Olá cambada
(reflexões sobre a política, as amizades, as facilidades, e nós)
As leitoras (e o leitor Zé M. a quem esta vai dedicada) lembrar-se-ão de um cómico televisivo que começava o seu programa com esta expressão de fino recorte literário e televisivo: “olá cambada”. E depois prosseguia num sketch nem sempre brilhante, antes pelo contrario, dando voz a um comentador desportivo espertalhão, bebedolas e fanático do FCP.
Ao ler no jornal os resultados do último conclave do CDS lembrei-me do personagem em questão não porque pense que o dr. Portas seja engraçado (não é!), seja bêbado (não me consta), adepto do FCP (idem aspas) ou sequer que trate os seus camaradas por “cambada”.
Não trata, mas podia, dado o que li. Por um lado, o dr. Portas bate (levemente) no peito, confessa que foi imprudente e basta. Entende que a carta do seu vice-presidente era não uma demissão do cargo mas apenas um estado de alma, uma emoção, algo passageiro que o tempo, sempre o tempo esses “implacável escultor”, resolveria. E assim evitar-se-ia que razões espúrias afastassem as multidões nacionais e as massas partidárias do verdadeiro objectivo: a glória esplendente e eterna do CDS.
Por outro lado, o conselho nacional (uma boa centena de criaturas!...) não só entendeu perfeitamente as excelentes razões do dr. Portas em sonegar uma informação (finalmente) não essencial: a saída do dr. Nobre Guedes. Houve mesmo um conselheiro que produziu esta pérola: toda a gente sabia do divórcio amigável do dr. Guedes. Era um segredo gritado pelos cantos, por todos os cantos. Só um homenzinho do Porto é que, por surdez viciosa, desconhecia esta verdade elementar.
Houve mesmo uma criatura (Pires de Lima creio que se chama) que entendeu que as culpas, todas ou grande parte, deveriam assacar-se ao silente Guedes. Em resumo, parece que o dr. Pires acha que Guedes, ausente há um ano do moribundo CDS deveria insuflar-lhe o respiro da vida dizendo que a carta escrita a Portas era só um rascunho, um bilhete a falar do futebol e dumas sardinhas demasiado assadas. No meio dessa missiva vagamente gastro-desportiva, Guedes, incomodado por uma azia de pimentos (os pimentos são traiçoeiros...) deixava entre-linhas uma menção ao seu afastamento: vou ali e já volto, vou dar uma volta ao bilhar grande, vou num pé e venho noutro, adeus até ao meu regresso, os políticos conservadores são como os velhos jogadores de golf, não morreram nem desistiram estão só à procura de uma bola que se perdeu... Não se sabe exactamente a expressão usada mas é de certo uma destas ou outra semelhante.
Ora bem: comentemos esta historieta tão portuguesa, tão pão e vinho sobre a mesa, como dizia o fadinho da nossa conformada tristeza que nem por ser cantado pela Amália deixava de ser uma merda. Isto, esta vaga confusão, num partido com representação parlamentar, deixa um sabor amargo na boca. Pessoalmente, pouco me importa o CDS e menos ainda Portas. A personagem é medíocre, já não impressiona, repete truques e esgares mas (e neste “mas” vai um mundo...) detém um partido (mesmo pequeno e em perda) alguns mandatos parlamentares (poucos) e significa para alguns cidadãos a Política, a política com P grande. E isso é um pecado. Os cidadãos votantes têm o direito de saber como funciona o partido a que deram a sua confiança. E os restantes cidadãos têm o direito de querer que no seu país (este) a política se faça com alguma normalidade e elevação.
Um ano, um inteiro ano, de silêncio sobre uma demissão da segunda figura de um partido, mesmo que anunciada por carta particular a um amigo, por acaso o presidente, merecia outro tratamento. Primeiro, ser conhecida por muito que isso prejudicasse o partido. Prejudica mais agora o silêncio do que a verdade há uma ano. Segundo, mereceria uma clara assunção das responsabilidades e não esta série frouxa de explicações e desculpas. Terceiro, mereceria uma verdadeira critica e não este voto maciço (100 a favor e 4 abstenções) que parece premiar a actuação de Portas e dizer para fora, para nós que “no pasa nada” como na imortal Casa de Bernarda Alba: mas aí, mesmo se Bernarda urra que “no pasa nada”, passaram-se demasiadas coisas como eventualmente saberáo.
