crudelíssima, retiro tudo o que se disse acima, entregando-me de baraço no pescoço à piedade indesmentida das Senhoras Procuradoras a quem desde já beijo a fímbria do vestido ou das calças consoante apareçam vestidas. E arrenego do juiz que pôs em causa as declarações da senhora Carolina. Para trás, Satanás!

Vai esta para o meu querido camarada JCP, portista fervoroso, que anda arredado destas lides. Ó homem apareça e diga coisas. Olhe, explique este imbroglio às leitorinhas, V que sabe tudo destes futebóis. Um abraço

5 comentários:

Luís disse...

Marcelo, um abraço de uma camioneta de leitoras e deste raro leitor

jcp (José Carlos Pereira) disse...

Caro MCR, concordo consigo, que aliás demonstra saber mais de futebóis do que gosta de admitir. Reservo as minhas análises ao apito dourado para os finalmentes (daqui a uns bons, se calhar). É tudo tão mauzinho que até custa opinar sobre estes apitos...

jcp (José Carlos Pereira) disse...

A uns bons anos, queria dizer.

Boas férias.

M.C.R. disse...

viva JCP! e apareça na Galiza, homem, que alguma coisa se há-de poder petiscar...
Leitor Luís: obrigadinho, mas tu quem és? É que Luíses conheço não uma camioneta (nem tanto!) mads um largo par deles. E as leitoras podem até mandar beijinhos...

Luís disse...

Marcelo, tens de clicar para saber. Topas?