E é por isto, pelo silêncio e pela sua absolvição quase unânime, que me veio à memória o cumprimento do cómico: olá cambada!
Só não sei quem é o alvo desse elegante apodo: se o conselho nacional da unanimidade se os portugueses em geral que esperavam saber o que de facto aconteceu. E pelos vistos não aconteceu nada. Não se passou nada!
(reflexões sobre a política, as amizades, as facilidades, e nós)
As leitoras (e o leitor Zé M. a quem esta vai dedicada) lembrar-se-ão de um cómico televisivo que começava o seu programa com esta expressão de fino recorte literário e televisivo: “olá cambada”. E depois prosseguia num sketch nem sempre brilhante, antes pelo contrario, dando voz a um comentador desportivo espertalhão, bebedolas e fanático do FCP.
Ao ler no jornal os resultados do último conclave do CDS lembrei-me do personagem em questão não porque pense que o dr. Portas seja engraçado (não é!), seja bêbado (não me consta), adepto do FCP (idem aspas) ou sequer que trate os seus camaradas por “cambada”.
Não trata, mas podia, dado o que li. Por um lado, o dr. Portas bate (levemente) no peito, confessa que foi imprudente e basta. Entende que a carta do seu vice-presidente era não uma demissão do cargo mas apenas um estado de alma, uma emoção, algo passageiro que o tempo, sempre o tempo esses “implacável escultor”, resolveria. E assim evitar-se-ia que razões espúrias afastassem as multidões nacionais e as massas partidárias do verdadeiro objectivo: a glória esplendente e eterna do CDS.
Por outro lado, o conselho nacional (uma boa centena de criaturas!...) não só entendeu perfeitamente as excelentes razões do dr. Portas em sonegar uma informação (finalmente) não essencial: a saída do dr. Nobre Guedes. Houve mesmo um conselheiro que produziu esta pérola: toda a gente sabia do divórcio amigável do dr. Guedes. Era um segredo gritado pelos cantos, por todos os cantos. Só um homenzinho do Porto é que, por surdez viciosa, desconhecia esta verdade elementar.
Houve mesmo uma criatura (Pires de Lima creio que se chama) que entendeu que as culpas, todas ou grande parte, deveriam assacar-se ao silente Guedes. Em resumo, parece que o dr. Pires acha que Guedes, ausente há um ano do moribundo CDS deveria insuflar-lhe o respiro da vida dizendo que a carta escrita a Portas era só um rascunho, um bilhete a falar do futebol e dumas sardinhas demasiado assadas. No meio dessa missiva vagamente gastro-desportiva, Guedes, incomodado por uma azia de pimentos (os pimentos são traiçoeiros...) deixava entre-linhas uma menção ao seu afastamento: vou ali e já volto, vou dar uma volta ao bilhar grande, vou num pé e venho noutro, adeus até ao meu regresso, os políticos conservadores são como os velhos jogadores de golf, não morreram nem desistiram estão só à procura de uma bola que se perdeu... Não se sabe exactamente a expressão usada mas é de certo uma destas ou outra semelhante.
Ora bem: comentemos esta historieta tão portuguesa, tão pão e vinho sobre a mesa, como dizia o fadinho da nossa conformada tristeza que nem por ser cantado pela Amália deixava de ser uma merda. Isto, esta vaga confusão, num partido com representação parlamentar, deixa um sabor amargo na boca. Pessoalmente, pouco me importa o CDS e menos ainda Portas. A personagem é medíocre, já não impressiona, repete truques e esgares mas (e neste “mas” vai um mundo...) detém um partido (mesmo pequeno e em perda) alguns mandatos parlamentares (poucos) e significa para alguns cidadãos a Política, a política com P grande. E isso é um pecado. Os cidadãos votantes têm o direito de saber como funciona o partido a que deram a sua confiança. E os restantes cidadãos têm o direito de querer que no seu país (este) a política se faça com alguma normalidade e elevação.
Um ano, um inteiro ano, de silêncio sobre uma demissão da segunda figura de um partido, mesmo que anunciada por carta particular a um amigo, por acaso o presidente, merecia outro tratamento. Primeiro, ser conhecida por muito que isso prejudicasse o partido. Prejudica mais agora o silêncio do que a verdade há uma ano. Segundo, mereceria uma clara assunção das responsabilidades e não esta série frouxa de explicações e desculpas. Terceiro, mereceria uma verdadeira critica e não este voto maciço (100 a favor e 4 abstenções) que parece premiar a actuação de Portas e dizer para fora, para nós que “no pasa nada” como na imortal Casa de Bernarda Alba: mas aí, mesmo se Bernarda urra que “no pasa nada”, passaram-se demasiadas coisas como eventualmente saberáo.
E é por isto, pelo silêncio e pela sua absolvição quase unânime, que me veio à memória o cumprimento do cómico: olá cambada!
Só não sei quem é o alvo desse elegante apodo: se o conselho nacional da unanimidade se os portugueses em geral que esperavam saber o que de facto aconteceu. E pelos vistos não aconteceu nada. Não se passou nada!
2 comentários:
Mcr, a sua forma de comentar este “pequeno problema” que se passou no CDS, ou seja, quase nada, é um mimo. Seguramente a carta de Nobre Guedes falava das sardinhas porque isto tudo não passa duma peixeirada.
Um abraço
Para além das leitoras, eu sou leitor atento destas crónicas de mal-dizer edulcorado em frases bem feitas e achados semióticos.
Sobre Portas, escrevo também o que me parece:
Houve um momento, na altura de saída do jornal Independente, em que me pareceu surgir como uma personalidade política com algo de novo a acrescentar ao estafado figurino da AR. Os cacos velhos que já lá estavam, ganharam musgo e agora já enraizaram ervas daninhas de autismo e irrelevância intelectual. Das telhas novas que entraram para substituir os beirais, algumas são de plástico e nem sequer de boa qualidade.
Portanto, Portas, para mim, mostrava alguma novidade de intervenção política, por aparecer de um quadrante menos quadrado e mais esquinado, por saber falar em público, ter um discurso articulado e escrita aperfeiçoada.
Mas foi sol de pouca dura, nesta esperança vã.
Portas, ao longo dos anos, revelou-se um logro, um embuste intelectual e um farsante perigoso em algumas matérias.
Acabou tambem por revelar uma faceta pouco recomendável: o político Portas, não se importa de praticar o que o jornalista Portas vituperava de modo veemente e em escrita moralmente acutilante, no jornal que dirigiu. Portas, nesse aspecto revelou-se um excelente hipócrita, como convém a qualquer político ambicioso.
Que resta deste Portas político? uma ou outra ideia fixa que assenta na noção de exigência de maior Segurança a cargo do Estado e uma preocupação social-democrata com certos desvalidos ou esquecidos, como os retornados.
Nada que mereça grande atenção política.
Portas não tem arcaboiço de líder respeitável, principalmente. A letra de portas não condiz com a careta, a não ser no ar fake da mesma.
Portas tem apenas um destino pela frente: voltar ao jornalismo, recuperando o cinismo que lhe permitiu alcançar o poder, cuja carruagem não passará outra vez às suas portas.
Desta vez, como raposa velha, servir-lhe-á apenas para influenciar políticas e derrubar figuras que ele entende bem: corruptos, principalmente em lugares de direcção.
E se conseguir voltar a esse posto de observação privilegiada, já terá novamente a minha atenção. Porque esse papel, é imprescindível na sociedade portuguesa e não neste momento ninguém que o faça.
Enviar um comentário